Principais Doenças Dos Citros: Conheça Quais São Elas!

Principais doenças dos citros: conheça quais são elas!

Você sabia que os citros podem ser afetados por diferentes tipos de fitopatógenos e cada um deles podem causar uma ou mais doenças nas plantas? Conheça quais são as principais doenças dos citros e como é feito o manejo delas nos pomares.

Os sintomas das principais doenças dos citros e como manejá-las

Anualmente, as doenças dos citros são responsáveis por comprometer parte significativa da produção dessa cultura no Brasil, reduzindo a qualidade dos frutos e ainda limitando os parceiros comerciais para negociação dos produtos.

Por isso, o conhecimento dos agentes causais, das formas de transmissão e dos sintomas das principais doenças dos citros tem se tornado um fator essencial para manter a sustentabilidade e a posição de destaque do país na citricultura mundial.

De forma geral, as doenças dos citros podem ser agrupadas em 4 diferentes grupos, dependendo do seu agente causal. São eles:

1. As doenças dos citros causadas por vírus e viróides

Um dos primeiros grupos de doenças dos citros consiste naquelas causadas por vírus e viróides.

Esses dois pequenos agentes patogênicos geralmente infectam as plantas quando existe a combinação de plantas saudáveis e doentes em um mesmo talhão e muitas vezes dependem de um vetor para serem disseminados dentro dos pomares

Esse é o caso do Citrus tristeza virus (CTV) e do Citrus leprosis virus (CiLV), agentes causais da tristeza dos citros e da leprose dos citros, respectivamente.

Ambos são considerados agentes causais endêmicos de algumas regiões citrícolas do Brasil e dependem de determinadas espécies de vetores para serem disseminados e começarem o seu processo infeccioso.

No caso da tristeza dos citros, os vetores mais importantes da doença são representados pelos afídeos, especialmente de espécies cujo controle ainda não é muito eficiente no país, como o pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida Kirkaldy). Vale notar que essa doença também é transmitida via material propagativo infectado.

Já no caso da leprose dos citros, os principais vetores da doença fazem parte do grupo dos ácaros, sendo o ácaro-da-leprose (Brevipalpus phoenicis) o principal representante desse grupo.

Tanto o pulgão-preto-dos-citros quanto o ácaro-da-leprose são considerados espécies polífagas, ou seja, que apresentam uma ampla gama de hospedeiros nos pomares. Característica essa que dificulta o manejo dessas pragas e o controle das doenças dos citros.

Além disso, outra característica das doenças virais dos citros que também dificulta o seu controle é a capacidade de mutação dos vírus, o que garante a eles uma grande variabilidade genética que dificulta o desenvolvimento de medidas de controle eficazes para a leprose e a tristeza dos citros.

Mesmo assim, atualmente, uma das principais estratégias para o controle dessas doenças consiste no emprego de combinações de copa e porta enxerto tolerantes aos vírus, associadas a programas de pré-imunização das plantas com estirpes fracas dos vírus.

No caso da tristeza dos citros, por exemplo, grande parte do sucesso obtido com o controle dessa doença viral nos pomares derivou da substituição do porta-enxerto de laranjeira ‘Azeda’ por outros tolerantes ou por pés-francos provenientes de embriões nucelares.

Outra medida de controle muito importante das doenças virais dos citros é o controle dos próprios vetores das doenças. Medida essa que tem bem mais relevância no caso do controle da leprose dos citros.

Para isso, o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) recomenda:

  • A aquisição de mudas sadias livres de ácaros e de vírus;
  • A poda de limpeza dos ramos afetados durante o inverno;
  • A erradicação das plantas quando as lesões atingem toda a copa;
  • A desinfestação de materiais de colheita para evitar a introdução do ácaro em áreas livres;
  • A utilização de quebra-ventos para reduzir a entrada e disseminação do ácaro;
  • A colheita prioritária de talhões sem o ácaro e a doença antes dos talhões com histórico de contaminação;
  • A colheita antecipada e retirada de todos os frutos da planta na ocasião da colheita, sem deixar frutos remanescentes;
  • A retirada de frutos temporões ou com sintomas ou caídos no solo;
  • O controle da verrugose e do ataque do minador dos citros, uma vez que as lesões servem de abrigo ao ácaro;
  • A eliminação de plantas daninhas hospedeiras;
  • O controle químico com acaricidas, considerando o nível de infestação do pomar.

