A agricultura orgânica tem atraído os consumidores brasileiros: até 36% deles estão mais dispostos a pagar mais caro por alimentos orgânicos. É o que mostra o estudo “Perfil do Consumidor Consciente”, publicado em 2020 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mas, de onde vem essa motivação? A resposta pode estar na crescente busca por uma alimentação mais saudável e nutritiva.
A cadeia de produção dos alimentos orgânicos
Os alimentos orgânicos são aqueles obtidos em uma cadeia produtiva agropecuária e industrial que dispensa o uso de insumos como pesticidas sintéticos, fertilizantes químicos, medicamentos veterinários, organismos geneticamente modificados, conservantes, aditivos e irradiação da produção a comercialização.
Segundo o Art. 1o, da Lei 10.831/03, esse sistema de produção orgânico tem por objetivo:
- Sustentabilidade econômica e ecológica;
- Maximização dos benefícios sociais;
- Minimização da dependência de energia não-renovável.
Nos Estados Unidos, a agricultura orgânica era muito praticada até antes da Segunda Guerra Mundial. Após isso, muitos produtores abriram mão da produção orgânica em favor de produzir em grande escala.
Até 1995, mais de 45 milhões de toneladas de fertilizantes químicos foram utilizados na agricultura norte-americana. (Fonte: Brett Jordan – Unsplash)
Já no Brasil, o fortalecimento da agricultura orgânica surgiu com a regularização da cadeia produtiva a partir de 1999 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Apesar do começo mais tardio, esse sistema de produção esteve em constante crescimento no país e chegou a movimentar 5,8 bilhões de reais em 2020, segundo o Diretor da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis).
Porém, há muito mais a ser analisado do que a mudança do método de produção e o potencial econômico da agricultura orgânica. Estudos ao longo do século XX tentaram responder se o tipo de produção, orgânica ou com fertilizantes químicos, afeta o conteúdo nutricional dos alimentos.
Esse questionamento surgiu em busca de alternativas para favorecer ainda mais a expectativa de vida das populações. Com os diversos avanços tecnológicos obtidos ao longo das décadas, diversas evidências científicas começaram a correlacionar a alimentação com a boa saúde.
Diante disso, como os produtos orgânicos podem ser uma solução para uma alimentação mais saudável e nutritiva?
A qualidade nutricional dos alimentos orgânicos
Para avaliar e contabilizar a qualidade nutricional dos alimentos orgânicos, diversos estudos foram sendo realizados ao longo das décadas acerca do tema. Dentre eles, destaca-se os resultados publicados na revista norte-americana Journal of Alternative and Complementary Medicine.
Na revista, encontram-se os resultados do artigo Nutritional Quality of Organic Versus Conventional Fruits, Vegetables, escrito pela pesquisadora Virginia Worthington . Ela, ao longo de vários anos, analisou 41 estudos e comparou os nutrientes disponíveis nos alimentos cultivados organicamente e nos cultivados de maneira tradicional, estando entre eles:
- Cálcio;
- Magnésio;
- Potássio;
- Sódio;
- Zinco;
- Cobre;
- Manganês;
- Ferro;
- Fósforo;
- Vitamina C;
- Betacaroteno;
- Nitratos.
Os resultados evidenciaram que em mais da metade dos nutrientes avaliados, as culturas orgânicas apresentaram maiores valores e níveis menores de nitrato (composto tóxico), quando comparadas as culturas tradicionais.
Além disso, os teores de vitamina C, ferro, magnésio e fósforo foram mais significativos para as culturas orgânicas. A quantidade de vitamina C em frutas e vegetais orgânicos, por exemplo, pode ser até 27% maior do que em frutas e vegetais convencionais.
Os valores nutricionais positivos da agricultura orgânica, encontrados em estudos como os da pesquisadora Virginia Worthington, podem estar diretamente relacionados à forma de cultivo.
O cuidado com o solo, através do uso de rotação de culturas, implementação de culturas de cobertura, adubação verde e a adição de compostos orgânicos são fatores que influenciam diretamente na preservação da matéria orgânica e mantêm o solo nutrido para as plantas.
Para fins de adubação verde, as leguminosas anuais mais usadas são: crotalárias, feijão-de-porco, mucunas, feijão-caupi e guandu. Enquanto as perenes mais utilizadas são: amendoim forrageiro, calopogônio, galáxia, cudzu tropical e siratro. (Fonte: PORPINO, G. – Embrapa)
No entanto, os fatores que sustentam um sistema de produção orgânico elevam o preço para o consumidor final, dificultando o acesso para muitas famílias. Publicado na revista Pesquisa e Tecnologia, o destaca os principais fatores para os elevados preços dos alimentos orgânicos no mercado, como sendo:
- Necessidade de certificação;
- Período de conversão do sistema de produção;
- Barreiras de isolamento para vizinhos não orgânicos;
- Maior demanda de mão de obra;
- Menor produtividade e a escala de produção;
- Baixa oferta no mercado;
- Assistência técnica deficiente ou inexistente.
Mesmo com esses desafios para o agricultor, os consumidores brasileiros tem se mostrado cada vez mais dispostos a investir mais nos produtos orgânicos. Segundo o estudo do “Perfil do Consumidor Consciente”, publicado em 2020 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), os brasileiros estão se mostrando mais dispostos a pagar mais caro por alimentos orgânicos.
A disposição dos brasileiros dispostos a pagar mais por produtos orgânicos varia de acordo com a renda das famílias. (Fonte: CNI)
Com isso, cada vez mais agricultores estão se sentindo motivados a começar um sistema de produção orgânica. Mas por onde começar?
Os requisitos para começar a produzir produtos orgânicos no Brasil
Para que um agricultor comercialize seus produtos no Brasil como “orgânico”, a produção deve ser regularizada obtendo-se uma certificação por um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) credenciado no MAPA ou ainda realizar a venda indireta sem certificação cadastrando-se junto ao MAPA.
Além disso, o sucesso da transição do sistema de produção convencional para orgânico depende de um bom Plano de Manejo Orgânico (PMO) e a prospecção de insumos eficientes e aprovado para a agricultura orgânica, como é o caso dos fertilizantes multinutrientes da Verde produzidos a partir do Siltito Glauconítico.
Assim, o agricultor pode dar seus primeiros passos em direção a uma produção mais sustentável de alimentos orgânicos que contribuem para a saúde das pessoas e do Planeta.