Segundo a Embrapa, a agricultura vivenciou, especialmente na última década, um retrocesso nos programas de manejo integrado de pragas com o aumento do uso excessivo de inseticidas nas lavouras, trazendo graves consequências econômicas, ecológicas e ambientais. Uma das alternativas para reversão desse cenário tem sido encontrada na inclusão da adubação silicatada no manejo de pragas com grande importância econômica, como as lagartas. Entenda mais sobre a importância do silício no manejo integrado de lagartas!
O que é o manejo integrado de lagartas?
O manejo integrado de lagartas, assim como de outras pragas de grande importância econômica, pode ser definido como um conjunto de medidas que tem por objetivo manter as pragas abaixo de um ponto definido como nível de dano econômico (NDE).
Nesse ponto, o prejuízo causado pela densidade populacional das lagartas começa a ser igual ou superior ao custo do controle, o que justifica a adoção das medidas que compõem o manejo integrado de pragas (MIP).
Dependendo da cultura e da espécie a ser monitorada, o NDE pode apresentar variações. Na cultura da soja por exemplo, o nível de dano econômico da lagarta Helicoverpa armigera varia de acordo com o estágio da cultura em que ocorre a infestação, dependendo da capacidade de dano.
No artigo Damage assessment of Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) in soybean reproductive stages, Regis F.Stacke e outros pesquisadores destacam que no estágio R2 da cultura da soja, o NDE varia de 0,43 a 2,16 lagartas/m², enquanto estágio R5.1, o NDE varia de 0,31 a 1,57 lagartas/m².
Por isso, a correta identificação da praga, a amostragem e a definição dos níveis de controle da praga estão entre os alicerces do manejo integrado de pragas para ajudar o agricultor na tomada de decisão e escolha das melhores estratégias para o controle de pragas, como é o caso das lagartas.
Na década de 90, a implementação do MIP proporcionou uma redução de 50% no uso de inseticidas nas lavouras, sem quebra no rendimento de grãos das culturas. É o que relata Décio Luiz Gazzoni no estudo Manejo de pragas da soja: uma abordagem historica.
Componentes de um programa de manejo integrado de pragas. (Fonte: Adaptado de GALLO et al., 2002)
Nota-se que o MIP se torna realmente efetivo quando se adotam um conjunto de medidas de controle. No Brasil, a falta de uma condução adequada do manejo integrado de lagartas, levou a consequências como:
- Ressurgências das pragas principais;
- Erupção de pragas secundárias, como a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens);
- Disseminação de pragas quarentenárias, como a lagarta Helicoverpa armigera;
- Inutilização de importantes tecnologias, como a perda da eficácia da proteína (Cry1F), presente no milho Bt, em razão da quebra da resistência pela lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda).
Uma das medidas de controle que tem ganhado destaque dentro do manejo integrado de lagartas é a aplicação de silício, que tem demonstrado tanto benefícios diretos como indiretos.
A importância da inclusão do silício no manejo integrado de pragas
Dentro de um programa de manejo integrado de pragas, o uso de silício pode ser muito benéfico. Isso porque seus benefícios de proteção e controle podem se estender durante todo o ciclo da cultura, quando a adubação silicatada é feita de forma adequada.
A longa duração dos efeitos benéficos do silício é muito importante, especialmente para o controle de lagartas, uma vez que os problemas vão desde danos nas fases iniciais de germinação das plantas, às fases mais avançadas de desenvolvimento da cultura, que podem ter suas folhas, flores e até mesmo vagens atacadas.
Quando o silício é aplicado e absorvido na forma de ácido monossilícico (H4SiO4), ele proporciona a melhoria da resistência induzida das culturas e a manifestação de diversos benefícios, com destaque para melhoria da resistência da lavoura a pragas.
O uso de silício para o manejo integrado de lagartas desfolhadoras pode ser muito benéfico.
Essa maior resistência induzida é uma consequência direta da capacidade do silício em criar ou favorecer modificações celulares, fisiológicas e morfológicas que induzem respostas de defesa nas plantas.
A primeira delas é pela deposição e formação de uma dupla camada de sílica abaixo da cutícula dos tecidos vegetais de culturas acumuladoras de silício, como o arroz, cana e milho.
Com isso, a dupla camada de sílica funciona como uma espécie de “barreira física” que danifica o aparelho bucal das lagartas e diminui ou atrasa a velocidade dos danos, deixando as pragas mais expostas a atuação de inimigos naturais e outros agentes de controle.
No artigo Effect of silicon application on corn plants upon the biological development of the fall armyworm Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), Marcio M. Goussain e outros pesquisadores constataram que a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) apresentou acentuado desgaste na região incisora das mandíbulas quando alimentada com folhas de plantas de milho adubadas com silício.
O resultado desse desgaste se refletiu numa maior dificuldade de alimentação da lagarta, que levou ao aumento da mortalidade e canibalismo nas condições do estudo, favorecendo o controle da praga.
Mandíbulas de lagartas de Eldana saccharina alimentadas com plantas de cana tratadas (direita) e não tratadas (esquerda) com silício. (Fonte: KEVDARAS, 2011)
Como o silício se acumula principalmente nas áreas de máxima transpiração, ele também vai proporcionar o aumento da produção de tricomas. Esses pequenos pelos que ficam na superfície da planta, tornam a planta menos palatável e dificulta a digestão das lagartas.
Mas, a indução de respostas de defesa nas culturas com baixa capacidade de acumular silício também é eficiente? Sim, nesse caso as respostas não estão tão relacionadas com a criação dessa “barreira física” e sim com a produção de respostas bioquímicas nas plantas.
No artigo Silicon-augmented resistance of plants to herbivorous insects: a review, Olivia Reynolds e demais pesquisadores destacaram que o silício pode induzir a resistência da planta, provavelmente, por meio de diferentes voláteis e/ou pela quantidade de voláteis produzidos pela planta atacada, que são responsáveis pela atração de inimigos naturais.
Esses resultados revelam que o silício pode se tornar um importante aliado do controle biológico de lagartas, que já tem o uso de fungos entomopatogênicos, como o fungo causador da doença branca nos insetos (Nomuraea rileyi) muito consolidado.
Assim, a adubação silicatada adequada tem se mostrado como um caminho para manter a sanidade e produtividade das lavouras.
A adubação silicatada como recurso para promover a sanidade e produtividade das lavouras
É importante ressaltar que o uso de fertilizantes ricos em silício não se limita ao manejo integrado de lagartas.
Os seus benefícios também englobam aspectos relacionados à melhoria da produtividade das culturas, redução da intensidade de doenças e outras pragas de importância agrícola e até mesmo a redução dos efeitos dos estresses abióticos, como o estresse hídrico.
Com isso, o agricultor que investir na adubação silicatada, também estará investindo na sanidade e produtividade da sua lavoura!