O potássio faz parte do grupo dos macronutrientes primários na agricultura, juntamente com o nitrogênio e o fósforo. Isso quer dizer que ele é requerido em maiores quantidades no ciclo de vida das plantas, sendo essencial para o seu desenvolvimento adequado. Isso não é diferente para a cultura do algodão. Entenda os cinco principais sintomas de deficiência de potássio no algodão e como preveni-los.
Por que o potássio é importante na cultura do algodão?
O potássio é um nutriente muito requerido pelas plantas devido à sua participação em uma série funções essenciais para o desenvolvimento e produtividade das culturas. Entre elas, podemos citar:
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica;
- Fotossíntese;
- Transporte de fotoassimilados no floema;
- Crescimento celular;
- Regulação do potencial hídrico das células;
- Melhoria da qualidade de flores e frutos;
- Amenização de estresses bióticos e abióticos.
Quando não há o fornecimento adequado de potássio no manejo agrícola, as plantas manifestam sintomas relacionados à deficiência desse nutriente.
Isso vale também para a cultura do algodão, principalmente tendo em vista que o potássio é o segundo nutriente mais requerido pelo algodão, como afirmam os renomados pesquisadores Eurípedes Malavolta e J.R. Sarruge, juntamente com outros estudiosos, no artigo Estudo sobre a alimentação mineral do algodoeiro.
Mas, então, quais são os principais sintomas de deficiência de potássio no algodão?
1. Clorose e necrose das folhas
Um dos sintomas mais visíveis da deficiência de potássio no algodão é a clorose, ou amarelamento, das folhas. Ela costuma aparecer primeiro nas folhas mais velhas, já que o potássio é um nutriente que tem uma alta mobilidade nos tecidos vegetais.
Assim, quando há baixos teores de potássio no solo, a planta remaneja o nutriente das folhas mais velhas para as folhas mais novas.
Com o tempo a clorose pode evoluir para uma necrose. Com o passar do ciclo de desenvolvimento do algodoeiro, esses sintomas podem atingir também as folhas de idades intermediárias da planta.
Já quando a deficiência de potássio se manifesta após a floração, as folhas da área superior da planta apresentam um escurecimento, com eventuais surgimentos de pontos arroxeados nas margens, tornando-se frágeis e quebradiças.
Evolução dos sintomas de deficiência de potássio nas folhas do algodão (Fonte: Embrapa, 2003)
2. Maturação prematura dos frutos
Uma das consequências da deficiência de potássio prolongada no algodoeiro é o encurtamento do ciclo das plantas.
Nelson Machado Silva e outros pesquisadores explicam, no artigo Seja o doutor do seu algodoeiro, que esse encurtamento do ciclo produtivo leva a uma maturação de frutos muito antecipada.
Dessa forma, sem tempo para se desenvolver adequadamente, há uma queda tanto na produtividade quanto na qualidade da lavoura.
3. Queda na qualidade
Além da maturação no tempo inadequado, a queda na qualidade do algodão em cenários de deficiência de potássio está relacionada a outros fatores.
Como uma das funções do potássio nas plantas é o transporte fotoassimilados das folhas para outras partes da planta, além da ativação enzimática, a deficiência desse nutriente no algodoeiro tem um impacto no desenvolvimento das fibras do algodão.
Maria da Conceição Santana Carvalho e outros pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no comunicado técnico Sugestão de Adubação Potássica do Algodoeiro para o Estado de Goiás – com Base em Resultados de Pesquisa observam que doses adequadas de potássio proporcionam uma melhor deposição de celulose nas paredes internas das fibras.
Como consequência, o índice micronaire (MIC) melhora quando há potássio suficiente na adubação do algodão. Esse parâmetro mostra a medida do diâmetro da fibra e é indicador da resistência de uma determinada massa de fibras a um fluxo de ar. Logo um índice MIC melhor mostra fibras maiores e com mais resistência e qualidade.
Assim, um manejo nutricional pobre em potássio faz com que essas características tenham impactos negativos.
4. Queda na produtividade
Com menos fibras de qualidade sendo produzidas, a produtividade da lavoura de algodão com deficiência de potássio já sofre um impacto negativo.
