Assim como outros nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, o potássio tem as suas próprias características e seu próprio ciclo no solo. A compreensão disso é importante para melhorar a adubação potássica das lavouras. Saiba mais sobre o ciclo do potássio no solo e entenda a relevância de boas práticas agrícolas para melhorar o manejo desse nutriente!
A relevância do potássio para as plantas
Antes de falar sobre o ciclo do potássio no solo, é preciso entender por que ele é tão relevante para as plantas. Acontece que ele é um macronutriente primário e, em geral, é o segundo nutriente mais requerido pelas plantas, ficando atrás apenas do nitrogênio.
Dentre as diversas funções do potássio no ciclo de crescimento e no desenvolvimento das plantas, podemos destacar:
- A ativação de enzimas;
- A síntese proteica;
- O crescimento celular;
- A amenização dos estresses abióticos, como secas e geadas e também bióticos, que incluem pragas e doenças.
O potássio desempenha diversas funções nas plantas.
Então, como funciona exatamente o ciclo do potássio no solo?
Como funciona o ciclo do potássio?
Dentro do contexto agrícola, o ciclo de um nutriente geralmente se refere à sua dinâmica no solo e à interação com a planta, formando o que é chamado de sistema solo-planta. No caso do potássio, existem três grandes “grupos” envolvidos nesse ciclo:
- As entradas de potássio, que englobam as formas de adição do nutriente no solo, como por exemplo os fertilizantes e a matéria-orgânica;
- O potássio presente nas próprias plantas;
- O potássio do solo;
- As saídas de potássio, que são as formas com que o nutriente deixa de estar presente no solo, como por exemplo através da exportação pelas plantas e pela lixiviação.
Em relação ao potássio no solo, durante muito tempo houve uma compreensão mais limitada a um modelo que representava alguns poucos grandes “reservatórios” de potássio no solo.
Esses “reservatórios” são agrupamentos que consideram a velocidade e disponibilidade do nutriente para plantas, localização e movimentação dentro do sistema de produção. Entre eles, podemos citar:
- O potássio disponível na solução do solo;
- O potássio adsorvido na superfície das partículas do solo, denominado K-Trocável;
- O potássio integrante da rede cristalina dos minerais do solo, denominado K-Não Trocável;
- O potássio fortemente retido entre as unidades cristalográficas dos minerais, denominado K-Fixado.
Em geral, na hora de pensar na nutrição agrícola, dá-se privilégio a alguns desses reservatórios, enquanto os outros são erroneamente considerados menos importantes.
Por exemplo, o potássio disponível na solução do solo, na forma do íon K+, é geralmente mais valorizado. Já o potássio não-trocável, de disponibilização mais lenta, não costuma ser levado em consideração na hora de pensar o manejo.
Todavia, segundo Sylvie M. Brouder e outros pesquisadores, tais modelos, acompanhados de terminologias inconsistentes, acabam dificultando a compreensão da dinâmica do potássio no solo.
Além disso, o seu uso como base para conduções de pesquisas sobre recomendações agronômicas para as lavouras também é um fator limitante.
Isso é ressaltado no capítulo The Potassium Cycle and Its Relationship to Recommendation Development, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.
Para lidar com essa limitação, os pesquisadores propuseram a ampliação do modelo convencional de representação da dinâmica do potássio no solo.
Nesse novo modelo, o ciclo do potássio no solo apresenta 10 “reservatórios” ou “pools” de potássio no sistema solo-planta. E entre eles são estabelecidos diferentes fluxos de circulação do potássio.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo (Fonte: adaptado de Bell et al., 2021)
Esses “reservatórios” de potássio também se agrupam levando em conta a velocidade da disponibilidade para plantas, a localização e a movimentação do nutriente dentro do sistema de produção. Mas, como funciona essa dinâmica?
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo
Levando em consideração o diagrama do ciclo do potássio no solo, o primeiro grande grupo é composto pelas entradas de potássio no sistema, representados em azul escuro.
