A instabilidade climática vivenciada nos últimos anos vem intensificando os períodos longos de seca e estiagem e tem se tornado uma das principais preocupações dos cafeicultores. Com o café (Coffea arábica L.) exigindo cerca de 800 a 1200 mm por ciclo de produção, é necessário criar mecanismos e alternativas para proteger a cultura em períodos de escassez hídrica.
A demanda hídrica na cultura do café
O café é uma das culturas que está inserida nos distintos microclimas que se formam por toda a extensão do território brasileiro. Com regiões com diferentes biomas, relevos, latitudes e longitudes, a cafeicultura é uma atividade que está sujeita a condições climáticas que podem potencializar os efeitos dos períodos de seca e estiagem.
Com a ocorrência de variações na disponibilidade hídrica ao longo do ciclo de produção, pode ocorrer a redução da qualidade do produto final e até mesmo da produtividade da cultura.
Essas consequências são agravadas principalmente se o período de estresse hídrico coincidir com a fase reprodutiva do café, já que ela exige uma grande demanda de água durante a floração e maturação dos frutos. Se prolongado, o estresse hídrico pode causar:
- Danos à floração e aos frutos;
- Redução do desenvolvimento de grãos;
- Morte das plantas.
Como o potencial produtivo da lavoura é determinado durante a florada e a qualidade final dos frutos durante a maturação, se torna imprescindível proteger a lavoura contra a seca durante essas fases.
A florada geralmente acontece entre os meses de setembro e novembro, durante a primavera. E quando todas as flores caem e restam apenas os chumbinhos, começa o período de maturação, que dura até o início de junho. (Fonte: Embrapa Rondônia)
Com os períodos de estiagem do país começando entre maio e junho e terminando entre setembro e outubro e os veranicos de janeiro a fevereiro, é possível perceber que a florada e o final do período de maturação se tornam pontos chaves para encontrar alternativas que protejam e garantam um suprimento adequando de água para o café.
Alternativas para proteger o café na seca
As alternativas para proteger o café na seca podem gerar efeitos de curto e longo prazo. Aquelas de curto prazo garantem uma solução momentânea para o problema. Já as de longo prazo precisam de um maior tempo de implementação, mas garantem resultados mais perenes que se refletem durante todo o ciclo da cultura.
O uso da irrigação é uma das alternativas de curto prazo, suprindo de forma imediata a demanda hídrica do café. Ela pode ser feita em área total, através dos sistemas de pivô central e aspersão, ou de forma localizada, por meio de sistemas gotejamento ou em lepa (no pivô).
Para a sua implementação, é necessário avaliar se é economicamente viável e buscar por profissionais especializados tanto para o projeto de implantação da irrigação como para orientações no manejo de água na lavoura.
O Dr. Ricardo Teixeira, engenheiro agrônomo, mestre e doutor em fisiologia vegetal, aponta as principais vantagens e desafios de se adotar um sistema de irrigação para a cultura:
Além da utilização de sistemas de irrigação para repor a água no solo, a fim de atender a demanda hídrica da cultura, outras estratégias visam reduzir e otimizar o uso da água pela planta. Para isso, nutrientes como o silício são utilizados.
O papel do silício na redução do estresse hídrico e outros benefícios desse elemento
Diversos estudos apontam o silício como um nutriente que fortalece a resistência das plantas contra os estresses hídricos. A forma como isso acontece é explicada pelos pesquisadores de duas maneiras:
- Pelo fortalecimento dos tecidos vegetais. o que evita a perda de água pelo processo de transpiração;
- Através da regulação dos processos bioquímicos, em que os processos de interação do silício com a atividade biológica sãodiferentes para cada espécie.
Estudos como o artigo Intensidade máxima de fluorescência e parâmetros O-J-I-P do café conilon em função de corretivos de solo e déficit hídrico, do Dr. Fábio Rei Pires e outros pesquisadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES), mostram que a nutrição com silício tem influência positiva no cultivo de café sob estresse hídrico.
Além disso, o silício também tem gerado outros efeitos benéficos para a cultura, com o controle de nematoides e redução da intensidade de doenças no campo.
No artigo Biochemical responses of coffee resistance against Meloidogyne exigua mediated by silicon, o Dr. Fabrício e seus colegas inocularam ovos do parasita Meloidogyne exigua em cultivares de café Coffee arabica.
Os resultados mostraram que os pés de café tratados com silício apresentaram resultados positivos na atividade das enzimas peroxidase de fenóis (POX), polifenoloxidase (PPO) e fenilalanina amonialiase (PAL), o que melhorou a resposta do cafeeiro às infeções parasitárias.
A ação dessas enzimas também é responsável por reduzir os efeitos da ferrugem e da mancha do olho pardo no café, conforme evidenciado na revisão O Silício no controle de doenças de plantas, os pesquisadores Edson Ampélio Pozza, Adélia Aziz Alexandre Pozza e Deila Magna dos Santos Botelho.
Por fim, outro passo importante é melhorar a estrutura do solo, aumentando a sua capacidade de retenção de água.
A escolha dos insumos e fertilizantes tem grande influência nesse importante parâmetro, já que o excesso de cloro presente em fertilizantes como o Cloreto de Potássio (KCl), diminui a umidade do solo e reduz a qualidade da bebida.
Utilizando novas fontes de nutrição como ferramenta contra as secas
É necessário buscar novas fontes de nutrição com mais vantagens e benefícios, que ajudam o agricultor a se preparar melhor para enfrentar condições climáticas desfavoráveis.
Assim, o agricultor passa a ter ferramentas para lidar as secas: o uso da irrigação, a complementação da nutrição do café com o silício e a escolha assertiva de fertilizantes para melhorar a estrutura do seu solo para maior retenção de água.