Pensar no boro durante o planejamento do manejo nutricional é muito importante, uma vez que a deficiência desse elemento pode prejudicar o desenvolvimento e a produtividade da lavoura. Entenda o que é a ulexita e porque ela é uma fonte de boro vantajosa para o agricultor.
O que é a ulexita e qual a importância do boro para as plantas
A ulexita é um mineral da classe dos boratos, sendo mais especificamente um borato hidratado de sódio e cálcio. A sua fórmula química é NaCaB5O6(OH)6.5(H2O) e ela é encontrada em regiões áridas, praias salinas e lagos salinos ressecados.
Como o nome da sua classe sugere, a ulexita tem em sua composição o boro. Esse elemento pertence ao grupo dos micronutrientes, mas não por isso é menos importante no desenvolvimento das plantas. Entre outros, o boro está associado a processos como:
- Formação de novos tecidos;
- Síntese da parede celular;
- Lignificação;
- Garantia da integridade da membrana celular;
- Metabolismo de carboidratos e de hormônios vegetais;
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica.
No estudo Micronutrientes e metais pesados, mitos, mistificação e fatos, o renomado engenheiro agrônomo Eurípedes Malavolta chama a atenção para o fato de que muitas culturas no Brasil são deficientes em boro. Algumas, como o café, tem uma deficiência bastante elevada do nutriente.
Por isso, a inclusão do boro no manejo nutricional agrícola é muito importante. Entretanto, o grande desafio é que, como ele faz parte do grupo dos micronutrientes, geralmente o boro é exigido em quantidades bem menores que nutrientes como o potássio ou o nitrogênio.
A Lei dos Mínimos diz que a produtividade é limitada pelo nutriente que é exigido em menor quantidade pelas plantas, ou seja, todos os nutrientes precisam ser fornecidos nas quantidades adequadas.
Pensando na nutrição com o boro, isso significa que uma lavoura deficiente nesse nutriente não vai alcançar o seu máximo potencial produtivo. Mas, quando em excesso, pode haver efeitos de toxidez do elemento. E como a diferença entre a dose ótima e a dose que causa fitoxidez nas plantas é pequena, equilibrar a adubação com o boro pode ser um pouco mais complicado .
A ulexita, depois de processada, tem potencial para ser utilizada como fertilizante de boro. Mais do que isso, ela tem vantagens sobre outras fontes desse nutriente, como o ácido bórico. Mas, quais são exatamente essas vantagens?
A ulexita é menos sujeita à lixiviação
Uma das vantagens da ulexita como fonte de boro é que ela tem uma liberação gradual dos seus nutrientes. Isso acontece porque o boro presente nela precisa passar por uma reação, que geralmente acontece com a acidez natural do solo, para se transformar na forma que as plantas conseguem absorver.
Isso a ajuda a reduzir um problema que, segundo escreve o pesquisador e autoridade em fertilizantes de micronutrientes, John Jacob Mortvedt, no artigo Needs for controlled availability micronutrient fertilizers, a maioria dos fertilizantes de boro tem: a lixiviação.
A lixiviação acontece quando os nutrientes se movem no perfil do solo, se perdendo para as camadas mais profundas do solo. Ela afeta particularmente fertilizantes que são muito solúveis em água, como é o caso do ácido bórico.
A ulexita tem um teor baixo de solubilidade em água. Enquanto a solubilidade do ácido bórico, por exemplo, fica em torno de 49 g/L (gramas por litro) a 20º C, a da ulexita é de apenas 0,9 g/L a 20º. Isso significa que a ulexita utilizada como fertilizante de boro está menos sujeita à lixiviação.
Comparação de boro acumulado nos lixiviados no Neossolo Quartzarênico Órtico Típico, em função de diferentes fontes aplicadas (Fonte: Rafael Oliveira Silva Romano Correia et. al, 2016)
No artigo Lixiviação e disponibilidade de boro em função de fontes e características de solos, a pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas, Cleide Aparecida de Abre, nota que, quando a lixiviação acontece, mesmo que seja feita a aplicação de fertilizantes, o solo acaba ficando deficiente em boro. Em especial, a pesquisadora nota que isso afeta solos arenosos, que ocorrem em diversas regiões do Brasil.
O uso da ulexita diminui o risco de toxidez por superdosagem do boro
A menor solubilidade e a liberação gradual da ulexita trazem outra vantagem quando ela é usada como adubo na manutenção dos níveis de boro do solo: a diminuição dos riscos de que o nutriente seja disponibilizado de uma única vez , causando deficiência à longo prazo e o risco de toxidez com a superdosagem inicial.
A pesquisadora Isabela Rodrigues Bologna, na dissertação de mestrado Adubação boratada em pomar de laranja pêra rio afetado pela clorose variegada dos citros, destaca que: “A alta disponibilidade [de boro] inicial pode provocar sintomas de toxidez em culturas susceptíveis em estágios iniciais de desenvolvimento.”
Outra consequência que uma disponibilização rápida demais do boro no solo traz é a diminuição do custo-benefício do fertilizante para o agricultor. Isso acontece porque, ao longo do período de desenvolvimento da lavoura, haverá necessidade de reaplicação no caso de sistemas de rotação de culturas e reaplicações mais frequentes nas culturas perenes.
O uso da ulexita como fonte de boro também traz ainda outro benefício, que está associado à sua forma de aplicação. Geralmente, fertilizantes de boro feitos a partir da ulexita são aplicados via solo, o que é uma vantagem, já que nas plantas esse elemento se movimenta das raízes em direção às folhas.
Tenha mais produtividade e qualidade com a ulexita
Em resumo, a ulexita se mostra uma fonte de boro que traz benefícios para as plantas, melhorando a produtividade e a qualidade da lavoura, já que disponibiliza o boro de forma gradual e é menos suscetível à lixiviação.
Isso aumenta o custo-benefício do fertilizante feito a partir da ulexita, já que não há perdas de nutrientes e diminui a necessidade de reaplicações durante o ciclo produtivo. Além disso, há diminuição do risco de haver sintomas de toxidez devido a superdosagens iniciais.