A atividade agrícola é bastante complexa, exigindo que o agricultor lide com diversas variáveis que podem interferir nos resultados da produtividade da lavoura. Entre elas, estão os estresses aos quais as plantas estão sujeitas. Mas, o sinergismo entre silício e rizobactérias promotoras do crescimento de plantas pode ajudar o agricultor a reduzir esses estresses e melhorar a produtividade da lavoura!
O sinergismo entre silício e rizobactérias promotoras do crescimento
Os diferentes estresses aos quais as plantas estão sujeitas podem impactar a produtividade das lavouras agrícolas. Todavia, o uso do silício e rizobactérias promotoras do crescimento de plantas têm ações sinérgicas que podem ajudar o agricultor a lidar com isso.
Os estresses agrícolas são condições que impactam o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Dependendo da sua natureza, esses estresses podem ser divididos em:
- Estresses bióticos: aqueles que são provocados por agentes biológicos, como pragas e doenças;
- Estresses abióticos: aqueles provocados por agentes não-biológicos, como luz, temperatura, disponibilidade de água, salinidade, elementos tóxicos, etc.
Mesmo se prevenindo e realizando o manejo com cuidado, muitas vezes o agricultor não consegue evitar todos os fatores que podem provocar estresses nas plantas. É o caso do clima, por exemplo, que está fora do controle do agricultor.
Todavia, existem diferentes estratégias para buscar minimizar os efeitos negativos desses estresses. Entre elas estão o uso do silício, que é um elemento benéfico para as plantas, e das rizobactérias promotoras do crescimento de plantas (RPCP na sigla em português ou PGPR, na sigla em inglês).
Essas duas estratégias em particular têm ações sinérgicas que podem potencializar essa proteção conferida contra os estresses agrícolas.
É o que o pesquisador Hassan Etesami destaca em seu trabalho Can interaction between silicon and plant growth promoting rhizobacteria benefit in alleviating abiotic and biotic stresses in crop plants?
Nesse trabalho, Etesami faz uma revisão bibliográfica dos diversos mecanismos através dos quais o silício e as RPCP agem na fisiologia e no metabolismo das plantas e que promovem a resistência das plantas aos estresses bióticos e abióticos.
Comparação dos diferentes mecanismos através dos quais silício e rizobactérias ajudam a amenizar os estresses agrícolas nas plantas (Fonte: ETESAMI, 2017)
Ele avalia ainda que, embora esses mecanismos se diferenciem dentro do funcionamento biológico das plantas, o uso combinado do silício e das rizobactérias pode ser uma estratégia poderosa e sustentável para otimizar o crescimento vegetal em condições abaixo do ideal.
Outros estudos, como a pesquisa Effect of nanosilica and silicon sources on plant growth promoting rhizobacteria, soil nutrients and maize seed germination também mostram a ação sinérgica entre essas duas estratégias.
Nesse trabalho, Gopalu Karunakaran e outros pesquisadores concluíram que o silício é capaz de promover o aumento populacional de rizobactérias. Em consequência, os benefícios das RPCP nas plantas foram otimizados, trazendo mais produtividade para as lavouras.
Mas, quais são exatamente os benefícios do silício e das rizobactérias para as plantas?
Os benefícios do silício para a agricultura
Entre os elementos que as plantas absorvem do solo, da água e até mesmo do ar, alguns são considerados essenciais para os seus processos de crescimento e desenvolvimento.
Esses são chamados de nutrientes essenciais. Entre eles, podemos citar o potássio, o nitrogênio, o fósforo, o magnésio, o manganês, o boro, entre outros. Já em relação ao silício, ainda existem discussões sobre a sua essencialidade para as plantas.
Todavia, ele é reconhecido pela comunidade científica como um elemento benéfico. Isso quer dizer que ele proporciona benefícios para as plantas que ajudam no seu crescimento de maneira mais saudável e produtiva.
Esses benefícios são principalmente a indução da resistência aos estresses bióticos e abióticos, mas eles podem ser desdobrados em:
- Melhoria da resistência da lavoura a pragas;
- Redução da intensidade de doenças;
- Aumento da tolerância nas plantas aos estresses abióticos;
- Aumento da resistência das culturas aos metais tóxicos;
- Melhoria da produtividade das culturas.
De maneira geral, essa ação benéfica do silício pode ser explicada através de dois tipos de ação: a ação física e a bioquímica.
O Prof. Fabrício de Ávila Rodrigues, juntamente com outros pesquisadores, no artigo Silício: um elemento benéfico e importante para as plantas explica como é a ação física do silício, que é absorvido pelas plantas na forma de ácido monossilícico:
“O ácido monossilícico, depois de absorvido pelas plantas, é depositado principalmente nas paredes das células da epiderme, contribuindo substancialmente para fortalecer a estrutura das plantas e aumentar a resistência ao acamamento e ao ataque de pragas e doenças, além de diminuir a transpiração.”
