Dada a importância do potássio na fisiologia e no metabolismo das plantas, é importante que o agricultor esteja atento aos níveis desse nutriente no solo. Nesse âmbito, a adubação potássica é essencial, já que os solos brasileiros apresentam baixa disponibilidade de potássio. Conheça 3 práticas que aumentam a eficiência da adubação potássica!
Qual é a importância do potássio para as plantas?
Dentre os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas, o potássio se encontra no grupo dos macronutrientes primários.
Isso significa que ele é requerido em altas quantidades. Embora as necessidades variem de espécie para espécie, de maneira geral o potássio acaba sendo o segundo nutriente mais exigido pelas plantas.
Esse alto nível de requerimento está ligado às importantes funções que o potássio exerce no metabolismo e na fisiologia vegetal. Entre elas, podemos citar:
- A ativação enzimática;
- A síntese proteica;
- A fotossíntese;
- O transporte de fotoassimilados no floema;
- O crescimento celular;
- A melhoria da qualidade de flores e frutos;
- A regulação do potencial hídrico das células;
- A amenização de estresses bióticos e abióticos.
Por ser tão relevante para o desenvolvimento das plantas, é importante que os níveis de potássio estejam sempre adequados para o sucesso da atividade agrícola, o que geralmente é feito através da adubação.
Isso se torna ainda mais relevante no contexto brasileiro: de acordo com dados do estudo Aspectos relacionados ao mapeamento da disponibilidade de potássio nos solos do Brasil, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a maioria dos solos do Brasil apresenta uma baixa disponibilidade de potássio.
Entretanto, somente aplicar fertilizantes no solo não significa que a adubação será bem-sucedida. Diversos fatores podem interferir e fazer com que o agricultor conduza o manejo do potássio de maneira ineficaz e pouco efetiva.
Práticas para melhorar a eficiência da adubação potássica
Diante disso, o agricultor pode adotar algumas práticas que podem aumentar a eficiência da adubação potássica na lavoura:
1. Conhecer amplamente as condições da lavoura
Um dos primeiros passos para melhorar a eficiência da adubação potássica é ter um conhecimento amplo das condições do solo e da lavoura. Isso inclui, entre outros, fatores como:
- O tipo de solo;
- A quantidade de potássio do solo;
- A demanda de potássio da cultura que vai ser cultivada.
Inicialmente, para entender bem o solo, o agricultor pode lançar mão da análise de solo. É ela que vai ajudar a entender se o solo é arenoso ou argiloso, os níveis de acidez e a capacidade de troca catiônica (CTC), além dos níveis potássicos do solo.
Aqui, é importante que ele esteja atento ao método de análise que vai ser utilizado, especialmente para mensurar a quantidade de potássio no solo. Normalmente, os métodos mais utilizados nos laboratórios de análise avaliam o potássio contido nos “reservatórios” de disponibilidade mais imediata do nutriente: a solução e o potássio trocável.
Entretanto, estudos já têm mostrado que o potássio de outros reservatórios do solo também pode ser utilizado pelas plantas, como o potássio não-trocável.
É o que Michael J. Bell e outros pesquisadores explicam no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.
Nesse mesmo estudo eles postulam a necessidade de se ampliar a visão do ciclo do potássio no solo:
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: adaptado de Bell et al., 2021)
Assim, com um conhecimento mais amplo e que leve em consideração outros reservatórios potássicos do solo, o agricultor consegue tomar decisões mais assertivas na hora de planejar o manejo do solo.
Tais decisões incluem ações de correção adequadas, bem como o uso de práticas que melhorem a CTC do solo e também a escolha de fontes adequadas de potássio para a adubação.
2. Escolher as fontes de potássio adequadas
A escolha da fonte de potássio a ser utilizada também é algo que pode influenciar a eficiência da adubação potássica.
Devido às suas características físicas e químicas, o potássio é um dos nutrientes mais suscetível à lixiviação. Esse fenômeno faz com que haja um deslocamento do nutriente em direção às camadas mais profundas do solo, longe do alcance das raízes.
Aqui, as fontes potássicas que têm uma alta solubilidade em água são mais suscetíveis a esse fenômeno, já que a água é um dos fatores que faz com que os átomos de potássio sejam carregados pelo perfil do solo.