Para realizar o monitoramento dos vetores nos pomares o citricultor pode, além de fazer a avaliação da presença dos vetores nas plantas, observar a presença de alguns sintomas característicos das doenças nas plantas.

Normalmente, plantas afetadas pela tristeza dos citros vão apresentar um amarelecimento intenso e redução dos tamanhos das folhas, frutos pequenos e endurecidos, plantas com nanismo e rachaduras cavadas nos ramos.

Já no caso da leprose dos citros, pode ser observada a redução da vida útil das plantas, a queda precoce dos frutos, a presença de lesões salientes nos ramos, folhas e frutos, a seca e morte dos ramos e manchas amareladas e deprimidas com centro necrótico em folhas e frutos.

2. As doenças dos citros causadas por bactérias

Outro grupo de doenças dos citros que apresentam uma grande relevância econômica para a citricultura brasileira são as doenças causadas por bactérias.

As doenças dos citros causadas por bactérias, assim como aquelas causadas por vírus e viróides,  muitas vezes dependem de vetores para serem disseminadas nas lavouras.

É o que acontece no caso do greening, também conhecido como Huanglonbing (HLB), uma doença causada pela bactéria Candidatus liberibacter que depende dos psilídeos para ser transmitido, especialmente da espécie Diaphorina citri.

O mesmo acontece com a Clorose Variegada dos Citros (CVC), também conhecida como “amarelinho”, uma doença causada pela bactéria Xylella fastidiosa que é transmitida principalmente através das cigarrinhas da família Cicadellidae.

Outra forma de transmissão muito comum das doenças dos citros causadas por bactérias é através de aberturas naturais nos tecidos das plantas, como os estômatos, ou por ferimentos provocados por fatores bióticos ou abióticos, como o ataque de pragas e a ação do vento.

Esse é o caso do cancro cítrico, uma doença causada pela bactéria Xanthomonas citri que afeta praticamente todas as espécies e variedades de citros de importância comercial no país.

Normalmente, para se realizar o controle dessas doenças dos citros nos pomares é preciso inicialmente fazer o monitoramento dos talhões para identificação de possíveis sintomas característicos de cada uma delas.

No caso do greening, por exemplo, as plantas de citros podem apresentar amarelecimento progressivo, folhagens esparsas, mortes dos ponteiros, frutos pequenos mal coloridos e de baixa qualidade.

Por isso, quando identificada a sua ocorrência, o agricultor pode recorrer a eliminação de plantas doentes em pomares novos e ao controle dos psilídeos vetores da doença.

Aqui é importante sempre empregar o uso de material propagativo e mudas sadias na hora da reforma do pomar.

Já no caso do CVC, o amarelecimento da planta se dá de forma localizada nas folhas das plantas, em formas de manchas pequenas amareladas na frente das folhas e de cor palha na parte de trás, associado à redução, ao endurecimento, à queimadura e ao amadurecimento precoce dos frutos.

Entretanto, diferentemente do greening, o controle eficaz da bactéria causadora da doença ainda não foi bem estabelecido. Dessa forma, o manejo da CVC acaba consistindo na integração de estratégias como:

  • A poda de ramos com sintomas iniciais em plantas com mais de dois anos;
  • O controle das cigarrinhas que são vetores da doença;
  • A erradicação de plantas mais novas;
  • A utilização de mudas sadias.

O maneio integrado de pragas é importante para o controle dos vetores de doenças dos citros, como o greening e a CVC

Além disso, complementarmente a todas essas medidas, também é importante que o citricultor sempre faça o controle rigoroso do acesso de pessoas e veículos nos pomares e a desinfecção de equipamentos e máquinas.

Isso porque muitas doenças dos citros de origem bacteriana, como o cancro cítrico, podem levar anos até que cheguem em pomares saudáveis, caso todas as medidas de controle estejam sendo adotadas de forma integrada por toda comunidade local.

3. As doenças dos citros causadas por fungos

Além dos vírus e bactérias, os fungos compreendem um terceiro grupo de agentes patogênicos que causam um prejuízo significativo na produção de alimentos no Brasil e no mundo.

No estudo The Still Underestimated Problem of Fungal Diseases Worldwide, Fausto Almeida e outros pesquisadores apontam que os fungos são responsáveis por destruir anualmente cerca de um terço de culturas agrícolas no mundo todo.

No caso da cultura dos citros, grande parte das perdas pela ação de fungos patogênicos estão associadas tanto a perdas diretas de produtividade e qualidade dos frutos durante o manejo da cultura no campo quanto a perdas na fase de pós-colheita.

