O potássio é um dos macronutrientes primários na agricultura, junto com o nitrogênio e o fósforo. Isso significa que ele é essencial para o desenvolvimento das plantas e é requerido em grandes quantidades no ciclo de vida delas, incluindo o café. Veja cinco sintomas de deficiência de potássio no café e como tornar o manejo desse nutriente mais eficiente!
Por que o potássio é importante para o café?
Mesmo tendo uma alta demanda de potássio pelas plantas, o potássio não está ligado à síntese direta de moléculas orgânicas. Então, por que ele é tão requerido? Acontece que o potássio participa de diversas funções essenciais para o desenvolvimento e produtividade das culturas, como:
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica;
- Fotossíntese;
- Transporte de fotoassimilados no floema;
- Crescimento celular;
- Regulação do potencial hídrico das células;
- Melhoria da qualidade de flores e frutos;
- Amenização de estresses bióticos e abióticos.
Diante disso, quando o manejo agrícola não fornece potássio suficiente, aparecem sintomas relacionados à deficiência desse nutriente nas plantas. Isso não é diferente na cultura do café, já que o potássio é o segundo nutriente mais requerido pelo cafeeiro, atrás apenas do nitrogênio.
Quais são, então, os principais sintomas de deficiência de potássio no café?
1. Clorose e necrose das folhas
O potássio é um nutriente que tem uma alta mobilidade nos tecidos vegetais. Por causa disso, quando há baixos teores de potássio no solo em que o cafeeiro é cultivado, a planta acaba redistribuindo o nutriente das folhas mais velhas para as mais novas.
Assim, os sintomas de deficiência de potássio aparecem primeiramente nas folhas mais velhas. Incialmente, eles podem ser percebidos como uma clorose ou amarelamento.
Posteriormente, esses sintomas evoluem para uma necrose nas pontas e margens das folhas. Esse estágio é conhecido como queimada foliar, indicando uma deficiência severa de potássio severa no cafeeiro.
Folhas de café afetadas pela deficiência de potássio (Fonte: EMATER-MG).
2. Queda na qualidade dos frutos
Isso porque uma das funções que o potássio exerce no desenvolvimento do cafeeiro é transportar os carboidratos produzidos nas folhas para os frutos, propiciando assim o enchimento dos grãos.
Assim, quando não é fornecido potássio suficiente durante o ciclo produtivo, os frutos do café apresentam um tamanho reduzido e há um aumento no número de bagas vazias, ou “chochas”. Além disso, os grãos também são afetados, ficando enrugados e pretos.
3. Menos resistência a estresses abióticos
O potássio está relacionado com funções que ajudam a planta a lidar com os chamados estresses abióticos, como a seca e a geada.
No caso da seca, o potássio ajuda na regulação do potencial hídrico, através da regulação do processo de abertura e fechamento dos estômatos. Essas estruturas são responsáveis pelas trocas gasosas entre as plantas e a atmosfera e também estão ligados à perda de água através da transpiração.
Assim, quando há deficiência de potássio, o cafeeiro se torna menos capaz de lidar com condições de seca, uma vez que o processo de regulação de perda de água fica prejudicado.
No outro espectro dos estresses abióticos está a geada. Esse fenômeno é ligado a baixas temperaturas e pode ser muito prejudicial para as plantas, incluindo o café.
Durante sua participação no Encontro com Gigantes, o Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Pedro Maranha Peche, explicou como o potássio ajuda a reduzir a temperatura letal, ou seja, a temperatura mínima a partir da qual os danos da geada às plantas são muito severos:
“Enquanto o cálcio e o boro são fundamentais para manter a membrana das células firmes e elásticas, o potássio, de forma geral, é como um lubrificante da planta. O potássio auxilia na movimentação de compostos e fotoassimilados, o que proporciona uma alta concentração de açúcares na planta e que reduz ainda mais a temperatura letal.”
Nesse sentido, a deficiência de potássio pode fazer com que o cafeeiro seja mais suscetível aos danos causados pelas geadas.
4. Menor produtividade da lavoura
De acordo com o documento Manual do Café – Manejo de Cafezais em Produção, o potássio é o segundo nutriente mais requerido pelo cafeeiro. Ele apresenta grande concentração nos frutos e, em particular, na polpa do café.
Somando as funções do potássio na planta aos sintomas que a deficiência dele causam no cafeeiro, não é difícil concluir que o manejo nutricional que não forneça quantidades suficientes desse nutriente leva a uma produtividade menor na lavoura de café.
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A deficiência de potássio prejudica o desenvolvimento do cafeeiro, reduzindo a produtividade.
5. Menos qualidade da bebida do café
Não só a produtividade do café é prejudicada quando há deficiência de potássio no manejo agrícola. A qualidade da bebida também pode diminuir caso esse nutriente não seja fornecido de maneira adequada.
O potássio, segundo escreve o renomado agrônomo e pesquisador Eurípedes Malavolta no livro Elementos de nutrição mineral de plantas, é considerado como o “elemento da qualidade” na nutrição de plantas.
No café, a ligação entre a qualidade da bebida e o potássio está na função de ativação enzimática que esse nutriente tem, especialmente com a enzima polifenoloxidase (PPO).
Assim, quando há uma deficiência de potássio, a tendência é que a qualidade da bebida seja menor.
Então, como o agricultor pode fazer otimizar a adubação potássica?
Como melhorar a adubação potássica do café e evitar a deficiência do nutriente na lavoura?
Para que a deficiência de potássio não afete a produção e a qualidade do café, não basta apenas aplicar o nutriente na lavoura. É preciso que a adubação potássica seja feita de maneira adequada.
Para isso, é preciso que o manejo de potássio seja planejado cuidadosamente, com atenção a pontos como:
- Conhecimento adequado da lavoura: análises foliares e de solo, consideração do histórico da lavoura, entre outros dados são importantes para entender e trabalhar adequadamente o manejo;
- Aplicação na área adequada: no caso do café, estudos indicam que a adubação é mais efetiva quando os fertilizantes são aplicados mais próximos das raízes;
- Redução dos estresses abióticos: o potássio ajuda a tornar a planta mais resistente a condições de seca e geada, mas tomar atitudes para que esses estresses sejam mitigados, como a incorporação da matéria orgânica no manejo, também ajuda na eficiência da adubação;
- Manejo adequado de plantas espontâneas: o controle de plantas espontâneas que surgem nas entrelinhas do cafezal evita que essas espécies extraiam do solo o potássio que seria utilizado pelo café.
Além disso, a escolha de fertilizantes adequados também é importante. Fontes de potássio com alto teor de cloro, como é o caso do Cloreto de Potássio (KCl), impactam a qualidade da bebida do café.
Isso porque o excesso de cloro prejudica a atividade da polifenoloxidase, como demonstra o Doutor em Ciência do Solo Enilson de Barros Silva, no estudo Qualidade de grãos de café beneficiados em resposta à adubação potássica.
Uma das hipóteses levantadas por pesquisadores da área que explicam essa ação inibitória é de que como a PPO é uma enzima cúprica, o excesso dos íons de cloro leva a precipitação do íon Cl– com o Cu2+, reduzindo a ativação da enzima.
O manejo adequado do potássio é a chave para o sucesso da lavoura
Em resumo, é preciso que o cafeicultor esteja atento ao manejo do potássio, já que a deficiência desse nutriente pode impactar seriamente a produtividade a qualidade da lavoura.
Mas, para isso, o manejo precisa ser feito de forma adequada, com práticas que tornem a adubação potássica mais eficiente e com o uso de fertilizantes que potencializem os benefícios que o potássio traz para o café!
