De maneira geral, o enxofre é o quarto nutriente mais exigido pelas culturas agrícolas. Entretanto, para que esse nutriente esteja em sua forma biodisponível para as plantas, ele geralmente precisa passar por uma série de transformações no solo. Entenda a seguir como funciona a dinâmica de enxofre no solo!
O ciclo do enxofre no solo
O início do ciclo do enxofre é marcado pela sua entrada no solo, seja de forma natural, através da deposição atmosférica pela água da chuva e solubilização de minerais, ou pela ação do homem, com a aplicação de compostos orgânicos e fertilizantes.
Nesse sentido, o uso de fertilizantes é muito relevante para a atividade agrícola: só de enxofre elementar, um dos fertilizantes sulfatados disponíveis no mercado, são consumidos cerca de 1,6 milhões de toneladas de enxofre elementar anualmente na agricultura brasileira. São informações do Jornal Informações Agronômicas 129, do International Plant Nutrition Institute (IPNI).
Dependendo da origem do enxofre adicionado ao solo, ele pode estar em diferentes formas, denominadas estados de oxidação. A quantidade desses estados do enxofre no solo, geralmente, é determinada pelas reações bioquímicas em que estão envolvidas ou até mesmo pelas condições do ambiente.
Fertilizantes sulfatados, por exemplo, fornecem a forma mais oxidada do enxofre dentro da escala oxidativa: o sulfato (SO4-2). Já fertilizantes que contêm enxofre elementar, como o próprio nome sugere, fornecem a forma mais estável do enxofre: o enxofre elementar (S0).
Além dessas duas formas de enxofre, também é possível encontrar outros compostos sulfurados no solo, como:
- Dióxido de enxofre (SO2);
- Enxofre orgânico (R-SH);
- Tiossulfato (S2O3-2);
- Sulfito (SO3-2);
- Sulfeto (H2S).
Cada um desses estados de oxidação do enxofre passa por diferentes transformações no solo, para que consigam ser absorvidos plantas.
A maioria do enxofre absorvido pelas plantas se dá com ele na forma de sulfato. Mas, as folhas das plantas também conseguem absorver pequenas quantidades de enxofre na forma do gás dióxido de enxofre (SO2).
Essas transformações do enxofre são, em sua maioria, mediadas em sua maioria pelos microrganismos do solo.
Cíntia Dutra Leal, especialista em Microbiologia Ambiental e Industrial pela Universidade Federal de Minas Gerais, explica que os microrganismos do solo, em especial as bactérias, desempenham importantes papeis tanto nas reações oxidativas como nas redutivas do ciclo do enxofre.
As reações de oxidação biológica estão presentes, por exemplo, na transformação elementar (S0) em sulfato (SO4-2) e a sua liberação progressiva do enxofre para a solução do solo. Vale lembrar que o sulfato é considerado a forma de enxofre mais biodisponível para as plantas.
Durante a oxidação biológica do enxofre, também pode haver a produção de compostos intermediários, como o tiossulfato (S2O3-2). Porém, ele é um composto sulfurado instável, principalmente em ambientes de pH mais ácido.
Representação esquemática do ciclo redox do enxofre, sendo o processo de oxidação indicados pelas setas amarelas e as reduções, pelas vermelhas.
Mas, se já existem fertilizantes que liberam o enxofre no solo diretamente absorvida pelas plantas, por que optar por fontes de enxofre que têm de passar por diferentes etapas de transformação?
Fertilizantes que contêm o enxofre na forma de sulfato, diferentemente dos que contêm enxofre elementar, não conseguem manter um equilíbrio entre a liberação de nutrientes e a taxa de absorção do enxofre pelas plantas. Isso porque todo o conteúdo de nutrientes começa a ser liberado logo após a sua aplicação.
O resultado negativo desse desequilíbrio é a lixiviação dos nutrientes, que pode gerar problemas econômicos e ambientais para o agricultor. São consequências como a contaminação dos lençóis freáticos e a salinização das áreas de cultivo, pela constante necessidade de reaplicação de insumos com elevado índice salino.
Como, então, alcançar o nível ideal de enxofre no solo?
O nível ideal de enxofre no solo
Segundo a Embrapa, o nível ideal de enxofre no solo pode ser alcançado analisando a sua disponibilidade de acordo com a textura do solo e em duas profundidades, 0 a 20 cm e 20 a 40 cm. Essa recomendação parte da tendência que o enxofre tem para se acumular na camada subsuperficial do solo, principalmente quando ele é fornecido na forma de sulfato.
Apesar de ainda existirem poucas informações relativas ao nível crítico de enxofre no solo para algumas culturas, que é aquele ponto em que o teor de um nutriente no solo atinge 90% da produção relativa da cultura, os valores tendem a ser menores nas camadas superficiais e maiores para as camadas subsuperficiais.
Também é importante se atentar no momento da escolha do método de análise das amostras de solo. Isso porque é preciso que sejam levados em consideração não somente os nutrientes presentes na solução do solo, mas também daqueles presentes na fase sólida do solo que conseguem passar para a solução, conhecidos como enxofre lábil.
Vale destacar que, embora não seja possível estipular uma dose de enxofre fixa para todas as realidades, o agricultor deve ter em mente que: a solubilidade em água e a disponibilidade de nutrientes devem ser conceitos tratados de forma diferente na hora da escolha dos fertilizantes para a lavoura.
Na hora de escolher fertilizantes para a lavoura, é preciso tratar de forma diferente os conceitos de solubilidade em água e disponibilidade de nutrientes.
Dessa forma, dentre as diferentes características que podem ser consideradas no momento da escolha da fonte de enxofre ideal, é recomendado observar principalmente características como:
- A forma de liberação do fertilizante;
- O tamanho da partícula;
- O efeito residual;
- O índice salino.
- O preço.
Entender sobre a dinâmica do enxofre no solo pode auxiliar no manejo da fertilidade do solo
Em resumo, entender mais sobre a dinâmica do enxofre no solo pode tornar o manejo da fertilidade do solo mais assertivo e eficiente.
Para isso, o agricultor deve sempre se atentar no momento de análise do solo e da escolha de fertilizantes, buscando optar por fontes de enxofre com um maior efeito residual e a liberação progressiva dos nutrientes para suprir as necessidades nutricionais das lavouras ao longo das diferentes safras agrícolas!