Nas últimas décadas, a agricultura vem vivenciando a “redescoberta do magnésio”, visto a crescente limitação que esse nutriente vem impondo à produtividade dos sistemas agrícolas brasileiros. Mas, como fazer corretamente o manejo de magnésio no solo? Descubra a seguir!
Como enriquecer o solo com magnésio?
Absorvido na forma de um nutriente catiônico (Mg2+), o magnésio é um macronutriente secundário muito importante para as plantas.
Isso acontece porque ele participa ativamente de diversos processos metabólicos e outras funções essenciais para o crescimento e produtividade das culturas agrícolas.
Entretanto, os solos brasileiros são considerados, de modo geral, pobres em magnésio. Isso porque a maior parte do magnésio se encontra na fração retido na fração não trocável do solo e o intenso processo de formação e intemperismo pelo qual os solos brasileiros passaram acabaram levando a perdas de magnésio por lixiviação.
Entretanto, não são somente os fatores naturais que podem levar um solo a apresentar baixos teores de magnésio. A ação humana ainda contribui negativamente para esse fato, ao realizar manejos agrícolas incorretos nos solos da sua propriedade.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o manejo inadequado da calagem, da gessagem e da adubação no Brasil estão entre os principais fatores que têm acentuado as limitações que a ausência de teores adequados de magnésio no solo impõe nas lavouras.
E muitas dessas limitações estão relacionadas aos efeitos negativos dos sintomas de deficiência de magnésio nas plantas, que impactam diretamente no desempenho fotoquímico e no processo de fotossíntese das plantas resultando em perdas de produtividade significativas.
Na cultura do milho, por exemplo, a ausência de teores adequados de magnésio pode impacta negativamente na altura e massa seca das plantas, no número total de folhas, no diâmetro do colmo e do enchimento dos grãos.
É o que relata Luís Ignácio Prochnow, um dos autores do capítulo Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes do livro Milho.
Tendo em vista esses diferentes aspectos, como evitar os sintomas de deficiência de magnésio nas plantas e proporcionar um bom manejo de magnésio no solo? Algumas das principais boas prática de manejo desse nutriente no solo envolvem:
1. Alcançar o equilíbrio adequado de nutrientes no solo
No solo, os nutrientes estabelecem diferentes relações que podem favorecer ou não a sua disponibilidade para as plantas. E isso não é diferente com o magnésio.
Geralmente, o fenômeno que mais afeta a disponibilidade de magnésio para as plantas é a inibição competitiva, que acontece quando dois elementos competem pelo mesmo local de absorção nas membranas celulares da planta e diminuem a absorção daquele que estiver em menor concentração.
É o que explicam os pesquisadores do International Plant Nutrition Institute (IPN), no Jornal Informações Agronômicas 149.
No caso do magnésio, os dois principais nutrientes que podem interferir na sua absorção pelas plantas são o cálcio e o potássio. Tal fato acontece porque eles também são nutrientes catiônicos e ainda são absorvidos pelas mesmas estruturas vegetais, causando o efeito da inibição não competitiva.
O excesso de cálcio no solo, por exemplo, pode ser estabelecido em uma condição de supercalagem. Já o excesso de potássio, pode ser o resultado de uma análise de solo que subestimou o seu real estado de fertilidade, pela escolha inadequada do método de análise mais adequado.
Para se avaliar de maneira adequada a disponibilidade de potássio no solo, é importante levar em conta diversos fatores.
Assim, o primeiro passo para evitar a inibição competitiva do magnésio consiste na adoção de todas as boas práticas relacionadas à correção do solo e ao uso de fertilizantes.
Entretanto, a própria escolha do fertilizante pode induzir uma condição temporária de inibição competitiva, uma vez que fontes de liberação imediata tendem a elevar rapidamente os teores de nutrientes do solo em um curto espaço de tempo.
Para evitar esse desbalanço temporário de nutrientes que pode comprometer a absorção de magnésio pelas plantas, é interessante que o agricultor saiba escolher a fonte de magnésio mais adequada para a sua lavoura.
2. Escolher as fontes de magnésio mais adequados
Na hora de escolher a melhor fonte de magnésio para a sua lavoura, o agricultor deve ter em mente dois principais fatores: a manutenção do equilíbrio dos nutrientes do solo e disponibilidade de magnésio para as plantas.
Quando pensamos no uso de fontes de nutrientes na agricultura, é preciso entender que existe uma interdependência entre a liberação de nutrientes na solução do solo e a capacidade desse mesmo nutriente permanecer na região da rizosfera da planta para ser utilizado.
Por isso, o que se busca em um fertilizante é a disponibilidade de nutrientes e não a solubilidade em água. É o que destaca o renomado professor William Albrecht, no artigo Insoluble yet available.
Dessa forma, o melhor equilíbrio de nutrientes no solo e a melhor disponibilidade de magnésio para as plantas pode ser alcançado com a preferência pelo uso de fontes de magnésio de liberação progressiva e com longo efeito residual.
Isso porque essas duas características permitem um melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas ao longo do seu ciclo produtivo e mitigam as perdas de magnésio pelo processo de lixiviação.
Esse último aspecto é muito importante, uma vez que o magnésio possuiu uma grande mobilidade no solo.
3. Melhorar a capacidade de retenção de água e nutrientes do solo
Por fim, quando consideramos que o magnésio é um nutriente móvel no solo e que depende bastante da disponibilidade de água para ser absorvido pelas plantas, estratégias usadas para melhorar a capacidade de retenção de água e nutrientes do solo são imprescindíveis para melhorar o manejo de magnésio.
Como o magnésio é um nutriente catiônico, técnicas agrícolas que proporcionem o aumento da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo irão proporcionar a maior retenção temporária do nutriente na região da rizosfera das plantas.
Entre elas, pode-se destacar a incorporação de matéria orgânica e a prática de correção do solo.
Já a retenção de água do solo está muito relacionada a sua qualidade física. Por isso, a incorporação de insumos e fertilizantes que proporcionem o aumento da sua porosidade, associado também a manutenção da matéria orgânica do solo, são estratégias adequadas para serem adotadas pelo agricultor.
O bom manejo de magnésio no solo deve ir muito além da adubação
Considerando os diferentes pontos abordados, o bom manejo de magnésio no solo vai muito além da prática de adubação.
Dessa forma, quando mais holística for a visão do agricultor sobre a sua cadeia produtiva, mais surpreendentes podem ser os resultados colhidos com a aplicação de magnésio nas lavouras.
Para isso, é sempre importante que ele se atente as demais práticas de correção e adubação no solo, invista na construção da qualidade física, química e biológica do solo e uso os fertilizantes mais adequados para a sua realidade!