O preço dos fertilizantes, insumos essenciais para o bom desempenho da atividade agrícola atualmente, tem apresentado uma subida constante desde 2020. Entretanto, em 2021 uma “tempestade perfeita” alcançou o seu clímax, fazendo com que os preços desses insumos disparassem em todo o mundo, inclusive no Brasil. Saiba quais são os elementos dessa tempestade e como eles têm impactado o preço dos fertilizantes!
O grande aumento no preço dos fertilizantes em 2021
Dados do Banco Mundial mostram que houve um aumento de 66% no preço dos fertilizantes em 2021, quando considerados como commodities.
No caso do potássio, nutriente indispensável na agricultura devido às funções do potássio nas plantas, a instituição aponta que os preços se mantiveram relativamente baixos mundialmente, mas atingiram patamares bastante elevados especialmente no Brasil e no chamado Cinturão do Milho, região dos Estados Unidos.
É o que os pesquisadores do Departamento de Economia Agrícola da Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA), John C Beghin e Lia Nogueira, destacam em seu artigo A perfect storm in fertilizer markets, citando ainda que a previsão do Banco Mundial é de que essa curva de aumento se acentue ainda mais em 2022.
O preço do potássio teve um grande salto no Brasil e nos Estados Unidos em 2021, na imagem os preços do Brasil estão representados pela linha amarela. (Fonte: World Bank)
Essa tendência de aumento do preço dos fertilizantes pode ser facilmente vista nos números do relatório elaborado por uma agência de mercado para o agronegócio, que mostram que os principais fertilizantes no Brasil tiveram grandes incrementos em comparação ao início do ano.
O aumento dos preços dos fertilizantes no Brasil, com os valores convertidos em reais nas cotações dos respectivos dias. Só o Cloreto de Potássio (KCl), mais que triplicou em relação ao início do ano. (Fonte: ACERTO Weekly Fertilizer Report Brazil 01/01/2021 e 18/11/2021)
Mas, o que pode explicar esse pico dos preços dos fertilizantes? De acordo com John C Beghin e Lia Nogueira:
“Em resumo, uma tempestade perfeita de choques de oferta, eventos climáticos, fechamentos de fábricas, estrutura de mercado pouco competitiva e rasa, e uma série de mudanças de política vem se formando e agora está culminando em uma preocupante volatilidade e deterioração na acessibilidade de fertilizantes.”
Vejamos mais profundamente, então, os elementos dessa “tempestade perfeita”.
Os quatro elementos da tempestade perfeita para o aumento do preço dos fertilizantes
Os elementos da assim chamada “tempestade perfeita” que tem feito com que o preço dos fertilizantes alcance patamares preocupantes podem ser agrupados em quatro grandes grupos:
1. Interrupções no fornecimento mundial de fertilizantes
O mercado de fertilizantes tem poucos players com uma grande presença nos mercados mundiais. Essa desproporcionalidade faz com que acontecimentos nesses países gerem interrupções no fornecimento de insumos para o resto do globo.
Por exemplo, a redução da produção e demanda de fertilizantes em lugares como Europa, Rússia e China nos últimos tempos, causada por fortes aumentos nos custos de produção, teve como consequência uma redução na oferta mundial de fertilizantes.
Mas, o que trouxe esse aumento dos custos de produção? O aumento dos preços de gás natural e amônia na Rússia, Europa e China, além de altos preços de carvão criaram déficits energéticos e interrupções na indústria de fertilizantes desses locais, que faz um uso intenso de energia.
Dessa maneira, com a produção diminuída, os governos locais tomaram medidas para limitar as exportações de fertilizantes, que, de acordo com John C Beghin e Lia Nogueira devem durar por um bom período, inclusive boa parte de 2022.
O presidente Jair Bolsonaro, inclusive, mencionou essa questão e suas graves consequências em uma entrevista no Palácio do Planalto:
“Vou avisar um ano antes: fertilizantes. Por questão de crise energética, a China começa a produzir menos fertilizantes. Já aumentou de preço, vai aumentar mais e vai faltar. A cada cinco pratos de comida no mundo, um sai do Brasil. Vamos ter problemas de abastecimento no ano que vem.”
Ainda na questão energética, vale ressaltar que o preço de combustíveis fósseis utilizados na produção de fertilizantes, teve um aumento em 2021, o que acaba tendo um impacto sobre o mercado.
