O potássio é um nutriente de elevada importância para a cana-de-açúcar. Por isso, para que o agricultor alcance e mantenha altas produtividades na lavoura, é preciso realizar de forma eficiente o manejo desse nutriente. Veja 3 dicas para otimizar a adubação com potássio na cana!
Para que serve o potássio na cana-de-açúcar?
O potássio é um nutriente do grupo dos macronutrientes primários. Na prática, isso significa que ele não somente é essencial para o crescimento das plantas, mas também é requerido em grande quantidade por elas.
De maneira geral, o potássio é o segundo nutriente mais requerido pelas plantas. Na cultura da cana, entretanto, ele chega a ser o nutriente mais extraído pelas plantas durante a fase de crescimento.
É o que Emílio Cantídio Almeida de Oliveira e outros pesquisadores observaram no estudo Extração e exportação de nutrientes por variedades de cana-de-açúcar cultivadas sob irrigação plena.
Para se ter uma ideia, nesse trabalho, os pesquisadores verificaram que a extração de potássio pela cana-de-açúcar foi treze vezes maior que a de fósforo, que também é outro macronutriente primário.
Esse alto requerimento de potássio é um reflexo das principais funções que esse nutriente exerce no metabolismo e na fisiologia vegetal, entre as quais podemos citar:
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica;
- Fotossíntese;
- Transporte de fotoassimilados no floema;
- Crescimento celular;
- Melhoria da qualidade de flores e frutos;
- Regulação do potencial hídrico das células;
- Amenização de estresses bióticos e abióticos.
Na cultura da cana-de-açúcar, essas funções e uma nutrição adequada com potássio podem trazer muitos benefícios, entre eles:
- O estímulo da vegetação e do perfilhamento da cultura;
- O auxílio na fixação de nitrogênio, em função da atividade na redutase do nitrato;
- A regulação da utilização de água e diminuição da sensibilidade a mudanças climáticas, pragas e doenças.
Assim, tendo em vista esses benefícios e a relevância do potássio nessa cultura, é importante que o agricultor tenha um bom manejo da adubação com potássio na cana para alcançar e manter bons níveis de produtividade e qualidade na lavoura.
Isso é particularmente relevante no Brasil, em que a maioria dos solos tem baixa disponibilidade de potássio, segundo afirma a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no documento Aspectos relacionados ao mapeamento da disponibilidade de potássio nos solos do Brasil, da Embrapa.
Seguir algumas dicas e estar atento a alguns fatores na hora de pensar o manejo podem ajudar a otimizar a adubação com potássio na cana, como por exemplo:
1. Ter um bom conhecimento da lavoura e das condições do solo
Um dos primeiros passos para que a adubação com potássio na cana seja mais eficiente é ter um conhecimento amplo das condições de solo e da lavoura. Mas, o que isso significa?
O conhecimento do solo se refere tanto às suas características físico-químicas quanto ao seu estado de fertilidade. Isso pode ser alcançado através do uso de métodos como a análise do solo.
Nesse sentido, é importante ter em mente o ciclo produtivo da cana-de-açúcar. A cana é uma cultura semi-perene, ou seja, ela tem o ciclo mais longo que as culturas anuais, mas não é tão extenso quanto às culturas perenes.
Nesse ciclo, a cana recebe diferentes denominações de acordo com a época do corte: cana-planta quando ela é plantada e recebe o primeiro corte; e cana-soca nas brotações e cortes subsequentes.
Na hora de realizar a análise de solo, essas fases devem ser levadas em consideração, já que a amostragem para cada uma delas é diferente. De acordo com o Instituto Brasileiro de Análises (IBRA), a recomendação é de que:
- Para cana-planta: a amostragem de solo deve ser realizada três meses antes do plantio, recolhendo 15 subamostras de solo em “zig-zag” de uma área uniforme nas profundidades de 0-20 a 20-40cm;
- Para cana-soca: a amostragem de solo deve ser realizada logo após o corte, retirando amostras de solo a cerca de 20-25cm da linha.
No caso da cana-soca, o local da amostragem também influencia na recomendação da adubação potássica e de outros nutrientes, da seguinte maneira:
- Amostras retiradas da linha de plantio podem superestimar os teores de potássio e fósforo;
- Amostras retiradas da entrelinha de plantio podem superestimar os teores de magnésio e cálcio.
Assim, é preciso que o agricultor esteja atento a isso na hora de fazer a análise do solo. Todavia, o método através do qual essa análise é feita também é muito relevante para otimizar a adubação com potássio na cana.
2. Utilizar os métodos adequados para fazer a análise de potássio
Quando se faz uma análise de solo para entender o teor de potássio no solo, é preciso que os métodos sejam padronizados e relacionados com o teor de potássio (K) na planta, em uma simulação de absorção.
Isso porque o objetivo da análise de solo é fazer uma espécie de simulação da quantidade que a planta vai absorver.
Acontece que o potássio é extraído do solo através de substâncias chamadas extratores. Todavia, existem diversos extratores que podem ser utilizados na hora de realizar a análise do solo.
Embora não exista um extrator universal e mais correto que o outro, é preciso entender que cada um tem as suas particularidades e funciona melhor para entender qual é o real estado de fertilidade do solo em determinadas situações.