Durante a fase de manejo da cultura, as doenças dos citros causadas por fungos mais comuns que ocorrem no Brasil são:

  • A podridão floral, causada por espécies de fungos dos complexos Colletotrichum acutatum e gloeosporioides.
  • A gomose e a podridão radicular dos citros, causada pelos fungos do gênero Phytophthora;
  • A pinta preta, causada pelo fungo Phyllosticta citricarpa (Guignardia citricarpa);
  • A melanose, causada pelo fungo Diaporthe citri (Phomopsis citri).

A maior parte dessas doenças fúngicas chegam até os pomares pela ação de agentes abióticos, como o vento e a chuva, e infectam as plantas através de aberturas naturais dos tecidos ou ferimentos pré-existentes.

Uma vez dentro das plantas, os fungos patogênicos poderão gerar lesões e descolorações nos tecidos das plantas, murcha e queda precoce das folhas e frutos dentre outros sintomas específicos de cada doença.

O maior problema desses sintomas é que eles, muitas vezes, prejudicam a produtividade das plantas, a comercialização dos frutos no mercado in natura interno e externo e ainda podem se manifestar somente após a colheita.

É o que acontece no caso da pinta preta, uma doença fúngica dos citros quarentenária que pode reduzir a produção dos pomares em até 85% dependendo da variedade cultivada. Ela ainda impede a exportação dos frutos de áreas contaminadas para áreas livres da doença no exterior, como é o caso da Europa.

Grande parte das medidas de controle das doenças dos citros de origem fúngica consiste em medidas preventivas, realizado:

  • As práticas de manejo de forma a evitar ferimentos nas plantas;
  • O plantio de mudas sadias em áreas adequadas;
  • O descarte adequado de frutos contaminados;
  • As podas de manutenção e limpeza;
  • A nutrição adequada dos pomares.

Além disso, é possível recorrer ao uso de fungicidas e ao tratamento do solo caso as doenças já estejam presentes nos talhões, respeitando todas as recomendações técnicas indicadas para cada prática.

Também é importante destacar que algumas doenças dos citros causadas por fungos, como o bolor verde (Penicillium digitatum), afetam os frutos na fase de pós-colheita.

Por isso, é muito importante tomar cuidado na manipulação e armazenagem dos frutos, para evitar criar condições propícias para o desenvolvimento dessas doenças.

4. As desordens dos citros não infecciosas

Um último grupo de doenças dos citros que podem acometer a cultura são as desordens não infecciosas ou de origem desconhecida.

Nesse grupo estão inclusas doenças como a Morte Súbita dos Citros (MSC), que apesar de estar restrita as regiões do Triângulo Mineiro em Minas Gerais e Norte de São Paulo, ainda não tem uma causa definida.

Alguns estudos sugerem que a MSC possa ser transmitida por um vetor aéreo e seja causada pelo vírus da tristeza do citros ou pelo vírus Citrus Sudden Death associated virus (CSDaV). Entretanto, nenhuma das duas hipóteses foi comprovada ainda.

Contudo, devido à rápida disseminação dessa doença após a constatação das primeiras árvores com sintomas e a redução de produtividade dos talhões afetados, diversas pesquisas ainda são conduzidas para buscar melhorar a compreensão acerca da morte súbita dos citros.

Pela falta de identificação do seu agente causal, grande parte das medidas de controle da MSC consiste na restrição do trânsito de material propagativo (borbulhas e mudas) para fora das áreas de ocorrência da doença, o plantio de mudas em porta-enxertos tolerantes à MSC e a realização da sub enxertia com porta-enxertos tolerantes em pomares novos.

Também é importante destacar que como alguns sintomas da morte súbita se assemelham a outras doenças dos citros, o citricultor sempre deve estar atento para sempre fazer a sua correta identificação.

A escolha dos métodos de controle de doenças dos citros mais adequados depende da identificação correta do agente causal

Considerando a grande diversidade de doenças que podem afetar a cultura dos citros, podemos perceber que o processo de escolha dos métodos de controle mais adequados depende da identificação correta do agente causal e suas formas de transmissão e infecção das plantas.

Além disso, muitas vezes, muitos fatores de manejo da cultura dos citros também acabam interferindo na dinâmica entre o patógeno e o hospedeiro.

Por isso, a identificação correta das doenças dos citros, aliada ao manejo adequado da cultura com correção do solo, irrigação e aplicação de fertilizantes adequados e eficientes são muito importantes para se obter o sucesso com o programa de manejo integrado de doenças dos citros!

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