Grande parte dos solos brasileiros são muito antigos, intemperizados e com baixa disponibilidade de alguns dos nutrientes mais essenciais para as plantas, como o potássio. É o que destaca o estudo Aspectos relacionados ao mapeamento da disponibilidade de potássio nos solos do Brasil, da Embrapa. Por isso, é essencial entender as melhores estratégias para repor o potássio no solo e assegurar o potencial produtivo das culturas agrícolas!
Quais são as formas de potássio no solo?
O entendimento das diferentes formas de potássio no solo e a sua dinâmica nos sistemas de produção é o primeiro passo para identificar as melhores estratégias para repor esse nutriente essencial ao desenvolvimento e à produtividade das culturas.
No solo, o potássio pode assumir diferentes formas que, em geral, são agrupadas considerando a velocidade da sua disponibilidade para plantas, localização e movimentação dentro do sistema de produção. Dentre as principais, destaca-se:
- O potássio disponível na solução do solo;
- O potássio adsorvido na superfície das partículas do solo, denominado K-Trocável;
- O potássio integrante da rede cristalina dos minerais do solo, denominado K-Não Trocável;
- O potássio fortemente retido entre as unidades cristalográficas dos minerais, denominado K-Fixado.
Essas diferentes formas transitam entre os mais de 10 “reservatórios” de potássio, dependendo das diferentes interações que elas estabelecem com os elementos dos sistemas de produção agrícola.
Novo modelo da dinâmica de potássio no solo, proposto no capítulo The Potassium Cycle and Its Relationship to Recommendation Development, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops. (Fonte: Bell et al., 2021)
Para, então, repor o potássio no solo é preciso buscar por estratégias que visem minimizar as perdas de nutrientes, aumentar a biodisponibilidade ou ainda reter o potássio por períodos mais prolongados no sistema de produção. São elas:
1. Repor os diferentes “reservatórios” de potássio do solo
É possível alcançar níveis de nutrientes mais estáveis no solo em sistemas de produção que busquem repor os diferentes “reservatórios” de potássio do solo. Isso porque, nesse caso, a planta poderá contar com fontes de potássio disponíveis em curto, médio e longo prazo.
Mas, para isso, é preciso ir além da avaliação da fertilidade do solo de rotina e da aplicação de fontes convencionais de potássio. Isso porque ambos, geralmente, consideram apenas os manejos dos “reservatórios” de potássio de disponibilidade mais rápida.
Nesse contexto, é preciso adotar uma visão mais ampla da dinâmica do potássio no solo, adequando os métodos de análise de solo aos objetivos do sistema de produção e usando fontes de potássio de liberação progressiva e com longo efeito residual.
2. Promover a microbiodiversidade do solo
Os microrganismos são uma parte importante dos agroecossistemas, tendo um grande impacto na qualidade do solo. Isso porque eles atuam diretamente na ciclagem de nutrientes entre os diferentes reservatórios de potássio orgânicos e inorgânicos do solo, como a matéria orgânica e os minerais, respectivamente.
Segundo o livro Potassium Solubilizing Microorganisms for Sustainable Agriculture, quando as substâncias orgânicas são decompostas ou os minerais são solubilizados pelos microrganismos, o conteúdo de potássio é liberado em formas disponíveis para as plantas.
Partindo desse princípio, é possível repor o potássio do solo ao estimular a atividade dos microrganismos solubilizadores de potássio. E para isso, é preciso contar com algumas boas práticas agrícolas, como evitar a aplicação de fertilizantes com altos teores de cloro e índice salino.
3. Investir no solo
O potássio é um elemento que apresenta uma alta dinamicidade nos sistemas de produção, o que possui relação especialmente com alguns aspectos do solo, como a sua textura e capacidade de troca catiônica (CTC).
Solos de textura arenosa e com baixa CTC, por exemplo, tendem a ter um ambiente propício para apresentar um maior nível de perdas de potássio para as camadas mais profundas do solo, num processo conhecido como lixiviação.
Ou seja, o manejo do solo terá impacto direto na capacidade de retenção e disponibilidade de potássio na lavoura.
Dentre as características do solo que podem ser manejadas pelo agricultor, pode-se destacar o incremento dos teores de matéria orgânica (MO) e as práticas de correção do solo.
Essas práticas permitem a retomada do equilíbrio de cargas no solo, que irão proporcionar uma maior retenção temporária do potássio na lavoura e podendo até mesmo contribuir com o incremento dos teores de nutrientes do solo.
4. Diversificar os sistemas de produção
Todas as culturas têm potencial para remover e exportar grandes quantidades de nutrientes da lavoura, quando manejadas em sistemas de cultivo intensivo sem a manutenção adequada dos níveis de fertilidade do solo.
Situação essa que pode ser ainda mais degradante para o solo caso a maior parte dos resíduos vegetais sejam retirados da lavoura, como o caso das culturas que são destinadas integralmente para silagem.
Extração média de nutrientes pela cultura do milho destinada à produção de grãos e silagem em diferentes níveis de produtividade. (Fonte: COELHO et al., dados não publicados)
Assim, a reposição de potássio no solo vai se dar de forma mais sustentável em sistemas de produção que apresentem uma exploração menos intensiva e mais diversificada do solo.
Isso porque cada cultura apresenta um diferente padrão de exploração do volume e dos nutrientes do solo, através do seu sistema radicular, que contribui para o uso mais sustentável da área ao longo dos anos.
No estudo Importância da rotação de culturas para a produção agrícola sustentável no Paraná, Julio Cezar Franchini e outros pesquisadores ressaltaram que a redução dos custos de produção por meio da racionalização do uso de insumos pode ser associada à rotação de culturas. E que esse sistema proporciona benefícios na(o):
- Qualidade e cobertura do solo;
- Dinâmica de pragas, doenças e plantas daninhas;
- Estabilidade e diversificação da produção agrícola;
- Aumentos da produtividade de todas as culturas de grãos envolvidas no estudo.
5. Avaliar a melhor forma de aplicação
A aplicação é um dos aspectos que mais impactam a efetividade da reposição de potássio no solo, uma vez que é preciso garantir o melhor aproveitamento possível dos nutrientes durante o ciclo da cultura.
Se as demandas nutricionais da planta não forem similares à taxa liberação de nutrientes pelo fertilizante, poderão haver perdas muito significativas no sistema de produção, que vão comprometer não somente o desempenho da lavoura, como também a rentabilidade do empreendimento.
Por isso, é sempre importante avaliar a melhor forma de aplicação do fertilizante potássico, considerando todos os aspectos que podem afetar essa relação, levando em consideração:
- Condições edafoclimáticas;
- Marcha de absorção de nutrientes pela cultura;
- Características do fertilizante aplicado.
Mesmo adotando todas essas estratégias, como identificar o nível ideal de potássio no solo?
O que é preciso para alcançar o nível ideal de potássio no solo?
Alcançar o nível ideal de potássio no solo exige um conhecimento aprofundado de todo o agroecossistema, conhecendo e sabendo manejar todos os fatores que podem afetar a disponibilidade de potássio no solo, como explica Roberto Santinato:
Muitos fatores podem afetar a disponibilidade do potássio no solo.
Assim, o entendimento do ciclo do potássio no solo se torna uma importante ferramenta para orientar a escolha das melhores estratégias para repor e alcançar os níveis ideais de potássio no solo.