O potássio é um macronutriente primário, o que significa que ele é altamente requerido pelas plantas. De fato, geralmente ele é o segundo nutriente mais exigido por elas. Isso não é diferente na cultura do eucalipto. Assim, é importante que o agricultor esteja atento ao manejo adequado para evitar que não haja falta desse nutriente. Mas como os sintomas de deficiência de potássio se apresentam visualmente no eucalipto e como evitar que eles prejudiquem a cultura?
A importância do potássio para o eucalipto
A cultura do eucalipto tem uma alta extração de potássio, podendo acumular mais de 150 kg/ha ao final de uma rotação de 7 anos.
Isso se deve ao fato de que, mesmo não sendo um nutriente envolvido nas funções estruturais das plantas, ele tem diversas funções no metabolismo e na fisiologia vegetal. Entre tais funções, estão:
- A ativação enzimática;
- A síntese proteica;
- A fotossíntese;
- O transporte de fotoassimilados no floema;
- O crescimento celular;
- A melhoria da qualidade de flores e frutos;
- A regulação do potencial hídrico das células;
- A amenização de estresses bióticos e abióticos.
Vale lembrar que a maioria dos solos brasileiros tem baixa disponibilidade de potássio, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) ressalta no documento Aspectos relacionados ao mapeamento da disponibilidade de potássio nos solos do Brasil.
Por isso, é importante que o produtor esteja atento para evitar que ocorra a deficiência de potássio. Mas, quais são os sintomas dessa falta de potássio no eucalipto?
Os sintomas de deficiência de potássio no eucalipto
O potássio tem uma alta redistribuição nos tecidos vegetais. Assim, quando existe deficiência de potássio no eucalipto, os sintomas de carência surgem nas folhas mais velhas.
É o que afirma o renomado engenheiro agrônomo Eurípedes Malavolta, juntamente com outros pesquisadores, no trabalho Avaliação do Estado Nutricional das Plantas: princípios e aplicações.
Os sintomas de deficiência de potássio no eucalipto que aparecem nas folhas das árvores costumam se caracterizar da seguinte maneira:
- Manchas amarelas (cloróticas) nos espaços entre as nervuras e espalhadas irregularmente por toda a superfície das folhas;
- Faixas amarelas ou avermelhadas nas margens das folhas mais velhas, que se enrolam e secam com a progressão dos sintomas;
- Aumento das brotações laterais, com a paralisação do desenvolvimento vegetativo.
Evolução dos sintomas de deficiência de potássio nas folhas de eucalipto (Fonte: Adaptado Costa & Schwengber, 2008)
Todavia, o agricultor não deve esperar o surgimento dos sintomas visuais para entrar com um programa de correção de potássio na lavoura de eucalipto.
Isso porque, quando a deficiência de potássio no eucalipto já se encontra nesse estágio, é sinal de que houve comprometimento da produtividade, qualidade e resistência da cultura a estresses.
Vale lembrar da importância desse nutriente para o crescimento do eucalipto, demonstrado em estudos como o artigo Crescimento inicial de eucalipto em função de doses de potássio aplicadas até o segundo parcelamento de N e K.
Nesse trabalho, Rodolfo de Niro Gazola e seus colegas analisaram as repostas de plantas de eucalipto em uma propriedade do Mato Grosso do Sul, após a aplicação de doses crescentes de potássio no plantio e cobertura.
Os pesquisadores identificaram que os valores de altura total, diâmetro da altura do peito (DAP) e volume total de madeira com casca se ajustaram linearmente em função das doses de potássio (K2O) aplicadas.
A adubação potássica teve influência no crescimento do eucalipto e outros parâmetros importantes da cultura, na tabela são mostrados os valores médios verificados nas árvores aos 12 meses de idade (Fonte: GAZOLA et al, 2013)
Os autores ressaltam ainda que a maior dose de potássio (114 kg.ha-1 de K2O) propiciou um incremento de 26,3% ao volume de madeira em relação às plantas que não receberam potássio em seu crescimento.
Já o pesquisador Carlos Roberto Sette Júnior estudou parâmetros de crescimento do eucalipto em uma estação experimental no estado de São Paulo, durante aproximadamente quatro anos.
Os resultados, mostrados no estudo Aplicação de potássio e sódio no crescimento e na qualidade do lenho de árvores de Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden, apontam que o potássio promoveu maiores taxas de crescimento do tronco e volume de lenho das árvores de eucalipto em relação aos demais tratamentos realizados no estudo.
Além disso, houve melhorias em parâmetros importantes para o crescimento do eucalipto, como a espessura da parede celular das fibras do lenho das árvores avaliadas no estudo.
Mas, como o agricultor pode melhorar a adubação e evitar que os sintomas de deficiência de potássio se manifestem e atrapalhem a produtividade do eucalipto?
