Por ser considerado um nutriente essencial para plantas, o enxofre situa-se no grupo dos macronutrientes secundários, junto com o cálcio e o magnésio. Porém, assim como os demais nutrientes, ele depende de diversos processos para ser absorvido e assimilado pelas plantas. Veja a seguir como funciona a mobilidade do enxofre na planta!
Como o enxofre é absorvido pelas plantas?
Na natureza, o enxofre está inserido dentro de um ciclo biogeoquímico. Nesse ciclo, ele sofre constantes transformações que permitem a sua movimentação entre os organismos vivos e o ambiente geológico que, no contexto agrícola, correspondem às plantas e ao solo.
As transformações que ocorrem no ciclo do enxofre são mediadas principalmente pelos microrganismos do solo e levam à produção de diferentes compostos sulfurados, como:
- Dióxido de enxofre (SO2);
- Enxofre orgânico (R-SH);
- Enxofre elementar (S0);
- Tiossulfato (S2O3-2);
- Sulfato (SO4-2);
- Sulfito (SO3-2);
- Sulfeto (H2S).
A quantidade desses compostos sulfurados no solo geralmente é determinada tanto pelo tipo das reações bioquímicas quanto pelas condições do ambiente, que podem favorecer ou não essas transformações.
No artigo Nutrição e fertilização com enxofre e uso de gesso em plantações de eucalipto, José Henrique Tertulino Rocha e outros pesquisadores afirmam que mais de 90% do enxofre da camada superficial do solo encontra-se na forma orgânica e precisa ser mineralizado para ser disponibilizado para as plantas.
O processo de mineralização consiste na conversão de uma substância orgânica, no caso o enxofre orgânico (R-SH), a uma substância inorgânica, que é a forma pela qual as plantas absorvem os nutrientes.
Essa transformação do enxofre para formas biodisponíveis também acontece no processo de oxidação biológica do enxofre elementar (S0), em que ocorre a liberação progressiva do enxofre contido em alguns tipos de fertilizantes sulfatados.
Ambos os processos normalmente resultam na formação do sulfato (SO4-2), uma das formas de enxofre mais biodisponíveis para as plantas encontradas na solução do solo.
A maioria do enxofre encontrado nas células vegetais é obtido a partir da absorção radicular do sulfato. Entretanto, as folhas das plantas também conseguem absorver pequenas quantidades de enxofre na forma do gás dióxido de enxofre (SO2).
A absorção radicular do enxofre se dá através do mecanismo de fluxo de massa, em que o enxofre é carregado de um local de maior potencial de água para um de menor potencial de água, próximo a raiz.
Além disso, a absorção é um processo ativo, ou seja, que dependente de consumo de energia e da participação de transportadores de sulfatos presentes em diferentes tipos de células.
É o que afirma o pesquisador Stanley A. Barber, no estudo A diffusion and mass-flow concept of nutrient availability.
A partir desse ponto, o enxofre começa a transportado e usado nos mais diferentes processos metabólicos da planta.
O processo de assimilação do enxofre pelas plantas
Uma vez dentro da planta, o enxofre, na forma de sulfato (SO4-2), é translocado e distribuído através dos dois principais tecidos condutores constituintes do sistema vascular da planta: o xilema e o floema.
A translocação e distribuição do sulfato entre o floema e xilema é considerada fundamental para a redistribuição do enxofre. Sendo que, a principal forma de enxofre reduzido translocada via floema é a glutationa.
Contudo, como a entrada de sulfato no floema é restrita, a mobilidade do enxofre na planta acaba sendo pequena. Isso explica, em parte, porque a expressão dos sintomas de deficiência de enxofre geralmente se inicia nas regiões mais jovens na planta. Sendo esses sintomas geralmente caracterizados da seguinte maneira:
- Clorose uniforme, seguida do aparecimento de tons arroxeados a avermelhados nos órgãos vegetativos mais jovens;
- Redução do tamanho das folhas mais novas e encurtamento dos internódios;
- Produtos agrícolas com proteína de baixo valor biológico;
- Atraso na floração e na maturação das sementes e dos frutos;
- Menor nodulação em leguminosas.
Quando o sulfato chega ao seu destino final dentro da planta, começa o processo de assimilação que, em muitos aspectos, é similar à do nitrato (NO3–), a principal forma de nitrogênio absorvida pelas plantas.
Ainda no artigo Nutrição e fertilização com enxofre e uso de gesso em plantações de eucalipto, José Henrique Tertulino Rocha e seus colegas explicam que para ambas as formas o processo de redução é necessário para incorporação do enxofre e do nitrogênio a compostos orgânicos.
Entretanto, ao contrário do nitrato, o sulfato pode ser utilizado sem o processo de redução e incorporado a estruturas orgânicas essenciais, como os sulfolipídios.
O enxofre, uma vez incorporado aos compostos orgânicos, se torna pouco móvel no floema. Um dos poucos casos em que isso não acontece é nas folhas senescentes, ou seja, em processo de envelhecimento, nas quais o enxofre proteico é novamente oxidado a sulfato. Mas, de forma geral, redistribuição do enxofre praticamente não ocorre nas plantas.
É o que afirmam Konrad Mengel e Ernest A. Kirkby, autores do livro Principles of plant nutrition.
Mas, qual a importância do enxofre para as plantas?
A importância do enxofre para as plantas
Quanto à importância do enxofre para as plantas, a participação desse nutriente em diferentes compostos e substâncias o tornam um nutriente chave para a qualidade e produtividade de diferentes culturas.
Ele está envolvido com diversas funções nas plantas que vão desde a formação de aminoácidos e proteínas até o controle hormonal, fotossíntese e mecanismos de defesa das plantas contra pragas e doenças.
O enxofre está presente em diversas funções importantes das plantas.
Entretanto, é importante ressaltar que é muito importante trabalhar o equilíbrio dos nutrientes do solo. Um exemplo é a deficiência de fósforo, que pode levar a expressão de respostas negativas mesmo realizando a adubação com enxofre corretamente. Jáe a adição conjunta do nitrogênio e enxofre pode resultar em interação sinérgica entre esses dois nutrientes.
É o que explica Benjamin Dias Osorio Filho, em seu estudo Dinâmica do enxofre no sistema solo e resposta das culturas à adubação sulfatada.
Dessa maneira, o bom manejo do enxofre requer também atenção ao manejo dos outros nutrientes e o conhecimento dos processos nos quais esse nutriente está envolvido na fisiologia vegetal.
Entender sobre a mobilidade do enxofre na planta é essencial para otimizar a adubação com enxofre das lavouras
Tendo em vista os diferentes aspectos da mobilidade do enxofre na planta e a importância da sua participação no metabolismo vegetal, é possível concluir que o enxofre é um elemento indispensável para sistemas agrícolas saudáveis e produtivos.
Além disso, o melhor entendimento sobre a mobilidade do enxofre fornece pistas importantes para que o agricultor otimize a adubação com enxofre nas lavouras!