Seis métodos para otimizar a adubação de potássio para a cana

Seis métodos para otimizar a adubação de potássio para a cana

O potássio é um macronutriente primário, sendo requerido em grandes quantidades para que as plantas possam se desenvolver. Isso também é válido para a cultura da cana-de-açúcar, por isso é preciso que o manejo nutricional do potássio seja feito com cuidado. Conheça seis métodos para otimizar a adubação de potássio para a cana!

Entendendo a importância do potássio para a cana

A ativação enzimática, crescimento celular, melhoria da qualidade de flores e frutos e amenização de estresses bióticos e abióticos, entre outras, estão entre as principais funções do potássio nas plantas.

Na cultura da cana, o potássio é o nutriente mais absorvido durante o processo de crescimento da planta. Para se ter uma ideia, a extração de potássio pela cana-de-açúcar é treze vezes maior que a de fósforo, que também é outro macronutriente primário.

É o que Emílio Cantídio Almeida de Oliveira e outros pesquisadores observaram no estudo Extração e exportação de nutrientes por variedades de cana-de-açúcar cultivadas sob irrigação plena.

Entre os benefícios do potássio para a cana, podemos citar:

  • O estímulo da vegetação e do perfilhamento da cultura;
  • Auxílio na fixação de nitrogênio, atuando na atividade da redutase do nitrato;
  • Regulação da utilização de água e diminuição da sensibilidade a mudanças climáticas, pragas e doenças

Tendo em vista a quantidade de potássio requerida pela cana e o fato de que boa parte dos solos brasileiros tem baixos níveis desse nutriente, o uso de fertilizantes potássicos é importante para manter bons níveis de produtividade da cultura.

Mas, como otimizar a adubação de potássio para a cana?

1. Dar preferência a fertilizantes que não tenham altos teores de cloro

Um passo importante para que a adubação potássica da cana seja mais eficiente é a escolha dos fertilizantes que serão utilizados no manejo da cultura. Fertilizantes com altos teores de cloro, por exemplo, devem ser evitados, já que eles podem trazer efeitos indesejados.

Ao avaliar os efeitos do uso do Cloreto de Potássio na cultura da cana-de-açúcar, no estudo Nutrição potássica em soqueira de cana-de-açúcar colhida sem queima, o pesquisador Hilário Júnior de Almeida destaca que a toxidez do cloro pode ser um fator limitante no crescimento e na produtividade de colmos da cana-de-açúcar.

O Cloreto de Potássio (KCl), por exemplo, é um dos fertilizantes potássicos mais utilizados na agricultura, sendo composto por aproximadamente 47% de cloro e com um índice salino de 116%.

Outro ponto ressaltado por Hilário Júnior de Almeida é que a elevada salinidade do KCl também teve uma influência negativa no rendimento do canavial.

Já um estudo realizado pela Verde em parceria com a Delta Sucroenergia mostrou que a utilização de um fertilizante potássico livre de cloro no manejo da cana proporcionou um perfilhamento da cana-soca 11,56% maior do que quando foi utilizado o Cloreto de Potássio.

O excesso de cloro que fertilizantes como o KCl adicionam no solo também prejudica parâmetros importantes que influenciam o rendimento da cana-de-açúcar.

Por exemplo, o Dr. Timothy Ellsworth e outros nos pesquisadores, no estudo The Potassium paradox: implications for soil fertility, crop production and human health, ressaltam que:

“O valor estabilizador do KCl há muito tempo é reconhecido na construção de pavimentos e fundações impermeáveis. Infelizmente, as consequências agronômicas [dessa compactação e impermeabilidade] incluem a perda de CTC (Capacidade de Troca Catiônica) e baixa capacidade de retenção de água, o que não traz crescimento e produtividade da lavoura.”

Além disso, a compactação também pode comprometer o desenvolvimento radicular da cana-de açúcar, prejudicando o bom desenvolvimento da cultura.A cana-de-açúcar é muito afetada pela compactação do solo, já que apresenta cerca de 85% do seu sistema radicular concentrado em até 50cm de profundidade.

A cana-de-açúcar é muito afetada pela compactação do solo, já que apresenta cerca de 85% do seu sistema radicular concentrado em até 50cm de profundidade. (Fonte: SAROL et al, 2020)

2. Utilizar fontes de potássio de liberação progressiva

Em geral, fontes altamente solúveis e que têm uma liberação imediata dos seus nutrientes são mais suscetíveis ao fenômeno da lixiviação. Quando isso acontece, os nutrientes são levados para as camadas mais profundas do solo, longe das raízes das plantas.

Em consequência, parte do que o agricultor aplica no solo é perdido, tornando o manejo menos eficiente. Com isso, novas aplicações são requeridas, prejudicando a relação custo-benefício do manejo. Mas, como minimizar isso?

A opção por fertilizantes potássicos com liberação progressiva de nutrientes, menos suscetíveis à lixiviação, pode ser uma saída para reduzir esse problema.

Como o próprio nome sugere, esses fertilizantes disponibilizam gradualmente os nutrientes para o solo e para as plantas. Um dos benefícios disso é que eles têm um efeito residual duradouro.