Esse aumento foi impulsionado tanto pela recuperação econômica quanto pelas políticas ambientais que preconizam a diminuição desse topo de combustível em muitos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).
Além disso, questões naturais podem gerar problemas que impactam o mercado e os preços de fertilizantes. É o caso, por exemplo, da passagem do Furacão Ida pelos Estados Unidos, que causou o fechamento de fábricas de produção e também problemas de logística.
2. A forte demanda por fertilizantes
Durante o período inicial da pandemia, os fertilizantes continuaram relativamente acessíveis para os agricultores devido às relações de troca mais favoráveis.
As relações de troca, a grosso modo, são a correlação entre os custos que os fertilizantes e outros insumos geram para a produtor e o preço que ele consegue vender a sua produção. Quando esse índice é favorável, significa que o fertilizante está mais acessível.
Isso trouxe uma forte demanda por fertilizantes em países que são grandes produtores agrícolas, como o Brasil, Estados Unidos e China.
Entretanto, o índice das relações de troca vem se deteriorando nos últimos tempos, tanto no Brasil quanto no mundo.
As relações de troca vêm apresentando uma tendência de queda nos últimos anos. Um exemplo é o caso da cultura da soja, que embora tenha apresentado alta nos índices dos últimos meses, no geral têm sido favoráveis (Fonte: Conab)
Com essa forte demanda e menos oferta, causada pelos problemas de interrupção no fornecimento mundial, a tendência é que os preços fiquem mais caros e, em consequências as relações de troca se deteriorem mais, encarecendo os custos do produtor.
3. Políticas governamentais
As políticas governamentais também interferem no mercado e nos preços dos fertilizantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, já há muito tempo existem políticas de tarifação de fertilizantes importados, como forma de tornar os fertilizantes produzidos naquele país mais competitivos em relação aos importados.
Já os grandes países exportadores de fertilizantes, como a China, subsidiam os preços dos seus fertilizantes para tornar mais fácil a venda para outros países.
Mudanças nesse “jogo de xadrez” de políticas tarifárias com poucos players acabam influenciando nos preços para o mercado mundial, especialmente para países como o Brasil, que é carente de políticas mais robustas para o incentivo da produção nacional e tem um sistema tributário que encarece os preços.
A falta de políticas governamentais mais robustas e o sistema tributário encarecem os insumos agrícolas no Brasil.
4. Transporte e logística e consequências da Covid
As consequências da pandemia do Covid-19 também adicionaram elementos para a tempestade responsável pela subida dos preços dos fertilizantes.
Uma delas foi o impacto no transporte e logística dessas commodities. A recessão causada pela pandemia trouxe a falta de motoristas para realização de fretes, funcionários portuários e outros tipos de interrupções no fluxo que causaram atrasos nos transportes de fertilizantes.
Tudo isso gerou um incremento nos preços, como ilustrado por exemplo pelo preço do potássio, que mais que triplicou em 2021.
Além disso, acontecimentos políticos pós-pandemia, como as sanções impostas pela União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos à Bielorrúsia, um dos principais exportadores de potássio do mundo, contribuíram para o aumento do preço desse fertilizante.
Essa combinação de elementos faz com que as previsões não sejam animadoras. Segundo as expectativas do Banco Mundial, embora os preços do nitrogênio e do fosfato não devam continuar a subir, os preços do potássio devem aumentar dramaticamente nos próximos meses.
Diante disso, o que fazer?
Fortalecer o mercado interno de fertilizantes, em especial o de potássio, é fundamental
Frente a esse cenário, é fundamental que o Brasil torne o seu mercado interno de fertilizantes mais robusto, com ações como o maior investimento na produção de fertilizantes nacionais, em especial de potássio, para fortalecer a sua agricultura.
As novas pesquisas e os novos paradigmas da agricultura têm mostrado que o país tem potencial para reduzir a dependência externa e se fortalecer diante das tempestades internacionais que aumentam os preços dos fertilizantes.
Já o agricultor brasileiro precisa estar preparado também, conhecendo as fontes nacionais de potássio e se planejando para que os seus suprimentos estejam adequados. Assim, o agronegócio brasileiro pode continuar prosperando e impulsionando a economia do país!