Você sabia que não suprir as demandas nutricionais de boro na cultura do café pode comprometer o crescimento das plantas? Entenda como esse micronutriente essencial pode ser um dos fatores responsáveis pela expressão do máximo potencial produtivo do seu cafezal.
O boro é um micronutriente que apresenta múltiplas funções
O boro é um elemento que se enquadra como micronutriente, dentro da classificação dos nutrientes. A divisão entre macronutrientes e micronutrientes proposta por essa classificação não tem correlação com uma maior ou menor essencialidade do elemento e sim com uma maior ou menor demanda para suprir as exigências nutricionais das plantas.
Dessa forma, apesar do boro ser um micronutriente requerido em menores quantidades, ele é tão essencial para as plantas quanto os demais nutrientes e não pode ser substituído por outro elemento.
Dentre as principais funções desempenhadas pelo boro, destacam-se:
- Formação de novos tecidos;
- Lignificação;
- Síntese da parede celular;
- Garantia da integridade da membrana celular;
- Metabolismo de carboidratos e de hormônios vegetais;
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica.
Além disso, o boro tem apresentado um grande potencial no controle de pragas e doenças. Por atuar diretamente na síntese de celulose e lignina, ele vem conferindo uma maior tolerância do cafeeiro aos fitopatógenos.
Estudos recentes têm mostrado que as folhas com taxas mais altas de concentração de boro tiveram taxas menores de danos causados pela broca do café (Hypothenemus hampei). (FONTE: NILTON, J. – Embrapa Rondônia)
No café, o boro não está relacionado somente com o desenvolvimento e crescimento pleno da cultura, mas como também interage com outros nutrientes, otimizando os efeitos da adubação e consequentemente a produtividade da cultura.
Os efeitos do boro no crescimento do café
O boro é um micronutriente que está intimamente relacionado com a parte estrutural da planta. Por fazer parte da constituição da parede celular e na integridade da membrana plasmática, ele afeta diretamente o crescimento e produtividade do café.
Resultados obtidos no experimento conduzido no município de Inhapim, que mostra a resposta da cultivar Acauã nas diferentes dosagens de boro via solo. (Fonte: ZABINI, A. V.e CARVALHO, M. L. – 2008)
No estudo Resposta do Cafeeiro a Doses de Boro Via Solo na Região das Matas de Minas Gerais, conduzido por André Zabini e outros pesquisadores, concluiu-se que a dose ideal de boro para o cafeeiro é de 3,94 Kg/ha .
Outro efeito do boro que favorece o crescimento do cafeeiro é a sua capacidade em reduzir a toxicidade de alumínio presente no solo, um dos principais fatores de limitação do desempenho das culturas.
No artigo Adubação boratada em pomar de laranja pêra rio afetado pela clorose variegada dos citros, a autora Isabela Rodrigues Bologna destacou que os experimentos na cultura da alfafa evidenciaram a interação entre o boro e o alumínio.
Foi possível constatar que o boro, aplicado na forma de ácido bórico, “protegeu” as raízes em situações de elevados teores de alumínio.
E essa interação do boro com outros elementos também está presente em nutrientes essenciais às plantas. Com o potássio, por exemplo, o boro estabelece uma relação de sinergismo, o que faz com que plantas tenham uma absorção mais rápida de potássio.
Como o potássio contribui na fase de granação dos frutos e tem efeito na formação de amido nas folhas de café, o boro contribui indiretamente com o crescimento e desenvolvimento da cultura ao estabelecer relações sinérgicas com outros elementos.
Para fornecer esse nutriente tão essencial às plantas e garantir todos os efeitos benéficos diretos e indiretos gerados pelo boro, é preciso buscar por fontes eficientes de adubação.
As diferentes fontes de boro disponíveis no mercado
Diversos autores destacam que a matéria orgânica é uma das principais fontes naturais desse micronutriente e que a recorrente ocorrência de deficiência de boro nos solos brasileiros pode ter sua origem:
- Na formação do solo, principalmente daqueles formados a partir de rochas ígneas ácidas ou rochas sedimentares;
- Em solos lixiviados com baixos teores de matéria orgânica;
- No manejo inadequado do solo, com o uso excessivo de adubos nitrogenados e calagem excessiva ou mal feita.
Apesar de o teor total de boro nas plantas variar de acordo com o tipo e manejo do solo, ele também sofre variações de acordo com as exigências nutricionais e estádio de desenvolvimento de cada cultura.
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O boro é um micronutriente exigido em quase todas as fases de desenvolvimento da planta
Para suprir essa demanda de boro, os agricultores podem recorrer aos boratos refinados ou boratos minerais/não-refinados. Os boratos são sais oxigenados que contém o boro e o oxigênio na composição química do ânion do sal.
Os boratos refinados são aqueles insumos em que o material de origem passou por um processo de refinamento e purificação, como o ácido bórico . Porém, geralmente essas fontes muito solúveis disponibilizam rapidamente o boro par as plantas, podendo essa alta disponibilidade gerar sintomas de toxidez em culturas susceptíveis em estádios iniciais de desenvolvimento.
Além disso, outra limitação advinda da alta solubilidade dos boratos refinados é o problema da lixiviação. Esse fenômeno acontece quando os nutrientes se perdem para as camadas mais profundas do solo, seja em decorrência de fatores como a irrigação mal planejada ou ainda a baixa Capacidade de Troca Catiônica (CTC).
No artigo Lixiviação e disponibilidade de boro em função de fontes e características de solos, a pesquisadora Cleide Aparecida de Abreu, escreve que, quando ocorre a lixiviação, ainda que seja realizada a aplicação de fertilizantes, o solo acaba ficando deficiente em boro.
A pesquisadora nota que isso afeta particularmente os solos arenosos, que ocorrem em diversas regiões do Brasil.
Para contornar essas limitações, muitos agricultores estão recorrendo aos boratos minerais ou não refinados.
Os boratos minerais apresentam diversos benefícios
Os boratos minerais, como a ulexita, apresentam diversos benefícios muito ligados a solubilidade. Ela é um borato hidratado de sódio e cálcio pouco solúvel, características que a tornam menos sujeita à lixiviação dos nutrientes.
Além disso, a reduzida solubilidade garante uma liberação gradual de nutrientes, diminuindo o risco de toxidez por superdosagem do boro e também reduzindo o número de aplicações desse nutriente, já que ele fica presente durante todo o ciclo da cultura.
E a engenheira agrônoma Thamiris Bandoni Pereira, da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) ainda destacou em seu relatório Aplicação e a atuação dos elementos boro e zinco nas plantas de café que a aplicação do boro via solo é a mais eficiente e duradoura, mantendo, normalmente, níveis foliares adequados por 18 meses.
Dessa forma, o agricultor pode utilizar todo o potencial da adubação de boro no crescimento do café ao realizar a adubação com os boratos minerais via solo, como a ulexita.