As fontes de potássio de liberação gradual têm ganhado cada vez mais relevância no manejo agrícola. Elas podem ser a chave para lidar com desafios aos quais as fontes de liberação imediata estão mais sujeitas e podem diminuir a eficácia do manejo agrícola. Descubra os benefícios da adubação com potássio de liberação gradual!
O que são as fontes de potássio de liberação gradual?
O desenvolvimento das pesquisas e das tecnologias no setor agrícola trouxe o avanço no uso das fontes de potássio de liberação gradual, que podem resolver desafios relevantes para a nutrição agrícola.
Mas, o que exatamente são essas fontes? Como o nome indica, as fontes de potássio de liberação gradual são aquelas que têm uma disponibilização do nutriente ao longo de um período maior de tempo, ao contrário das fontes de liberação imediata.
Essas, como o nome também sugere, são aquelas que disponibilizam praticamente todo o teor de nutrientes em um curto período após a aplicação na lavoura.
A disponibilização ao longo de um período maior das fontes de potássio de liberação gradual pode ser resultado tanto de tecnologias de revestimento da matéria-prima principal do fertilizante, quanto das características da matéria-prima em si.
Nem sempre as fontes de liberação imediata são mais vantajosas para o sucesso do manejo agrícola, embora elas possam ser úteis em determinadas situações. Um exemplo é quando se observa sintomas de deficiência do nutriente na lavoura e é preciso suprir a necessidade de potássio de forma rápida.
Dito isso, o uso das fontes de potássio de liberação gradual oferece muitas vantagens para a fertilidade do solo. Isso porque o prolongamento da disponibilização do potássio favorece a absorção dos nutrientes ao longo de todo o ciclo produtivo das plantas.
Isso, por sua vez, ajuda a evitar que haja um desequilíbrio entre a taxa de disponibilização de nutrientes e a taxa de absorção de potássio pelas plantas.
Tal desequilíbrio pode fazer com que não somente haja o aparecimento de sintomas de toxicidade, mas também o aumento das perdas de potássio nos sistemas de produção. Dessa maneira, o manejo fica menos otimizado, gerando mais custos para o agricultor e podendo causar prejuízos na produtividade da lavoura.
Mas, como exatamente as fontes de potássio de liberação gradual ajudam a reduzir as perdas desse nutriente, principalmente para o processo de lixiviação?
O problema da lixiviação
O fenômeno da lixiviação acontece quando há um processo indesejado de “lavagem” do solo, no qual os nutrientes são transportados para profundidades além daquelas ocupadas pelas raízes das plantas.
Esse processo ocorre quando os nutrientes presentes na solução do solo se movimentam verticalmente no perfil do solo, em razão, principalmente, do escoamento das águas superficiais.
Diversos fatores podem estar associados à maior ou menor incidência da lixiviação, tais como:
- Tipo e textura do solo;
- Capacidade de troca catiônica (CTC);
- Regime hídrico;
- Solubilidade do fertilizante.
Vale lembrar que as fontes mais utilizadas na agricultura, a exemplo do Cloreto de Potássio (KCl) têm uma alta solubilidade em água, fazendo com que elas tenham mais facilidade de serem lixiviadas.
A rápida disponibilização dessas fontes também contribui para aumentar e acelerar o processo de lixiviação. De fato, Paolo Roberto Ernani e outros pesquisadores observam que o uso de Cloreto de Potássio para aumentar o nível de nutrientes no solo pode trazer essa consequência.
É o que eles relatam no estudo Mobilidade vertical de cátions influenciada pelo método de aplicação de cloreto de potássio em solos com carga variável.
Outro ponto importante é que, no caso do potássio, ele é um nutriente catiônico (K+), o que faz com que seja necessário que eles estejam na companhia de ânions solúveis, como cloro (Cl–) e nitrato (NO3-), para ser lixiviado.
Essas características podem ser ainda mais acentuadas em solos de textura arenosa, como indicam diversos estudos.
