Aplicação de potássio em diferentes tipos de solo: como fazer?

Aplicação de potássio em diferentes tipos de solo: como fazer?

Na hora de pensar no manejo de potássio na agricultura, é preciso levar em consideração uma série de fatores. Entre elas, está o tipo de solo onde vai ser cultivada a lavoura. Existem variados tipos de solo e cada um exige cuidados específicos. Então, como o agricultor pode fazer uma boa aplicação de potássio em diferentes tipos de solo? 

O que é a textura do solo?

Quando se fala em tipos de solo, normalmente se fala dos diferentes tipos de textura possíveis. E diferentes tipos de solo requerem diferentes estratégias de aplicação de potássio.

A textura de um solo é, em resumo, uma propriedade física que diz respeito às proporções de areia, silte e argila presentes nele, de acordo com o seu tamanho.

Existem 14 classes texturais descritas, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Essas classes, por sua vez, podem ser reunidas em três grandes grupos: os solos argilosos, os solos arenosos e os solos siltosos.

Triângulo de classificação textural de solos (Fonte: Lemos & Santos, 1984)

Triângulo de classificação textural de solos (Fonte: Lemos & Santos, 1984)

Através da análise de solo, o agricultor consegue identificar qual é a textura do solo da sua lavoura e, a partir disso, planejar o manejo de fertilizantes mais adequado e pensar formas mais eficientes de realizar a aplicação de potássio.

Dois tipos importantes de solo que podem ser encontrados no Brasil são os solos arenosos e os solos argilosos. E, quais estratégias que podem ser utilizadas na adubação potássicas desses tipos de solo?

Cuidados na aplicação de potássio em solos arenosos

Os solos arenosos também são conhecidos como “solos leves”. A sua característica principal, como o nome sugere, é ter uma grande presença de partículas de areia, com pelo menos 85%.

O termo areia aqui identifica as partículas do solo que têm um tamanho maior que 0,05mm e que sejam menores ou iguais a 2,00mm.

No Brasil, os solos arenosos são mais predominantes na região Nordeste. Entretanto, é possível encontrá-los em outros estados, como Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Em relação às propriedades físico-químicas dos solos arenosos, se destacam:

  • A textura granulosa, que pode variar entre grânulos grossos, médios e finos;
  • A alta porosidade e permeabilidade, consequências do arranjo das partículas do solo;
  • O baixo nível de umidade;
  • Os baixos teores de nutrientes;
  • O baixo teor de matéria orgânica;
  • O pH ácido;
  • A alta possibilidade de erosão.

Essas características trazem maior dificuldade para a realização da atividade agrícola neles, incluindo a aplicação de potássio.

Entretanto, de acordo com Ademir Fontana e outros pesquisadores, autores do artigo Solos arenosos: a nova fronteira agrícola brasileira, as demandas de produção agrícola cada vez mais altas fizeram com que esse tipo de solo também se tornasse importante para o setor.

Com relação aos cuidados na hora de pensar a aplicação de potássio em solos arenosos, o agricultor precisa estar atento à mobilidade desse nutriente.

Nesse tipo de solo, os íons K+, forma com que o potássio é normalmente encontrado na natureza e é absorvido pelas plantas, têm uma mobilidade maior no perfil do solo que naqueles de texturas mais argilosas.

Isso acontece tanto por causa propriedades físico-químicas do solo arenoso e quanto do próprio potássio. É o que José Carlos Polidoro e Paulo César Teixeira explicam no artigo Adubação potássica em solos arenosos.

Eles ainda ressaltam que isso favorece a lixiviação do potássio, em especial quando na aplicação de potássio são utilizadas fontes com alta solubilidade em água, como o Cloreto de Potássio (KCl).

Então, como o agricultor pode superar os desafios da aplicação de potássio em solos arenosos? Para Ademir Fontana e seus colegas, a solução está na adoção de novas tecnologias agrícolas, juntamente com outras boas práticas:

“Isso acontece especialmente pela adoção de novas tecnologias – fertilizantes, sementes e outros insumos – associadas a ajustes no manejo da correção e adubação do solo, aumento dos teores de matéria orgânica e do controle de pragas, doenças e plantas invasoras.”

É o que eles afirmam no estudo Solos arenosos: a nova fronteira agrícola brasileira.

Entre as novas tecnologias na área de fertilizantes, têm se destacado as fontes de liberação gradual de potássio. Isso porque elas são menos suscetíveis à lixiviação. É o caso, por exemplo, de fertilizantes que utilizam matérias-primas ricas em glauconita, por exemplo.

Utilizada como fertilizante potássico nos Estados Unidos desde 1760, a glauconita é um mineral que, além de ser rica em potássio, ela tem propriedades que melhoram aspectos do solo que contribuem para uma adubação mais eficaz em solos arenosos.

Entre essas propriedades, está o aumento da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo, que ajuda na retenção do potássio. Isso acontece por causa das cargas de íons negativos que estão na estrutura da molécula da glauconita e que atraem os íons positivos, como o do potássio (K+).

A estrutura física da glauconita também faz com que existam pequenos espaços entre as partículas dela. Dessa maneira ela consegue adsorver determinados nutrientes presentes no ambiente em que ela está e também favorecer a retenção de água do solo.