Outros trabalhos corroboram a afirmação do Dr.. Fabrício e seus colegas. É o caso, por exemplo, da pesquisa Effect of silicon application on corn plants upon the biological development of the fall armyworm Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae).
Nesse trabalho, Marcio M. Goussain e outros pesquisadores constataram que a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) apresentou acentuado desgaste na região incisora das mandíbulas quando alimentada com folhas de plantas de milho adubadas com silício.
Já a ação bioquímica varia de espécie para espécie, com o silício ativando, por exemplo as defesas naturais das plantas contra pragas e doenças, bem como induzindo a resistência aos estresses abióticos.
E as rizobactérias promotoras do crescimento das plantas, o que elas são e como elas beneficiam as plantas?
As rizobactérias e seus benefícios para as plantas
As rizobactérias promotoras do crescimento das plantas, como o próprio nome já diz, são bactérias que, através de uma relação simbiótica com as plantas, ajudam no crescimento e desenvolvido vegetal.
Em geral, esses microrganismos colonizam as raízes das plantas, aproveitando o ambiente da chamada rizosfera para crescer e sobreviver. Em troca, eles ajudam as plantas em diversas coisas, como:
- Disponibilização de macro e micronutrientes;
- Promoção do crescimento vegetal;
- Aumento da tolerância da planta a estresses abióticos;
- Degradação de substâncias contaminantes de recursos ambientais;
- Controle biológico de pragas e doenças;
- Controle da compactação do solo;
- Mitigação dos efeitos das mudanças climáticas através da captura de carbono.
Os mecanismos através dos quais elas proporcionam esses benefícios para as plantas são bastante diversificados.
Entretanto, de maneira geral, as RPCP agem através produção de substâncias como ácidos orgânicos, entre outros, que interagem com as raízes e outros órgãos das plantas para ativar metabolicamente enzimas e outras substâncias que ajudam no desenvolvimento vegetal.
Já em relação às espécies de rizobactérias, existem diversas que têm esse potencial. Todavia, um dos gêneros de rizobactérias promotoras do crescimento mais importantes é o gênero Bacillus.
Dentro desse gênero, o consagrado Bacillus aryabhattai tem um destaque, com suas ações no metabolismo e fisiologia vegetal. Algumas pesquisas inclusive indicam que ele age na expressão de genes promotores do crescimento das plantas.
Mas para que o uso tanto das rizobactérias quanto do silício sejam mais eficazes, o agricultor deve aplicar estratégias no manejo da lavoura.
Como otimizar a sinergia entre silício e rizobactérias?
Em relação ao silício, vale destacar que, embora ele seja um elemento muito abundante na crosta terrestre, nem sempre ele se encontra na forma que as plantas conseguem absorver e utilizar.
Por isso, a adubação com silício é uma prática importante para que o agricultor consiga ter os benefícios desse elemento na sua lavoura.
Essa adubação deve ser feita com fontes adequadas, com granulometria que permita que o silício aja de maneira mais eficiente, por exemplo.
Além disso, o uso de fontes multinutrientes, que contenham o silício em sua composição, pode ser uma boa estratégia, já que otimiza o manejo agrícola.
Já em relação às RPCP, o uso de práticas agrícolas que favoreçam a microbiota do solo é muito importante para que esses microrganismos possam exercer seu papel benéfico.
É o caso, por exemplo, do uso de fertilizantes que sejam livres de cloro. Embora seja um micronutriente importante para as plantas, o cloro pode aumentar parâmetros como a salinidade e a compactação, além de ter um alto poder biocida.
O uso de técnicas como a compostagem também é relevante para melhorar a saúde da microbiota do solo, já que ela melhora os níveis de matéria-orgânica, por exemplo.
O uso combinado de silício e rizobactérias pode ser uma ferramenta importante para melhorar a produtividade agrícola
Em resumo, a sinergia entre silício e rizobactérias promotoras do crescimento de plantas pode ser muito beneficial para as plantas, já que a combinação dos diferentes mecanismos deles ajuda na redução dos estresses que afetam a produtividade agrícola.
Entretanto o agricultor pode tornar essa a sinergia ainda mais eficaz através do uso de boas práticas de manejo.
O uso combinado de silício e rizobactérias, além de práticas adequadas, pode ajudar a mitigar os estresses na agricultura
Assim, o agricultor pode tornar o seu manejo agrícola mais eficiente e a sua lavoura mais produtiva!