Uma nova pesquisa científica alerta para a presença de sódio no fonolito, matéria-prima que pode ser utilizada para a fabricação de fertilizantes e na rochagem. Encontrar novas fontes de nutrição agrícola que sejam eficientes e benéficas é um desafio que precisa ser encarado pelo agronegócio brasileiro. Nesse sentido, as pesquisas são essenciais para que essas novas fontes não tragam mais malefícios que benefícios. Entenda porque a presença de sódio em fertilizantes como os produzidos a partir do fonolito pode trazer consequências negativas para a agricultura!
A importância de encontrar novas fontes de nutrição agrícola
Uma pesquisa escrita conduzida pela pesquisadora Jaqueline Mesquita de Aquino em 2019 identificou uma alta concentração de sódio no fonolito, uma rocha que tem sido usada para a processos de rochagem.
Em seu trabalho, a pesquisadora estudou o potencial de uso de rochas para processos de rochagem, incluindo o fonolito, o nefelina sienito e a brecha vulcanoclástica. Para o estudo, Jaqueline Mesquita de Aquino utilizou ensaios de lixiviação com extração ácida e do teste de incubação em laboratório.
Os resultados o fonolito se mostrou inviável para o uso no manejo agrícola em razão do seu caráter sódico.
O fonolito tem um alto teor de sódio. (Fonte: Adaptado de AQUINO, 2019)
Sobre os resultados, Jaqueline Mesquita de Aquino comentou:
“O caráter fortemente sódico e a mineralogia essencialmente constituída por feldspatos sódicos, nefelina e aegirina-augita foram os fatores que influenciaram na alta solubilidade de Na no fonólito (18.566 mg kg-1) e no nefelina sienito (12.267 mg kg-1). Esse resultado já era esperado, afinal o sódio é um elemento de grande mobilidade geoquímica.”
Hoje, a busca por fontes de nutrição agrícola diferentes das convencionais tem sido um dos pontos mais importantes no processo de fortalecimento da agricultura brasileira.
Isso porque o Brasil é extremamente dependente de fertilizantes vindos de outros países. Só no caso do potássio, por exemplo, o Brasil importa quase 97% desse fertilizante, de acordo com dados do Ministério da Economia.
Nesse sentido, a realização de pesquisas para determinar se certos minerais podem ser utilizados como fertilizantes é essencial. Isso porque essas pesquisas podem identificar elementos indesejados nas fontes potenciais de nutrientes.
Mas, por que o alto teor de sódio constitui um problema para possíveis fertilizantes?
Os problemas causados pelo sódio em fertilizantes
O sódio não é um dos nutrientes que as plantas necessitam para os seus processos de crescimento e desenvolvimento. Entretanto, a sua presença no solo e no manejo agrícola pode trazer consequências relevantes.
De acordo com Lourival Ferreira Cavalcante e outros pesquisadores, no artigo Fontes e níveis da salinidade da água na formação de mudas de mamoeiro cv. sunrise solo, o excesso de sais de sódio no solo pode provocar:
- Prejuízos às propriedades físicas e químicas do solo;
- Redução generalizada do crescimento das plantas cultivadas, provocando sérios prejuízos à atividade agrícola.
Essas duas consequências estão conectadas. No solo, o excesso de sódio provoca o aumento da salinidade. Isso, por sua vez, pode provocar o aumento da compactação do solo, dificultando a penetração das raízes no solo.
Além disso, a salinidade desequilibra o potencial hídrico do solo, prejudicando, por exemplo as plantas e os microrganismos benéficos do solo.
No artigo Influence of Salinity and Water Content on Soil Microorganisms, Petra Marshner e outros pesquisadores explicam que a salinidade afeta plantas e microrganismos por meio de dois mecanismos primários: efeito osmótico e efeitos de íons específicos.
A osmose é um processo pelo qual a água se desloca de um meio menos concentrado para um meio mais concentrado através de uma membrana semipermeável. Assim, quando há uma alta taxa de salinidade no solo, ou seja, quando há o excesso de cristais salinos ou de sódio, há uma perda da concentração da água neste solo.
Em decorrência disso, ocorre um fenômeno chamado de plasmólise, que se configura como a perda da água contida nas próprias plantas e nos microrganismos para o solo, em virtude da alta salinidade.
A concentração de sódio e outros cristais salinos no solo, como por exemplo o cloro, também impacta a fisiologia das plantas.
O pesquisador Walter Larcher, em seu livro Ecofisiologia do Solo, explica que quando há uma alta concentração de sódio e cloro no solo, a absorção de nutrientes como o nitrogênio (NO3-), o cálcio (Ca) e o potássio (K) é reduzida.
Já Thiago Rodrigo Schossler e outros pesquisadores, no artigo Salinidade: efeitos na fisiologia e na nutrição mineral de plantas, explicam que outro efeito desse excesso de sódio e cloro é a redução de fitomassa das plantas.
Isso se reflete no aumento do custo metabólico de energia das plantas, que está associado às adaptações que elas precisam fazer para lidar com o estresse salino. Tais adaptações incluem:
- A síntese de solutos orgânicos para proteção de macromoléculas e osmorregulação;
- A regulação do transporte e distribuição iônica em vários órgãos e dentro das células;
- A manutenção da integridade das membranas celulares.
Assim, é essencial que o agricultor esteja atento ao teor sódico do solo e dos fertilizantes utilizados no manejo agrícola, tomando cuidados para que o teor desse elemento seja nulo ou o mais próximo possível disso. Para isso, o uso de fertilizantes e fontes de nutrição benéficas é uma ferramenta importante.
A relevância da pesquisa na busca por novas fontes de nutrição
Diversos estudos vêm tentando identificar novas fontes de nutrição que possam ser eficazes para o uso na agricultura.
No trabalho Remineralização de solos (rochagem) em um assentamento no município de Iperó, SP, escrito em 2021, o pesquisador Cezar Augusto Parladore compilou alguns estudos e resultados obtidos com a intenção de avaliar potenciais remineralizadores do solo, por exemplo:
Estudos com potenciais fontes de nutrição do solo e seus resultados. (Fonte: PARLADORE, 2021)
Os resultados obtidos mostram que nem sempre as fontes pesquisadas trouxeram grandes benefícios para a agricultura e, em alguns casos, houve inclusive a identificação de aspectos negativos.
Outras pesquisas avaliaram uma matéria-prima rica em glauconita que, além de ser fonte eficiente de potássio, é fonte de silício, magnésio e manganês.
Os resultados mostraram que essa matéria-prima trouxe benefícios para os microrganismos do solo, além de ser eficiente na adubação de culturas como a cana-de-açúcar e o café, entre outras.
Tais estudos mostram a importância de não somente buscar novas fontes de nutrição agrícola, mas do conhecimento acerca dessas novas fontes.
Evitar riscos como a presença de sódio em fertilizantes é essencial para o futuro agrícola
Em resumo, entender e pesquisar a fundo as potenciais matérias-primas a serem utilizadas na produção de fertilizantes e outras fontes de nutrição agrícola é essencial para avaliar não somente a sua efetividade, mas também seus riscos para o solo e para as plantas.
Riscos como a presença de sódio em fertilizantes, que pode trazer diversas consequências negativas para a agricultura.