Isso ajuda a construir a fertilidade do solo de maneira mais eficiente, otimizando o manejo da adubação potássica.

3. Estar atento à dosagem de potássio aplicada na cultura da cana-de-açúcar

No estudo Manejo da adubação potássica na cultura da cana-de-açúcar, o Dr. Rafael Otto e outros pesquisadores perceberam que doses de potássio excessivas na cana-de-açúcar, superando 150 kg.ha-1 de K2O nas condições do experimento, impactaram negativamente:

  • O crescimento;
  • A produtividade.

Assim, aplicar a dosagem adequada de potássio no manejo do canavial é muito importante.

Em primeiro lugar, porque isso pode trazer prejuízos econômicos para o agricultor ao aplicar mais fertilizantes do que o necessário. Em segundo lugar porque o excesso de potássio pode provocar:

  • Prolongamento do processo vegetativo;
  • Atraso no acúmulo de sacarose;
  • Alto teor de cinzas, o que prejudica o processo de cristalização na fabricação do açúcar.

Mas, então, como avaliar qual a quantidade de potássio deve ser aplicada?

4. Avaliar qual é o método de análise de solo mais adequado

As análises foliares e de solo são ferramentas importantes na hora de entender qual é a dosagem de potássio que deve ser aplicada no solo.

Os métodos de análise usados rotineiramente no Brasil, como os que usam os extratores Mehlich e resina, medem apenas o potássio (K) que está nos “reservatórios” do solo que apresentam disponibilidade mais rápida (a solução e a trocável).

Todavia, nem sempre isso consegue fornecer uma compreensão adequada da dinâmica solo-planta-produtividade. Por exemplo, Michael J. Bell e outros pesquisadores, no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops notam que:

“No entanto, quando o K adequado precisa ser fornecido ao longo de períodos de tempo mais longos (como ocorre com a remoção repetida de biomassa no cultivo de forragem, ou perenes, ou culturas de alta demanda de K de biomassa, como a cana-de-açúcar), há muitos solos a partir dos quais as plantas são capazes de extrair mais do que o reservatório de K inicialmente trocável.”

Por isso, é importante que o agricultor avalie os métodos de análise de solo e alie os resultados obtidos com os resultados da análise foliar e outros indicadores da lavoura para que o conhecimento seja mais completo e o manejo possa ser realizado de maneira mais eficiente.

5. Estar atento ao ciclo produtivo da cana na hora de fazer a amostragem para as análises

O ciclo produtivo da cana-de-açúcar é mais longo que as culturas anuais, mas não é tão extenso quanto às culturas perenes. Isso faz com que ela seja considerada uma cultura semi-perene.

Ao longo desse ciclo de produção, a cana-de-açúcar costuma receber diferentes denominações:

  • Cana-planta: quando ela é plantada e recebe o seu primeiro corte;
  • Cana-soca: após as novas brotações dos colmos, as demais safras recebem esse nome.

Na realização da análise de solo, é importante que essas fases sejam levadas em consideração. Isso porque a amostragem da análise é diferente para cada uma delas. O Instituto Brasileiro de Análises (IBRA) recomenda que:

  • Para cana-planta: a amostragem de solo deve ser realizada três meses antes do plantio, recolhendo 15 subamostras de solo em “zig-zag” de uma área uniforme nas profundidades de 0-20 a 20-40cm;
  • Para cana-soca: a amostragem de solo deve ser realizada logo após o corte, retirando amostras de solo a cerca de 20-25cm da linha.

Para a cana-soca, o local da amostragem também influencia na recomendação da adubação potássica e de outros nutrientes:

  • Amostras retiradas da linha de plantio podem superestimar os teores de potássio e fósforo;
  • Amostras retiradas da entrelinha de plantio podem superestimar os teores de magnésio e cálcio.

Por isso, o agricultor precisa estar atento a isso na hora de fazer a análise do solo, a fim de estimar adequadamente a quantidade de potássio que precisa ser aplicada no manejo.

6. Preservar os microrganismos do solo

Os microrganismos do solo são importantes para melhorar a adubação potássica da cana porque eles participam do processo de decomposição e mineralização da matéria orgânica, além da disponibilização do potássio contido em minerais.

Assim, eles são diretamente responsáveis pelo aproveitamento mais eficiente do potássio que fica retido nos restos culturais e na eficiência de técnicas como a compostagem agrícola.

Além disso, os microrganismos desempenham diversas funções essenciais no agroecossistema do solo, e proporcionam diversos benefícios para a cana-de-açúcar, que vão desde o manejo integrado de pragas à ciclagem de nutrientes.

O sucesso do manejo do potássio depende de um conjunto de fatores

Em resumo, a adubação potássica é muito importante para que a cultura da cana-de-açúcar e o sucesso do manejo desse nutriente depende de uma série de fatores.

 

A escolha de bons fertilizantes, bem como o conhecimento da lavoura através de métodos de análise de solo e foliar adequados, bem como a manutenção da boa saúde biológica do solo, são essenciais para que a adubação potássica da cana traga melhores resultados para o agricultor!

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