Nesse sentido, o uso de fontes de liberação gradual de potássio é algo que pode auxiliar o agricultor a evitar as perdas desse nutriente e otimizar o manejo. Tais fontes, como o nome indica, disponibilizam o potássio de forma gradual, graças às matérias-primas utilizadas em sua produção.
Essas fontes também têm a vantagem de disponibilizar o potássio ao longo de mais tempo e não de uma só vez. Assim, as necessidades potássicas das plantas são atendidas ao longo de todo o ciclo produtivo.
Outro ponto que deve ser observado pelos agricultores é a quantidade de cloro e o índice salino nas fontes de potássio. O Cloreto de Potássio (KCl), por exemplo, é uma das fontes mais utilizadas na agricultura, mas tem um alto teor de cloro, bem como um elevado índice salino.
O Cloreto de Potássio (KCl) é composto por aproximadamente 47% de cloro
Embora o cloro seja um micronutriente importante para as plantas, o seu excesso pode prejudicar as culturas e também o solo.
Isso acontece porque quando há muito cloro no agroecossistema, as plantas podem ter sintomas de fitotoxidez, as raízes são afetadas e há aumento de parâmetros como a salinidade e a compactação.
O excesso de cloro também pode prejudicar a vida microbiana do solo, que também influencia na eficiência da adubação potássica.
3. Promover a saúde da microbiota do solo
Os microrganismos são uma parte importante do ecossistema do solo e também são abundantes nele: para se ter uma ideia, é estimado que em apenas uma colher de chá de solo existam cerca de 50 bilhões desses seres.
Além disso, ao contrário do que o senso comum dita, a maioria deles, cerca de 97%, são benéficos. Entre os benefícios que os microrganismos do solo podem trazer para a agricultura está justamente a disponibilização de nutrientes como o potássio.
Diversos estudos sugerem que os ácidos orgânicos produzidos pelos microrganismos do solo acidificam o meio e podem desestabilizar os minerais presentes e disponibilizar o potássio, além de outros nutrientes, para as plantas.
É o caso da pesquisa Interação de microrganismos na solubilização de fósforo e potássio de rochas para produção de biofertilizantes, da pesquisadora Valéria Nogueira Silva.
Nesse trabalho, foi avaliado o potencial da inoculação de diferentes bactérias na disponibilização de fósforo e potássio, uma vez que elas são produtoras de uma grande variedade de metabólitos, incluindo ácidos orgânicos.
Os resultados mostraram uma boa capacidade de alguns microrganismos em realizar essa disponibilização de nutrientes:
Curva de liberação de potássio fonte potássica inoculada com Paenibacillus polymyxa + Ralstonia solanacearum. (Fonte: SILVA, 2013)
Já outros trabalhos, como a pesquisa Potential of phosphate solubilizing bacillus strains for improving growth and nutrient uptake in mugbean and maize crops, de Maqshoof Ahmad e outros pesquisadores, avaliaram o potencial do gênero Bacillus para disponibilizar fósforo para as plantas.
Os resultados mostraram que o consagrado Bacillus aryabhattai foi eficiente em disponibilizar não somente o fósforo, mas também o potássio e o nitrogênio para as plantas. Isso em uma taxa superior a outra bactéria do mesmo gênero avaliada no estudo.
Os microrganismos do solo promovem diversos benefícios para a agricultura
Assim, preservar e promover a saúde da microbiota do solo pode ser uma estratégia eficaz de melhorar a adubação potássica no solo. Para isso, como já falado, é importante que o agricultor reduza o uso de fertilizantes potássicos com alto teor de cloro e índice salino.
Além disso, o uso de técnicas como a compostagem ajuda a aumentar a matéria-orgânica do solo, o que auxilia na preservação da microbiota, além de também melhorar parâmetros que influenciam a eficiência da adubação potássica, a exemplo da CTC do solo.
Boas práticas de manejo podem melhorar a adubação potássica da lavoura
Em síntese, o potássio é um dos nutrientes sem o qual as lavouras não conseguem alcançar uma boa produtividade.
E, levando em consideração que a maioria dos solos brasileiros têm baixa disponibilidade desse nutriente, a adubação potássica é essencial para o sucesso da atividade agrícola.
Nesse contexto, o agricultor pode lançar mão de algumas práticas que melhorem a eficiência da adubação potássica, como uma boa avaliação do solo, a escolha de fontes potássicas adequadas e também a promoção da vida microbiana. Assim, é possível ter produtividade e qualidade nas lavouras!