Dicas para melhorar a adubação potássica no eucalipto
Para realizar uma boa adubação potássica e evitar o surgimento dos sintomas de deficiência de potássio no eucalipto, é importante que o agricultor tenha um conhecimento amplo das condições de fertilidade do solo.
Aqui, uma ferramenta fundamental são as análises de solo. Isso porque elas ajudam a ter um panorama do estado nutricional do solo, além de outras informações importantes.
Entretanto, é necessário estar atento aos métodos adequados na hora de fazer a análise de solo, especialmente quando se fala da identificação dos teores de potássio do solo. Tal necessidade é em razão do fato de que as análises de potássio realizadas nos laboratórios serem geralmente calibradas para a fração trocável do potássio no solo.
Isso porque até pouco tempo acreditava-se que as plantas só conseguiam utilizar o potássio dessa fração do solo. O avanço nos estudos da área mostrou que elas têm a capacidade de se beneficiar dos outros reservatórios desse nutriente no solo, como a fração a não-trocável.
É o que escreve o pesquisador Michael J. Bell, juntamente com seus colegas, no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: Bell et al., 2021)
Essa compreensão da dinâmica solo-planta do potássio amplia a visão do ciclo desse nutriente do solo.
Isso, em conjunto com o avanço das tecnologias, abre espaço para o uso das fontes de potássio de liberação gradual, que disponibilizam o nutriente por períodos de tempo mais longos.
No caso de culturas perenes, a exemplo cultura do eucalipto, essas características são benéficas, já que elas têm um ciclo de crescimento e produção longo.
Nesse âmbito, o uso das fontes de potássio de liberação gradual ajuda a construir e manter a fertilidade do solo, tendo também um efeito residual duradouro que mantém os níveis de potássio no solo.
O potássio de liberação gradual traz diversas vantagens para o produtor agrícola
Outro ponto ao qual o produtor de eucalipto também precisa estar atento é quanto aos momentos de adubação e a quantidade de potássio aplicada no eucalipto.
No artigo Seja o doutor do seu eucalipto, Ronaldo L. V. de Arruda Silveira e outros pesquisadores escrevem que os momentos da adubação com potássio no eucalipto se dividem em:
- Adubação de plantio;
- 1ª adubação de cobertura, realizada entre 30 e 60 dias após o plantio;
- 2ª adubação de cobertura, realizada entre 6 e 9 meses após o plantio;
- Adubações de manutenção, realizada entre 18 e 24 meses após o plantio.
Já quanto à dosagem de potássio que deve ser aplicada Ronaldo L.V. de Arruda Silveira, juntamente com Eurípedes Malavolta, no artigo Nutrição e adubação potássica em eucalyptus, recomenda que:
- No plantio, sejam aplicadas 20kg de K2ha-1, em sulco ou em cova de plantio nas regiões mais acidentadas.
- Nas adubações de cobertura, a dose varia conforme os teores de potássio no solo, podendo ir de 20kg de K2ha-1 a até 45kg de K2O.ha-1.
- Nas adubações de manutenção, a dose recomendada é entre 60kg de K2ha-1 e 75kg de K2O.ha-1, caso os níveis de potássio no solo estejam baixos.
Recomendações de quanto aplicar de potássio no eucalipto. (Fonte: SILVEIRA & MALAVOLTA, 2020)
Além disso, eles também destacam a importância de ações que auxiliem na manutenção dos níveis de potássio no solo. É o caso, por exemplo, da manutenção dos restos culturais da lavoura.
De acordo com Arruda Silveira e Malavolta, essa prática se mostra importante ao se levar em conta que mais de 50% do potássio acumulado pelo eucalipto está distribuído entre folhas, ramos e casca.
Segundo argumentam os autores, somente o descascamento no campo pode diminuir a quantidade de potássio aplicada na próxima rotação em 40 a 80 kg de potássio (em K2O.ha-1), dependendo da produtividade desejada.
Dessa maneira, com boas práticas de adubação e manutenção dos níveis de potássio no solo, o agricultor otimiza o manejo e evita que os sintomas de deficiência de potássio no eucalipto se manifestem e prejudiquem a cultura!
O uso de boas práticas evita os sintomas de deficiência de potássio no eucalipto
Em resumo, o potássio é um nutriente altamente relevante para o eucalipto, em razão das funções que ele tem no metabolismo e na fisiologia das plantas.
Entre os benefícios que uma boa adubação potássica traz, está a melhoria do crescimento das árvores e, em consequência da produtividade do eucalipto. Com isso é importante estar atento para evitar que surjam sintomas de deficiência de potássio no eucalipto.
Isso pode ser feito através de boas práticas de adubação, como a escolha de fertilizantes adequados e daquelas que reaproveitem o potássio extraído pelas árvores do solo!