É o caso, por exemplo, do artigo Lixiviação de potássio em função da textura e da disponibilidade do nutriente no solo.
Nele, Rodrigo Werle e outros pesquisadores constataram que, para solos de textura média, ou seja, mais arenosa que os argilosos, a intensidade da lixiviação foi mais intensa, mesmo com quantidades menores de K2O aplicado.
Já no caso dos solos mais argilosos, a lixiviação tende a ser menor, o que significa que eles têm maior capacidade de reter o potássio.
Intensidade da lixiviação de potássio em diferentes tipos de solo (Fonte: Werle et al., 2008)
De acordo com Rodrigo Werle e seus colegas, isso pode ser explicado pela maior capacidade de troca catiônica (CTC) dos solos mais argilosos.
Assim, o uso de fontes de potássio de liberação gradual, que são menos suscetíveis à lixiviação, ajuda a reduzir as perdas de nutriente na lavoura e tornar o manejo mais otimizado.
Cabe destacar que aquelas fontes que melhoram a CTC do solo, como as que utilizam matéria-prima rica em glauconita, podem ser ainda mais vantajosas para o agricultor.
Além de evitar o problema da lixiviação, as fontes de potássio de liberação gradual podem trazer outros benefícios para a melhoria do manejo agrícola.
Como o efeito residual das fontes de potássio de liberação gradual ajuda a construir a fertilidade do solo
Outra vantagem das fontes de potássio de liberação gradual é que elas têm um efeito residual duradouro.
Em síntese, o efeito residual é um resultado da liberação gradual dos nutrientes para o solo, o que faz com que haja a prolongação de todos os benefícios que o fertilizante possa proporcionar a longo prazo.
Assim, há a construção e a manutenção da fertilidade do solo, já que há um ajuste dos níveis de nutrientes às necessidades das plantas e a redução das perdas no sistema solo-planta-atmosfera.
No caso do potássio, durante muito tempo foi considerado que as únicas fontes desse nutriente que as plantas utilizavam vinham dos “reservatórios” de disponibilidade mais imediata, que são a solução e a fração trocável.
Todavia, já existem estudos que mostram que as plantas podem utilizar o potássio de outros reservatórios do solo também.
É o que apontam por exemplo, Michael J. Bell e outros pesquisadores no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops:
“No entanto, quando o K adequado precisa ser fornecido ao longo de períodos de tempo mais longos (como ocorre com a remoção repetida de biomassa no cultivo de forragem, ou perenes, ou culturas de alta demanda de K de biomassa, como a cana-de-açúcar), há muitos solos a partir dos quais as plantas são capazes de extrair mais do que o reservatório de K inicialmente trocável.”
Para fins de comparação, é como se os reservatórios de potássio do solo fossem caixas d’água contendo o nutriente: à medida que o nutriente dos reservatórios de disponibilidade mais rápida é retirado pelas plantas e vai se esgotando, os outros reservatórios vão “repondo” esse potássio.
Por esse motivo, Michael J. Bell e seus colegas chamam a atenção para a necessidade de expandir a compreensão do potássio no solo, bem como avaliar o método de análise adequado para cada situação.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: Adaptado de Bell et al., 2021)
Essa nova visão do ciclo do potássio do solo permite que haja uma melhor compreensão dos impactos positivos do uso das fontes de potássio de liberação gradual no manejo agrícola.
Assim, o agricultor pode utilizá-las de maneira mais eficiente e ter ao seu lado os benefícios que elas trazem para o solo e para as plantas.
O uso das fontes de potássio de liberação gradual pode ajudar a resolver desafios relevantes do manejo agrícola
Sintetizando, embora sejam úteis em determinados contextos, as fontes de potássio de liberação imediata estão sujeitas a problemas que podem tornar o manejo menos eficiente. É o caso, por exemplo, da lixiviação.
Já as fontes de potássio de liberação gradual são menos lixiviáveis e também trazem benefícios como o efeito residual duradouro. Dessa maneira, é possível construir e manter a fertilidade do solo e otimizar o manejo agrícola!