A lixiviação de potássio no solo é um problema que pode fazer com que o manejo desse nutriente na lavoura seja menos eficaz. Mas, como o agricultor pode reduzir a ocorrência desse fenômeno? Confira três dicas para diminuir a lixiviação de potássio no solo e otimizar a adubação potássica!
Por que o potássio possui maior risco de perdas por lixiviação?
O potássio é um nutriente que, devido às suas propriedades químicas e à sua dinâmica no solo, tem uma mobilidade vertical maior.
Mas, além dessa característica natural do potássio, a interferência humana nos processos agrícolas, com a adição de fertilizantes para aumentar o nível desse nutriente no solo, também pode aumentar e acelerar o processo de lixiviação.
É o que escreve o pesquisador Paulo Roberto Ernani, juntamente com outros pesquisadores, no estudo Mobilidade vertical de cátions influenciada pelo método de aplicação de cloreto de potássio em solos com carga variável.
O pesquisador Bernardo Van Raij faz uma constatação similar em seu livro Fertilidade do solo e manejo dos nutrientes.
Nesse trabalho, Raij ressalta que sais de potássio de alta solubilidade, como o Cloreto de Potássio (KCl), conferem à solução do solo altos teores de potássio fazendo com que o nutriente fique mais suscetível à lixiviação.
Vale lembrar que o Cloreto de Potássio é um dos fertilizantes potássicos mais utilizados na agricultura e, além do potássio, é composto por uma grande quantidade de cloro: aproximadamente 47% desse elemento.
O Cloreto de Potássio (KCl) é composto por aproximadamente 47% de cloro
Acontece que o potássio é um nutriente catiônico (K+), o que faz com que seja necessário que eles estejam na companhia de ânions solúveis, como o cloro (Cl–) e o nitrato (NO3-), para ser lixiviado.
Outro fator que pode interferir na ocorrência da lixiviação do potássio é a textura do solo. Isso foi estudado por Rodrigo Werle e outros pesquisadores no artigo Lixiviação de potássio em função da textura e da disponibilidade do nutriente no solo.
Eles constataram que em solos de textura média, ou seja, mais arenosa que os argilosos, a intensidade da lixiviação foi maior. Isso mesmo com quantidades menores de K2O aplicadas.
Nos solos mais argilosos, Rodrigo Werle e seus colegas verificaram que a lixiviação tende a ser menor, o que significa que eles têm maior capacidade de reter o potássio. De acordo com os pesquisadores, isso pode ser explicado pela maior CTC (capacidade de troca catiônica) dos solos mais argilosos.
Intensidade da lixiviação de potássio em diferentes tipos de solo (Fonte: Werle et al., 2008)
Já outros parâmetros como a acidez do solo também devem ser observados na hora de pensar no manejo do potássio.
Isso em razão de o potássio ser um dos cátions com maior taxa de lixiviação em solos mais ácidos, segundo explica Bernardo Van Raij, no seu artigo Propriedades eletroquímicas de solos.
Nesse trabalho, ele nota que em solos com acidez mais elevada a lixiviação de cátions segue a ordem: K+ > Mg2+ > Ca2+ > Al3+.
Diante disso, como o agricultor pode melhorar as práticas de adubação para reduzir a lixiviação de potássio no solo?
1. Utilizar fontes de liberação gradual
Como já mencionado, as fontes de potássio de alta solubilidade são mais suscetíveis à lixiviação, tanto devido ao excesso de nutrientes que elas podem disponibilizar para o solo quanto por suas características físico-químicas.
Diante disso, uma alternativa para reduzir a lixiviação de potássio no manejo agrícola é a utilização das fontes de potássio de liberação gradual.
Como o próprio nome indica, essas fontes são aquelas que têm uma disponibilização do nutriente para o solo e para as plantas ao longo de um período maior de tempo. Tal característica pode ter origens diferentes.
Em alguns casos, ela é resultado de tecnologias de revestimento da matéria-prima principal do fertilizante. Já em outros, ela vem das propriedades físico-químicas da própria matéria-prima em si.
Como elas disponibilizam o nutriente ao longo de um período de tempo maior, evita-se que haja um excesso de potássio no solo que eventualmente poderá se perder para a lixiviação. Além disso, muitas dessas fontes não têm uma alta solubilidade em água, que é um fator que aumenta a possibilidade de lixiviação de potássio.
Durante muito tempo, o uso das fontes de potássio de liberação gradual não era considerado uma opção viável na agricultura.
Isso porque acreditava-se que as únicas fontes desse nutriente que as plantas utilizavam vinham dos “reservatórios” de disponibilidade mais imediata: a solução e a fração trocável do solo.
Todavia, com o avanço das pesquisas e estudos na área, estudos têm mostrado que as plantas podem de fato utilizar o potássio de outros reservatórios do solo também.