Como já mencionadas, essas entradas correspondem às formas pelas quais o potássio é adicionado no sistema, seja através de fertilizantes ou outras fontes de potássio. Após a entrada no sistema de cultivo, o potássio pode ter três destinos principais:
- Estar dentro dos tecidos das plantas, representado em azul claro;
- Ser mantido no solo; representado em amarelo claro;
- Ser retirado do sistema de produção, representado em laranja.
Quando o potássio se encontra dentro dos tecidos vegetais das culturas, ele pode se acumular nos diversos órgãos das plantas (grupo número 6).
Graças ao seu comportamento dentro das plantas, o potássio tem a vantagem de ser um nutriente com facilidade de ser retornado à solução do solo.
Isso acontece porque ele não é metabolizado dentro das plantas, formando apenas complexos fracos e que podem ser facilmente rompidos.
Assim, ele pode retornar à solução do solo através da exposição da matéria orgânica à água ou pelo processo de perda de seiva das plantas, conhecido como exsudação.
Taxa de liberação de potássio de diferentes resíduos vegetais de soja (esquerda) e milho (direita) ao longo do tempo. (Fonte: Oltmans e Mallarino, 2015)
Já a solução do solo, representada pelo número 8, compõe a principal fonte de potássio disponível para absorção das plantas. Esse “reservatório” é abastecido constantemente pelos outros “reservatórios” de potássio do solo, representados pelos números de 9 a 13.
A solução do solo também está sujeita a sofrer perdas de nutrientes. Isso pode acontecer na região superficial do solo ou em camadas mais profundas do solo.
Essas perdas de potássio no solo se dão pelos processos de escoamento subterrâneo e erosão, representados pelo número 4; e também de lixiviação, representado pelo número 5.
Além disso, existem outros meios de perda de potássio do sistema solo-planta, que estão associadas às próprias plantas:
- É o caso da exportação direta de produtos agrícolas, representado pelo número 2;
- E o carreamento de cinzas e fuligens de resíduos vegetais queimados, reunidos no número 3.
O potássio ainda pode ficar retido no sistema de produção. Nesse caso, ele transita entre as suas mais diversas formas dependendo do tipo de relação que estabelece com as partículas do solo.
Dentre essas formas do potássio retido no sistema solo-planta, pode-se destacar dois extremos quanto à facilidade de biodisponibilização dos nutrientes para as plantas:
- O potássio adsorvido na superfície das partículas do solo, representado pelo número 9;
- E o potássio que está incluso como componente estrutural de minerais; representado pelo número 12.
Depois do potássio na solução do solo, o potássio que se encontra adsorvido na superfície das partículas do solo é considerado o “reservatório” do solo mais disponível para as plantas.
Isso porque, nesse caso, os nutrientes se encontram apenas associados a outros componentes que possuem carga negativa no solo, como a matéria orgânica.
Já quando o potássio se encontra incluso como componente estrutural de minerais, principalmente de feldspatos e feldspatoides, a sua disponibilização para as plantas é mais demorada.
Isso porque, nesses casos, o nutriente só é liberado quando a superfície do material é exposta e dissolvida pela ação de diferentes fatores do agroecossistema, como a ação das raízes das plantas e dos microrganismos do solo.
Entretanto, existem pesquisas que apontam que esse potássio também é importante para a nutrição das plantas e precisa ser também considerado na hora de avaliar e pensar o manejo do solo.
Assim, a compreensão do ciclo do potássio como um todo ajuda o agricultor a melhorar o manejo agrícola e otimizar a adubação potássica.
A compreensão do ciclo do potássio no solo e a aplicação de práticas agrícolas ajudam a otimizar o manejo
Em síntese, o ciclo do potássio no solo acontece em diferentes etapas e pode ser entendido de várias formas. O avanço das pesquisas na área tem mostrado a relevância dos “reservatórios” de potássio que antes eram considerados menos importantes.
Para maximizar essa relevância, é essencial a aplicação de práticas agrícolas que promovam a melhoria da qualidade do solo, do vigor vegetativo das raízes das plantas e dos microrganismos.
Dessa maneira, a dinâmica do potássio no solo é otimizada, através de escolhas de fertilizantes mais assertivas, por exemplo. Isso melhora a eficiência da adubação e evita o aparecimento de sintomas de deficiência de potássio!