O pó de ardósia é um subproduto gerado a partir da extração e corte da ardósia, uma rocha sílico-argilosa muito utilizada no setor de construção civil como material de revestimento e decoração. Esse resíduo é um material particulado, em sua maioria de dimensões micrométricas, que vem apresentando potencial para ser uma nova alternativa para agricultura como remineralizador do solo.
A caracterização do pó de ardósia
A ardósia é uma rocha metamórfica de baixo grau, ou seja, apresenta uma abundância de minerais hidratados, como a muscovita e clorita, que foram submetidos a temperaturas entre cerca de 200 ºC a 320 ºC e pressão relativamente baixa, resultando na formação da rocha.
O processo resulta na formação de longas placas ao longo da superfície da rocha, que são lavradas na forma de folhetos e processadas com as fases corte e acabamento, que geram o pó de ardósia.
A produção brasileira de ardósias é impulsionada pelo estado de Minas Gerais, que representa cerca de 95% das exportações brasileiras, segundo levantamentos realizados pela Feira Nacional de Ardósias. O estado coloca o Brasil em destaque no cenário internacional, como o segundo maior produtor e consumidor mundial.
Tal produção é centralizada na chamada “Província de Ardósias de Minas Gerais”, a maior reserva geológica mundial de ardósias de alta qualidade, que abrange 8 municípios na região centro-sul do estado:
- Papagaio;
- Caetanópolis;
- Felixlândia;
- Pompéu;
- Paraopeba;
- Curvelo;
- Martinho Campos;
- Leandro Ferreira.
Os municípios contam com mais de 300 empresas de beneficiamento, principalmente de pequeno porte, sendo que somente o município de Papagaios concentra 80% da produção. Com isso, a região também é uma das grandes fornecedoras de pó de ardósia do país.
O pó de ardósia é resultante do corte e acabamento da rocha, que gera um material particulado muito fino com tamanho variável entre 1µm e 10µm. A composição química desse material tem como base os 4 principais minerais presentes na rocha composta por silicatos de alumínio: quartzo, mica branca, clorita e feldspatos.
Composição química média (porcentagem em peso das ardósias da Província de Ardósias do Estado de Minas Gerais. (Fonte: FILHO et al, 2003)
O material particulado é então recolhido das empresas de beneficiamento e antes de ser utilizado no campo, ainda pode passar por uma etapa de tratamento para a remoção de impurezas e uniformização do tamanho do particulado.
O pó de ardósia é classificado na agricultura como um potencial produto remineralizador. Esse tipo de insumo atua como um condicionador do solo, disponibilizando gradualmente os nutrientes e promovendo melhorias físicas, químicas e microbiológicas do solo.
A rochagem com pó de ardósia
A rochagem é uma técnica agrícola que consiste na utilização de materiais naturais provenientes do processamento mecânico de rochas, para melhoria da qualidade química e física do solo.
Esse processamento gera materiais particulados de diferentes dimensões, incluindo o pó de ardósia. Ele geralmente é empregado visando aumentar a superfície de contato das partículas da rocha com os microrganismos e raízes, para que os nutrientes sejam solubilizados e disponibilizados para as plantas.
Geralmente, os nutrientes presentes no pó de ardósia possuem concentrações mais baixas, com exceção de alguns, como o silício. Entretanto, ele apresenta uma diversidade grande de nutrientes, principalmente daqueles do grupo dos micronutrientes, que vão sendo disponibilizados de forma gradual ao longo do ciclo das culturas.
A solubilização e disponibilização dos nutrientes acontece de forma gradual, por depender diretamente da ação dos microrganismos e exsudatos liberados pelas raízes. Dessa forma, o pó de ardósia beneficia o desenvolvimento radicular da planta, para aumentar a produção de exsudatos e consequentemente favorecer a microbiota do solo.
O favorecimento dos microrganismos acontece porque os exsudatos não contêm apenas os ácidos responsáveis pela solubilização da rocha. Eles também possuem outros compostos orgânicos, como carboidratos, que estimulam o crescimento e desenvolvimento das populações.
Outro fator que favorece a microbiota do solo, é o potencial que os remineralizadores tem como ativadores biológicos, como aponta o especialista Fernando Dini Andreote, professor de microbiologia do solo na ESALQ/USP:
Porém, estudos relacionados ao uso do pó de ardósia na agricultura ainda são muito escassos e ainda não demonstraram uma correlação direta entre o aumento da produtividade e da qualidade biológica do solo com o uso do insumo.
No artigo Uso do pó de rocha (ardósia) em um argissolo de Trombudo Central-SC: efeitos no solo e nas culturas de grãos, André da Costa e seus colegas constataram que a aplicação de pó de rocha não interferiu nos parâmetros de rendimento de grãos da cultivares de soja do híbrido de milho em uma safra.
Já na pesquisa conduzida por Talita Coutinho Teixeira e sua equipe no Centro Universitário de Sete Lagoas MG (UNIFEMM), publicada no estudo Atividade da Urease e da Arginase em Solo de Cerrado Adicionado a Pó de Ardósia e Cultivado com Milho, os resultados obtidos mostraram que a aplicação de pó de ardósia não causou impacto na qualidade biológica do solo e na dinâmica do nitrogênio.
Qual, então, o futuro do pó de ardósia na agricultura?
O futuro do uso do pó de ardósia na agricultura
O estado de Minas Gerais produz um grande volume de pó de ardósia, que ainda é muito pouco explorado pela agricultura do país pela falta de informações. Para um melhor aproveitamento desse subproduto, se fazem necessárias mais pesquisas e estudos sobre o pó de ardósia para comprovar ou não a sua potencialidade no agronegócio.
Esses estudos possibilitam que fontes economicamente viáveis, com eficiência agrícola comprovada e com uma boa relação custo-benefício sejam encontradas. Isso amplia o leque de opções para o agricultor e impulsiona uma agricultura mais sustentável e com mais rentabilidade.