O uso do sistema soja-milho de plantio vem ganhando cada vez mais espaço na agricultura, em razão dos benefícios que ela traz tanto para a produtividade das lavouras quanto para o aproveitamento do solo agrícola. Entenda como deve ser o manejo do potássio no sistema soja-milho de plantio!
As vantagens do sistema soja-milho para a agricultura
A utilização do sistema soja-milho de plantio tem apresentado um impacto muito positivo no cultivo dessas culturas.
Estudos vêm demonstrando como, em comparação com lavouras que utilizam sistemas de monocultivo, o sistema soja-milho pode aumentar a produtividade geral das lavouras e otimizar o manejo.
Um exemplo é o trabalho Contribuição da rotação Milho/Soja na produtividade do milho, de autoria de Fabrício Vendruscolo Pinto Filho e outros pesquisadores.
Nesse trabalho, eles avaliaram a produtividade de 72 duas lavouras no estado do Rio Grande do Sul, nos anos agrícolas 2016/2017 e 2017/2018. Os pesquisadores encontraram as maiores produtividades médias do milho em áreas plantadas em rotação com a soja.
Já segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a expansão do milho de segunda safra, ou milho safrinha, se deve, em parte, ao uso do sistema soja-milho de plantio.
A instituição ressalta ainda que há potencial para essa cultura crescer ainda mais, já que 12 milhões de hectares poderiam ser utilizados nesse sistema de cultivo.
Evolução da área plantada de milho segunda safra por região de cultivo. (Fonte: Conab)
Além de otimizar o uso do solo e o custo-benefício da produção agrícola, já que o agricultor consegue ampliar o rol das culturas produzidas em sua propriedade ao longo do ano, o sistema soja-milho traz benefícios para o solo quando se pensa em adubação potássica.
Isso porque os restos culturais do milho ajudam a repor o potássio do solo para a próxima safra de soja a ser plantada. É o que notam Anderson Lange e outros pesquisadores, no artigo Adubação potássica e seu efeito residual no sistema soja-milho safrinha em mato grosso.
Isso é resultado do chamado efeito residual do potássio no solo. Todavia, o agricultor pode se beneficiar ainda mais disso com as práticas de adubação adequadas para o sistema soja-milho.
As vantagens das fontes de potássio de liberação gradual para o sistema soja-milho
De maneira geral, as fontes mais convencionais utilizadas na adubação potássica são aquelas de liberação imediata.
Como o nome indica, esse tipo de fonte potássica disponibiliza praticamente todo o teor de nutrientes em um curto período após a aplicação na lavoura.
Em algumas situações, como por exemplo quando há uma necessidade de recuperar os níveis de potássio do solo com mais celeridade, essa característica é importante para que o agricultor consiga manter a produtividade da lavoura.
Todavia, além delas, existem também as fontes de potássio de liberação gradual. Vale destacar que, por muito tempo, acreditou-se que as únicas fontes de potássio que as plantas conseguiam utilizar vinham dos “reservatórios” de disponibilidade mais imediata: a solução e a fração trocável do solo.
O avanço das pesquisas e estudos na área revelam, porém, que as plantas de fato são capazes de utilizar o potássio de outros reservatórios do solo também.
É o caso, por exemplo, do trabalho de Michael J. Bell e outros pesquisadores. Eles apontam, no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops que:
Como forma de visualização, é como se os reservatórios de potássio do solo fossem caixas d’água contendo o nutriente e que estão interligadas.
Em razão da dinâmica do nutriente no sistema solo-planta, à medida em que o potássio dos reservatórios de disponibilidade mais rápida é retirado pelas plantas e vai se esgotando, os outros reservatórios vão “repondo” esse potássio.
Assim, Michael J. Bell e seus colegas destacam ainda a necessidade de expandir a compreensão do potássio no solo, bem como de utilizar o método de análise adequado para cada situação.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: Adaptado de Bell et al., 2021)
Com essa visão atualizada do ciclo do potássio do solo, é possível ter uma melhor compreensão dos impactos positivos do uso das fontes de potássio de liberação gradual no manejo agrícola.
O uso de fontes de potássio de liberação gradual é vantajoso para o agricultor
Um deles é justamente o efeito residual prolongado no solo. Como essas fontes disponibilizam o potássio durante mais tempo para as plantas, elas ajudam a equilibrar os níveis do nutriente do solo.
Em lavouras que utilizam o sistema soja-milho, isso é vantajoso, já que o agricultor consegue construir e manter os níveis de fertilidade do solo aplicando o potássio necessário para uma cultura e aproveitando o efeito residual para a próxima.
Além disso, as fontes de potássio de liberação gradual são menos suscetíveis à lixiviação, equilibrando a nutrição do solo e otimizando o manejo.
O uso de fontes sem cloro pode beneficiar a lavoura
Uma das razões pelas quais as fontes de potássio de liberação imediata são mais suscetíveis à lixiviação é que muitas vezes elas contêm outros elementos que favorecem o processo.
Isso porque o potássio é um nutriente catiônico (K+), o que faz com que seja necessário que eles estejam na companhia de ânions solúveis, como cloro (Cl–) e nitrato (NO3-), para ser lixiviado.
Assim, o uso de fontes como o Cloreto de Potássio, que contém aproximadamente 47% de cloro em sua composição, acabam facilitando o processo de lixiviação do potássio.
O Cloreto de Potássio contém aproximadamente 47% de cloro em sua composição
O excesso de cloro também pode prejudicar o solo e as plantas de maneira geral. Nas plantas, ele pode causar sintomas de fitotoxidez e a queima das raízes, o que, eventualmente, compromete o crescimento das plantas.
Já no solo, a aplicação de cloro em excesso pode trazer problemas como o aumento da salinidade, da compactação e o prejuízo da microbiota benéfica do solo.
Para se ter uma ideia, estudos, como o artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem, da pesquisadora Heide Hermary descrevem que a aplicação de 200 Kg de Cloreto de Potássio equivale a despejar 1600 litros de água sanitária no solo.
Mesmo a aplicação de uma quantidade pequena de Cloreto de Potássio no solo, como 50Kg, ainda equivale a despejar 400 litros de água sanitária, causando danos à microbiota.
Assim, o uso de fontes livres de cloro é uma prática que favorece a adubação potássica das áreas que utilizam o sistema soja-milho, já que evita que haja excesso desse elemento sendo aplicado no solo, preservando o agroecossistema.
A adoção de boas práticas de adubação potássica ajuda a otimizar os benefícios do sistema soja-milho de plantio
Em síntese, o uso do sistema soja-milho traz muitas vantagens para o agricultor, como a otimização do uso do solo e o aproveitamento da adubação potássica em razão do efeito residual.
Para que o agricultor otimize esses benefícios, práticas como o uso de fontes de potássio de liberação gradual e que sejam livres de cloro é muito vantajoso, já que elas têm um efeito residual duradouro e também preservam a saúde do solo.