O boro é um micronutriente que tem funções essenciais no desenvolvimento das plantas e sua dosagem adequada na cultura do café pode fazer com que haja mais produtividade e rentabilidade. Mas, quais são os sintomas de deficiência e do excesso de boro na cafeicultura e como saber qual a dose ideal de boro para o café?
O papel do boro e a sua importância para o café
O boro é um elemento que foi descoberto em 1808 e que faz parte dos processos bioquímicos das plantas. Dentro da classificação dos nutrientes, o boro pertence ao grupo dos micronutrientes, o que não quer dizer que ele é menos importante no desenvolvimento das plantas e sim que é requerido em menor quantidade.
Entre outros processos, o boro tem funções essenciais nas plantas, como, por exemplo:
- Formação de novos tecidos;
- Síntese da parede celular;
- Lignificação;
- Garantia da integridade da membrana celular;
- Metabolismo de carboidratos e de hormônios vegetais;
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica.
No estudo Micronutrientes e metais pesados, mitos, mistificação e fatos, o renomado engenheiro agrônomo Eurípedes Malavolta chama a atenção para o fato de que muitas culturas no Brasil são deficientes em boro. Algumas, como o café, tem uma deficiência bastante elevada do nutriente.
Por isso, é preciso pensar no boro na hora de nutrir o cafeeiro. Nessa cultura em particular, o boro tem uma grande influência na florada, e sua presença interfere diretamente na produção do café. Mas, quais são os sintomas de deficiência de boro no café?
Quando há pouco boro disponível para os pés de café, os sintomas costumam aparecer em partes mais novas da planta, especialmente nas regiões de crescimento. Entre os sinais visuais, incluem-se:
- Redução de tamanho e deformação das folhas mais novas;
- Menor desenvolvimento das raízes;
- Seca e morte das gemas apicais, estruturas do caule que permitem o crescimento da planta;
- Abortamento de flores;
- Menor pegamento da florada.
Em decorrência disso, o crescimento dos pés de café e dos frutos do cafeeiro é prejudicado e, em consequência, a produtividade e a rentabilidade da lavoura decai.
Outra vantagem de ter níveis adequados de boro na lavoura é que esse elemento tem uma interação de sinergismo com o potássio, outro nutriente importante para o cafeeiro. Essa interação melhora a absorção de potássio pela planta, potencializando o manejo nutricional.
Em comparação com uma baixa concentração de boro (em amarelo), a presença adequada (em verde) desse elemento melhora a absorção de potássio (Fonte: Schon et al., 1990)
Entretanto, não basta apenas adubar o solo com grandes quantidades de boro, uma vez que a nutrição com esse elemento precisa ser equilibrada.
O desafio do equilíbrio na adubação com boro
Um dos grandes desafios na hora de realizar a adubação da lavoura com boro é que, como ele faz parte do grupo dos micronutrientes, as quantidades exigidas são bem menores que nutrientes como o potássio ou o nitrogênio.
Se por um lado a deficiência de boro traz sintomas que prejudicam o crescimento do cafeeiro, quando presente em excesso, pode haver efeitos de toxidez do elemento. No cafeeiro a toxidez provocada pelo boro causa o aparecimento de folhas manchadas de verde e amarelo e, em casos mais severos, a queima das bordas foliares.
Assim, a produtividade das plantas também decai, já que as folhas são responsáveis pela fotossíntese, meio pelo qual a energia para que o desenvolvimento vegetal aconteça é gerada.
Mas, então, como saber qual é a dose ideal de boro para o café?
Qual a quantidade ideal de boro para o café?
Como a diferença entre a dose ótima e a dose que causa fitotoxidez nas plantas é pequena, equilibrar a adubação com o boro é algo complexo e deve ser analisado com cuidado. Primeiro é preciso entender quais são as condições da lavoura antes de determinar qual é a dose ideal de boro.
Por exemplo, no estudo Resposta do Cafeeiro a Doses de Boro Via Solo na Região das Matas de Minas Gerais, André Zabini e outros pesquisadores concluem que a dose ideal de boro para o cafeeiro é de 3,94 Kg/ha (quilogramas por hectare).
Entretanto vale lembrar, que o estudo foi conduzido no município de Inhapim, MG, em lavoura cultivar Acauã com 3 anos de idade, espaçamento 2,60 x 0,60 m, irrigada por aspersão. A análise de solo do local indicou 0,34 mg/dm3 de B e 3,1% de matéria orgânica (MO).
Ao final do artigo, André Zabini e os outros autores ressaltam que é preciso sempre avaliar as condições da lavoura, considerando o teor de boro no solo, o teor de matéria orgânica, a textura do solo e o potencial produtivo da lavoura.
Portanto, o agricultor precisa estar sempre atento a todos os fatores que podem interferir no aproveitamento do boro pela planta, bem como as condições do solo na hora de planejar a nutrição com esse elemento.
O uso de ferramentas como a análise foliar também ajuda a ter uma visão mais clara de como a lavoura está respondendo à adubação. Mas, existem outros meios de garantir que a adubação com boro seja mais eficiente?
Usar fontes adequadas de boro é essencial para otimizar a adubação
O uso de fontes adequadas de boro é essencial para que a adubação com esse elemento seja mais eficiente. Fontes muito solúveis, como o ácido bórico, são mais suscetíveis à lixiviação no solo.
Isso faz com que parte do nutriente se perca para as camadas mais profundas do solo, fora do alcance das raízes, causando, a longo prazo, sintomas de deficiência. Além disso, essas fontes têm uma liberação muito rápida do boro, que pode causar uma superdosagem inicial e provocar sintomas de toxidez na lavoura.
Já fontes como a ulexita têm uma liberação gradual do boro, o que evita as perdas por lixiviação e reduz os riscos de uma dosagem elevada do elemento no solo e, em consequência, de fitotoxidez.
Estar atento aos parâmetros e condições do solo, bem como escolher fertilizantes adequados, é essencial para o agricultor que deseja nutrir bem a sua lavoura com boro!