São trabalhos como o de Michael J. Bell e outros pesquisadores, autores do capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.
Uma imagem que ajuda a compreender como as plantas conseguem utilizar o potássio não-trocável é imaginar que os reservatórios de potássio do solo são caixas d’água contendo o nutriente e que estão interligadas.
Devido à dinâmica do nutriente no sistema solo-planta, quando o potássio dos reservatórios de disponibilidade mais rápida vai sendo retirado pelas plantas e se esgotando, os outros reservatórios vão “repondo” esse potássio.
Com essa nova compreensão, Michael J. Bell e seus colegas ressaltam a necessidade de expandir a compreensão do potássio no solo, bem como de utilizar o método de análise adequado para cada situação.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: Adaptado de Bell et al., 2021)
Essa nova visão do ciclo do potássio do solo ajuda a ter uma melhor compreensão dos impactos positivos do uso das fontes de potássio de liberação gradual no manejo agrícola, como a sua menor suscetibilidade à lixiviação.
2. Melhorar a CTC do solo
A CTC do solo é um parâmetro que tem influência direta na taxa de lixiviação de nutrientes. Isso porque esse parâmetro está ligado à quantidade de cargas negativas presentes no solo.
Assim, elementos que tem uma carga positiva, a exemplo do potássio, conseguem permanecer adsorvidos com mais facilidade em solos com uma boa CTC, diminuindo a possibilidade de lixiviação.
Dessa maneira, garantir que o solo tenha uma boa CTC também é uma boa medida para reduzir a lixiviação de potássio e otimizar o manejo desse nutriente.
Esquema mostra a atração de cargas que acontece no solo.
Nesse sentido, o uso de técnicas que promovam o incremento do teor de matéria orgânica do solo é muito importante.
É o caso, por exemplo, da compostagem. Essa técnica incorpora o uso de materiais de origem orgânica no manejo, que são transformados pela ação dos microrganismos do solo.
Entre os seus benefícios, a compostagem promove o aumento da CTC. Isso acontece porque, de maneira geral, são as partículas orgânicas que compõem a maioria das cargas negativas presentes no solo.
Além disso, o agricultor pode otimizar ainda mais os benefícios da compostagem ao utilizar, por exemplo, fertilizantes livres de cloro e que ajudem a promover a saúde da microbiota do solo.
A compostagem pode beneficiar muito o manejo do potássio, especialmente se realizada de maneira adequada
Assim, os benefícios da compostagem para a adubação potássica são otimizados e potencializados.
3. Utilizar boas técnicas de manejo e correção do solo
Como a lixiviação é um resultado do carreamento dos nutrientes para as camadas mais profundas do solo, muitas vezes devido ao excesso de água, os cuidados com a irrigação também são importantes para evitar a ocorrência desse fenômeno.
Assim, é importante estar atento para fatores como a quantidade de água utilizada e a época de aplicação do potássio.
Além disso, o uso de fontes de potássio que otimizem a retenção de água e nutrientes do solo, como aquelas que são feitas com matérias-primas ricas em glauconita, por exemplo, pode ajudar nesse sentido.
Outra prática que é importante para evitar a lixiviação de potássio é a correção da acidez do solo. Em geral, isso se faz através da aplicação do calcário, uma prática conhecida como calagem.
Todavia que o agricultor esteja atento à forma como realizar a calagem, já que ela é feita de maneiras diferentes, dependendo de fatores como o sistema de plantio.
No cultivo convencional o calcário será aplicado e incorporado no solo em profundidades de até 20cm. Já em sistemas de plantio direto será distribuído em superfície, com preferência para utilização do calcário filler.
Além disso, o agricultor deve evitar a prática da super calagem, ou seja, a aplicação de calcário acima dos níveis recomendados. Ela pode acontecer tanto pela má distribuição do calcário no solo quanto pelo dimensionamento desse insumo.
Portanto, para gerar benefícios para a lavoura e ajudar a reduzir a lixiviação de potássio, a calagem deve ser executada dentro das recomendações e especificações técnicas.
É possível reduzir a lixiviação de potássio do solo com um bom manejo agrícola
Em resumo, a lixiviação de potássio no solo é um fenômeno que pode acontecer em decorrência tanto das características físico-químicas desse nutriente quanto das práticas utilizadas no manejo agrícola.
Por isso, é essencial que o agricultor planeje a adubação potássica tendo em mente boas práticas para reduzir a ocorrência da lixiviação.
São práticas como a boa escolha dos fertilizantes, como aqueles de liberação gradual e livres de cloro, e também uso de técnicas como a compostagem e atenção aos cuidados na hora da irrigação e da correção do solo. Assim, é possível reduzir a lixiviação de potássio e tornar o manejo desse nutriente mais eficiente!