É o que afirma o Dr. John Tedrow, pesquisador da Rutgers, The State Universty of New Jersey, em seu artigo Greensand and Greensand Soils of New Jersey: A Review:

“Os efeitos benéficos da glauconita no solo parecem estar proximamente relacionados a uma combinação de fatores, como ter uma alta capacidade de absorção de nutrientes do solo e uma capacidade de retenção de umidade relativamente alta.”

Representação da estrutura física da glauconita, que permite que haja um aumento da capacidade da retenção de água e nutrientes.

Representação da estrutura física da glauconita, que traz melhorias para o solo

Além da aplicação de potássio com esses fertilizantes que têm a glauconita como matéria-prima, o uso de técnicas que aumentem a matéria orgânica do solo, como a compostagem, também favorece a CTC do solo.

Aqui, fertilizantes que sejam livres de cloro ajudam nesse sentido, uma vez que o excesso de cloro prejudica a saúde da microbiota do solo, que é fundamental para o sucesso da compostagem.

E para os solos argilosos? Como o agricultor pode otimizar a aplicação de potássio? 

Dicas para otimizar a aplicação de potássio em solos argilosos

Os solos argilosos estão no espectro “oposto” aos solos arenosos, sendo conhecidos como “solos pesados”. A sua característica definidora é a presença de partículas de argila, que são muito pequenas, com tamanho inferior a 0,002 mm.

Vale notar que, para ser classificado como argiloso, é preciso que 30% ou mais da composição de um solo seja de argila. E, em alguns casos, a proporção dessas partículas pode chegar até 60%.

Correspondendo a pouco mais de 26% dos solos do Brasil, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os solos argilosos são em grande parte representados pelos argissolos. No Brasil, entre os locais com ocorrência desse tipo de solo estão:

  • São Paulo;
  • Santa Catarina;
  • A região Nordeste;
  • A região norte do estado do Rio Grande do Sul;
  • Sudoeste de Minas Gerais.

Dentre principais propriedades desse tipo de solo, que vão ter um impacto na aplicação de potássio durante o manejo, estão:

  • A alta retenção de água;
  • A alta impermeabilidade;
  • A facilidade de encharcamento;
  • A acidez moderada;
  • A alta retenção de nutrientes;
  • O favorecimento da compactação em determinados contextos.

Entre os desafios do manejo de potássio em solos argilosos, um dos principais é a correção do solo, em especial com o uso de técnicas como a calagem.

Isso porque a aplicação de calcário para a correção desse tipo de solo costuma ser maior que nos demais. Entretanto, é preciso que o agricultor esteja atento para não aplicar calcário em excesso, incorrendo na chamada super calagem.

A super calagem provoca a mineralização excessiva da matéria orgânica, tornando-a muito mais vulnerável ao processo de lixiviação. Além disso, ela ainda pode afetar relações importantes entre os nutrientes do solo.

Relações como a que existe entre o cálcio, o magnésio e o potássio. Esses nutrientes têm propriedades físico-químicas desses três nutrientes que fazem com que haja a necessidade de um equilíbrio deles no solo.

Quando isso não acontece, eles entram em uma relação de inibição competitiva, prejudicando a eficiência da adubação. Dessa maneira, as ações corretivas que usam o calcário devem ser implementadas com muito cuidado para não prejudicar a aplicação de potássio em solos argilosos.

Além disso, o agricultor precisa estar atento à maior facilidade de compactação desse tipo de solo. Geralmente, ela acontece em decorrência do excesso de entrada de máquinas na lavoura.

Aqui, novamente o uso das fontes de liberação gradual favorecem a aplicação de potássio nos solos argilosos. Isso porque, graças a características dessas fontes fazem com que elas tenham um efeito residual duradouro no solo.

Assim, os níveis de potássio do solo são mantidos por mais tempo, ajudando a construir e manter a fertilidade do solo.

A longo prazo isso ajuda a reduzir o número de entradas na lavoura que, como visto, é um dos principais fatores que podem levar à compactação dos solos argilosos. Além disso, o manejo é otimizado, ajudando inclusive na redução de custos.

O uso de fontes de potássio de liberação gradual pode ajudar a reduzir os custos do agricultor

Os fertilizantes que utilizam matérias-primas ricas em glauconita também são favoráveis à aplicação de potássio em solos argilosos, graças à capacidade de preservar a CTC, característica que faz com que esse tipo de solo seja favorável à atividade agrícola.

Dessa maneira, com esses cuidados, o agricultor consegue tornar o manejo do potássio em solo argiloso otimizado e mais eficaz.

Fontes ricas em glauconita, juntamente com outras práticas, beneficiam a aplicação de potássio em variados tipos de solo

Em conclusão, podemos perceber que, dentre os fatores que precisam a forma como o manejo nutricional da lavoura é pensado, o tipo de solo é bastante relevante.

Nesse sentido, o uso de fontes de potássio de liberação gradual, especialmente aquelas feitas com matérias-primas ricas em glauconita, é benéfica para a aplicação de potássio em diferentes tipos de solo, como o solo arenoso e o solo argiloso.

Tendo isso em mente, juntamente com o auxílio de ferramentas como a análise de solo bem realizada e o apoio de agrônomos competentes, o agricultor consegue realizar um bom manejo do potássio nos mais variados tipos de solo!

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