Produzir alimentos de qualidade, sem prejudicar o produtor e ao mesmo tempo conservando a fauna, a flora e a biodiversidade. Esse é um dos maiores desafios do agronegócio hoje, já que a falta de incentivos e a imagem distorcida do papel do produtor rural na conservação ambiental são grandes empecilhos.
Para discutir sobre essas questões, o Dr. Leandro Silveira, cofundador e presidente do Instituto Onça-Pintada (IOP) e Rogério Vian, fundador e presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), participaram do evento “Encontro com Gigantes – O desafio de produzir, conservar e alimentar em larga escala com qualidade”, promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes Silício Forte® e K Forte® , no dia 27 de maio de 2020.
Você pode conferir a conversa, mediada por Cristiano Veloso, na íntegra aqui:
O conflito de diferentes percepções entre a população urbana e a população rural, que lida diariamente com os desafios de manter a produção agropecuária que sustenta a nossa sociedade e a conservação da biodiversidade, é o que gera muitas dificuldades quando se trata desse assunto
O Dr. Leandro Silveira é cofundador e presidente do Instituto Onça-Pintada, ONG que tem um papel pioneiro e significativo na preservação dessa espécie emblemática do Brasil. Leandro conta que, ao longo dos 30 anos da sua luta para a conservação da onça-pintada no Brasil, sua visão da importância do produtor rural na preservação da biodiversidade mudou.
Antes, a opinião de Leandro Silveira era a de que os produtores eram um problema, inimigos da biodiversidade. Com o tempo, ele percebeu que existem muito meandros que os produtores são as pessoas que estão convivendo diariamente com os desafios da conservação ambiental, sofrendo os impactos disso: “Todo mundo quer ter o bônus de ter a onça-pintada, mas o ônus fica com o produtor”, diz Leandro.
Ele explica que somente 7% do território nacional é de áreas de proteção ambiental. 42% pertencem a produtores rurais, e 80% da distribuição populacional da onça-pintada está dentro de áreas de produção rural.
“Se eu for fazer conservação no Brasil, eu dependo do produtor rural, eu não tenho alternativa. Basta eu olhar os números. Isso mostra a importância deles. Infelizmente, a gente viveu as últimas décadas acusando o produtor rural de ser o vilão da história. O produtor rural é o único que consegue desenvolver a sua atividade e ainda conviver com a nossa atividade de conservação”.
Além disso, o Dr. Leandro ressalta que a maior parte dos produtores rurais é de pequenos produtores, que são muito mais afetados quando há ataques de animais silvestres em suas propriedades, já que qualquer perda é significativa e traz grandes prejuízos.
Isso faz com que, muitas vezes, haja a preferência por eliminar completamente o problema, os animais silvestres, do que fazer um manejo mais adequado que os preserve.
Por isso, na avaliação de Dr. Leandro Silveira, é preciso que haja incentivos para que os produtores, em especial os pequenos, façam esse manejo da fauna silvestre. São iniciativas como o Certificado Onça-Pintada dado pelo IOP, que agrega valor para o que é produzido com ações de manejo adequada.
Esse manejo deve primeiro passar pela mudança de perspectiva de que os animais silvestres são uma ameaça e uma praga. Depois, é preciso pensar em estratégias de controle e preservação da fauna silvestre, já que a atividade agrícola geralmente cria condições que resultam em uma superpopulação, que traz prejuízos aos produtores.
Entretanto, os especialistas avaliam que é preciso mais ações, em especial do poder público, como a melhor regulamentação e uso dos dispositivos de Pagamento de Serviços Ambientais (PSA). Esses dispositivos, de modo geral, são formas de compensar os produtores rurais, em especial os menores.
Rogério Vian, fundador e presidente do GAAS, tenta trazer os agricultores para essa discussão, que geralmente é mais focada nos produtores pecuaristas.
Ele fala, por exemplo, dos problemas que a população de queixadas, uma espécie de porco selvagem, traz para sua produção de milho, que acaba sendo inviabilizada pela presença dos animais.
Rogério explica que, como sua produção é orgânica, as queixadas em sua propriedade se sentem atraídas pelo alimento: “Quanto mais você for conservacionista, quanto mais você for sustentável, sem fazer uso de produtos nocivos, mais você vai ter problema com fauna. Porque a fauna quer ficar onde ela está protegida”.
Na avaliação de Rogério, as legislações ambientais no Brasil precisam ser repensadas, de modo a equilibrar melhor a conservação das espécies nativas e a atividade essencial dos produtores rurais, em particular dos produtores de menor porte:
“A legislação é muito punitiva. A fauna, a flora, ela tem que ser tratada regionalmente. A legislação é feita com abrangência nacional, desconsiderando as particularidades regionais”, diz ele.
Parte das ações do GAAS, segundo Rogério Vian, é mobilizar e conscientizar os produtores agrícolas desses desafios: “A gente quer mudar o modelo agrícola atual. Que já é bastante sustentável, mas pode ser muito melhor. É usar a biodiversidade, usar a fauna, usar a flora, a nosso favor. Todo mundo se ajudando, todo mundo dando as mãos, dá pra fazer muito mais”.
Leandro Silveira é biólogo, doutor em Biologia Animal, cofundador e presidente do Instituto Onça-Pintada. A ONG atua na conservação da onça-pintada em todo o Brasil.
A frente do Instituto, Leandro lidera inciativas que incluem programas de monitoramento em longo prazo das populações de onças-pintadas em vida e também suas presas naturais.
Ele também está à frente de programas de manejo para solucionar os conflitos entre a onça-pintada e pecuaristas, com ações pioneiras como a criação do Certificado Onça-Pintada, que certifica empreendimentos rurais que promovam a conservação da onça-pintada. Leandro Silveira tem graduação e mestrado em Biologia pela Universidade Federal de Goiás e doutorado em Biologia Animal pela Universidade de Brasília.
Já Rogério Vian é membro fundador e atual presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS). Agricultor em Mineiros, município de Goiás, Rogério participa de diversas outras entidades de representação classista, como a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Aprosoja Brasil, Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) e Instituto Goiano de Agricultura (IGA).
Rogério Vian é Técnico Agrícola e possui graduação em Engenharia Agronômica pela Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior (FIMES).
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