Entretanto, Luiz Alberto Staut e Manoel Luiz Ferreira Athayde, no estudo Efeitos do Fósforo e Potássio no rendimento e em características agronômicas do algodoeiro herbáceo, notam que o potássio influencia significativamente o rendimento do algodão em caroço, assim como diâmetro médio e o peso dos capulhos.
Assim, quando há falta de potássio no manejo nutricional, esses parâmetros que se relacionam com a produtividade da lavoura de algodão acabam sendo prejudicados.
O potássio tem influência na produtividade e na qualidade do algodão (Fonte: Francisco et al., 2011)
5. Menor resistência a estresses abióticos
Fenômenos como a seca e a geada são conhecidos como estresses abióticos e o potássio está envolvido em funções que ajudam a planta a lidar de maneira mais adequada com eles.
Por exemplo, o potássio auxilia na regulação do potencial hídrico, regulando o processo de abertura e fechamento dos estômatos. Tais estruturas são responsáveis pelas trocas gasosas entre as plantas e a atmosfera, estando ligados também à perda de água através da transpiração.
Quando há deficiência de potássio, o processo de regulação de perda de água fica prejudicado. Assim, em lavouras que crescem em condições de falta desse nutriente, o algodoeiro acaba apresentando menor capacidade de lidar com condições de seca.
Já a geada é um fenômeno ligado a baixas temperaturas e pode ser muito prejudicial para as plantas, incluindo o algodão.
Pedro Maranha Peche, Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), ao participar do Encontro com Gigantes, explicou como o potássio ajuda a reduzir a temperatura mínima a partir da qual os danos da geada às plantas são muito severos, também conhecida como temperatura letal:
“Enquanto o cálcio e o boro são fundamentais para manter a membrana das células firmes e elásticas, o potássio, de forma geral, é como um lubrificante da planta. O potássio auxilia na movimentação de compostos e fotoassimilados, o que proporciona uma alta concentração de açúcares na planta e que reduz ainda mais a temperatura letal.”
Assim, a deficiência de potássio pode fazer com que o algodoeiro seja mais suscetível aos danos causados pelas geadas.
Diante da importância do potássio para a qualidade e produtividade do algodão, como melhorar a adubação e prevenir os sintomas de deficiência de potássio dessa cultura?
Como melhorar a adubação e prevenir os sintomas de deficiência de potássio do algodão?
Antes de tudo, uma adubação potássica de sucesso na cultura do algodão exige um planejamento adequado do manejo.
O primeiro passo para isso é o conhecimento das necessidades da cultura e das características do solo. A partir de técnicas como a análise de solo, o agricultor pode conhecer as características e necessidades nutricionais do solo, o que auxilia a preparar melhor o manejo.
As análises foliares também são instrumentos importantes para verificar se o manejo do potássio está surtindo bons efeitos.
Em entrevista ao portal da Embrapa, Ana Luiza Borin, pesquisadora da Embrapa Algodão chama a atenção para a importância do acompanhamento tanto da construção da fertilidade do solo quanto da manutenção dessa fertilidade, que devem ser orientadas por agrônomos e levar em conta as respostas oferecidas pelas análises de solo e foliar.
Além disso, Ana Luiza Borin também ressalta que o uso de sistemas de cultivo, a introdução de culturas de cobertura e o uso de variedades mais eficientes e produtivas também ajudam a potencializar a adubação do algodão.
A escolha de fertilizantes adequados é também muito importante. Fontes de potássio de liberação gradual e que tenham um efeito residual de longa duração ajudam nesse sentido, já que fazem com que o solo mantenha os níveis de fertilidade adequados por mais tempo.
O manejo adequado do potássio é a chave para o sucesso da lavoura
Em resumo, é preciso que o produtor de algodão esteja atento ao manejo do potássio, uma vez que a deficiência desse nutriente pode impactar seriamente a produtividade e a qualidade da lavoura.
Para isso, o manejo precisa ser feito de forma adequada, com práticas que tornem a adubação potássica mais eficiente, estando atento ao uso de fertilizantes que potencializem os benefícios que o potássio traz para o algodão!