No caso do potássio, os métodos mais utilizados nos laboratórios conseguem extrair apenas o potássio que é disponibilizado mais rapidamente para as plantas, que corresponde ao “reservatório” da solução do solo e da fração trocável.
Acontece que, considerando a dinâmica do potássio no solo, pode-se dividir a sua presença em um determinado solo em diferentes “reservatórios”.
Tais reservatórios são depósitos do nutriente com determinadas características físico-químicas que fazem com que a velocidade que eles ficam disponíveis para as plantas sejam diferentes.
E já existem estudos que mostram que as plantas têm capacidade de absorver o potássio dos outros reservatórios.
Michael J. Bell e outros pesquisadores, por exemplo, explicam no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops:
“No entanto, quando o K adequado precisa ser fornecido ao longo de períodos de tempo mais longos (como ocorre com a remoção repetida de biomassa no cultivo de forragem, ou perenes, ou culturas de alta demanda de K de biomassa, como a cana-de-açúcar), há muitos solos a partir dos quais as plantas são capazes de extrair mais do que o reservatório de K inicialmente trocável.”
Uma forma de entender isso imaginar que é os reservatórios de potássio do solo são como caixas d’água contendo o nutriente: à medida que o nutriente dos reservatórios de disponibilidade mais rápida é retirado pelas plantas e vai se esgotando, os outros reservatórios vão “repondo” esse potássio.
Ciclo do potássio, em uma visão ampliada que leva em conta os diferentes reservatórios de potássio do solo (Fonte: Adaptado de Bell et al, 2021)
Assim, Michael J. Bell e seus colegas ressaltam que é importante avaliar qual é o método de análise de potássio mais adequada, já que existem diversos tipos de extratores que conseguem fornecer visões mais completas do real estado de fertilidade do solo.
Isso é fundamental para o terceiro passo para a realização de uma adubação com potássio na cana que seja otimizada.
3. Escolher bem as fontes de potássio
Um bom conhecimento da lavoura, feito através da análise de solo adequada, é importante para que o agricultor possa tomar decisões assertivas na hora de pensar o manejo do potássio na cana.
Isso inclui não somente quando e quanto aplicar de potássio, momento em que é preciso também ter em mente coisas como a cultivar utilizada e as expectativas de produtividade, mas também qual a fonte de potássio utilizar.
Na agricultura, a fonte de potássio mais utilizada é o Cloreto de Potássio (KCl), em razão do seu alto teor de potássio e da sua rápida disponibilização do nutriente. Entretanto, esse fertilizante também tem limitações que podem gerar consequências negativas para a lavoura.
O teor de cloro do KCl, por exemplo, é bastante alto: ele é composto por aproximadamente 47% de cloro. Esse micronutriente, embora seja necessário para as plantas, é requerido em quantidades mínimas que normalmente o próprio solo já fornece.
Assim, quando se utiliza fontes com alto teor de cloro na adubação, é aplicado um excesso de cloro no solo. Isso traz problemas para as plantas, como a fitoxidez e para o solo, como aumento da salinidade, da compactação e o prejuízo da microbiota.
Esses problemas, além de prejudicarem o aproveitamento da própria adubação potássica na cana, trazem impactos negativos para a cana. A compactação, por exemplo, pode comprometer o desenvolvimento radicular da cana-de-açúcar, prejudicando o bom desenvolvimento da cultura.
A cana-de-açúcar é muito afetada pela compactação do solo, já que apresenta cerca de 85% do seu sistema radicular concentrado em até 50cm de profundidade. (Fonte: SAROL et al, 2020)
Já no estudo Nutrição potássica em soqueira de cana-de-açúcar colhida sem queima, o pesquisador Hilário Júnior de Almeida destaca que o excesso de cloro do KCl pode ser um fator limitante no crescimento e na produtividade de colmos da cana-de-açúcar.
Além disso, ele avalia que a alta salinidade dessa fonte também teve influência no rendimento mais baixo da lavoura.
Assim, a opção por fontes livres de cloro é uma estratégia interessante para otimizar a adubação com potássio na cana. Fontes de liberação gradual dos nutrientes também são importantes para evitar outro efeito a que as fontes convencionais de potássio são mais sujeitas: a lixiviação.
Aqui, a análise de solo utilizando métodos corretos é importante para acompanhar a eficácia dessas fontes, que também têm um efeito residual duradouro que ajuda a construir e manter a fertilidade do solo.
Realizar uma boa adubação com potássio na cana ajuda a ter mais produtividade e qualidade na lavoura
Em resumo, dadas as funções do potássio nas plantas e a alta exigência da cultura, a adubação com potássio na cana é muito importante para que o agricultor consiga alcançar e manter altas produtividades, além de melhorar a qualidade do que é produzido.
O conhecimento amplo da lavoura, o uso de métodos de análise de potássio adequados e a escolha do fertilizante adequado podem ter um impacto significativo no manejo desse nutriente tão importante para a cana.
Além disso, a complementação do manejo com técnicas que favoreçam a saúde da microbiota do solo e melhorem parâmetros como a capacidade da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo são estratégias que favorecem a adubação com potássio na cana!