O eucalipto, assim como outras culturas, pode ser atacado por diversos tipos de doenças, que podem causar danos significativos na produtividade dos povoamentos florestais e na própria qualidade da madeira. Conheça quais são as 5 principais doenças do eucalipto que ocorrem tanto em condições de viveiro, quanto a campo e como elas podem ser manejadas!
Quais os principais grupos de doenças que atacam as plantas de eucalipto?
Apesar do eucalipto ser uma cultura amplamente reconhecida pela sua rusticidade e capacidade de adaptação em diversas condições de cultivo, o monitoramento e controle de doenças nessa cultura deve ser feito com o mesmo critério que as demais culturas agrícolas.
Isso porque diversas doenças do eucalipto podem comprometer o retorno financeiro obtido com essa cultura, já que elas afetam tanto a produção quanto a qualidade da madeira .
Dentre as principais doenças do eucalipto, que podem ocorrer tanto em condições de viveiro quanto a campo, podemos destacar:
1. As murchas vasculares do eucalipto
As murchas vasculares estão entre as principais doenças do eucalipto de maior expressão para a silvicultura brasileira, uma vez que elas podem reduzir significativamente a produtividade e a qualidade da cultura com uma alta taxa de mortalidade das plantas.
As duas principais murchas vasculares representantes desse grupo de doenças são a murcha de Ceratocystis, causada pelo fungo Ceratocystis fimbriata, e a murcha vascular bacteriana, causada bactéria Ralstonia solanacearum.
Estudos indicam que ambas as doenças têm potencial para causar até 40% de mortalidade das plantas. Somado a isso, no caso da murcha de Ceratocystis, também podem ocorrer perdas de mais de 50% da produtividade dos talhões afetados.
Isso acontece porque as plantas afetadas por essas doenças acabam tendo um grande comprometimento do seu sistema vascular, que é responsável por realizar o transporte e distribuição de água e nutrientes pela planta.
Com isso, as plantas vão apresentando uma necrose progressiva do seu sistema vascular, murcha permanente das folhas e morte das árvores, nos estágios mais avançados dessas doenças do eucalipto.
Para diferenciar os sintomas da murcha de Ceratocystis e da murcha vascular bacteriana, o agricultor pode observar tanto o lenho quanto as folhas das plantas.
Geralmente, o lenho das plantas afetadas pela murcha de Ceratocystis vão apresentar estrias acinzentadas e o escurecimento radial do lenho e vasos das plantas.
No caso da murcha vascular bacteriana, é recomendado realizar o decepamento do tronco a 0,5 m de altura do solo e observar se existe a presença da exsudação de um pus bacteriano esbranquiçado. Para facilitar a visualização desse sintoma, o agricultor também pode submergir parte do tronco em um recipiente transparente contendo água.
Já no caso das folhas, as plantas afetadas pela murcha vascular bacteriana vão apresentar uma coloração bronzeada, enquanto aquelas afetas pela murcha de Ceratocystis uma coloração palha.
Sintomas da murcha vascular bacteriana (Ralstonia solanacearum) do eucalipto (Fonte: Alfenas, A. C. et al., 2006)
O controle das murchas vasculares normalmente envolve o plantio de mudas sadias e resistentes a essas doenças, fazer a limpeza de ferramentas e equipamentos após a utilização e sempre realizar os tratos culturais e a colheita primeiramente em áreas livres da doença.
Em condições de viveiro, o principal cuidado deve ser na etapa de resgate de matrizes-elite no campo, já que essa é considerada a principal fonte de inóculo das murchas vasculares para as matrizes ou minicepas estabelecidas em minijardins clonais.
2. A ferrugem do eucalipto
A ferrugem é outra doença muito comum dos plantios florestais que está inclusa dentre as principais doenças do eucalipto que apresentam uma ampla distribuição por todo o país.
Diversas espécies de eucalipto são consideradas hospedeiras do fungo Puccinia psidii, o agente causal dessa doença. Dentre elas, podemos destacar:
- O eucalipto cloeziana (Eucalyptus cloeziana);
- O eucalipto blackbutt (Eucalyptus pilularis);
- O eucalipto citradora (Corymbia citriodora);
- O eucalipto gigante (Eucalyptus obliqua);
- O eucalipto branco (Eucalyptus grandis);
- O eucalipto cereja (Eucalyptus saligna).
Quando essas espécies de eucalipto são infectadas pelo fungo causador da ferrugem, os tecidos jovens das folhas e o caule das plantas começam a apresentar pontuações cloróticas que evoluem para massas de esporos de coloração amarelo vivo.
Com a progressão da doença, essa massa de esporos acaba dando lugar a lesões marrons salientes e rugosas, geralmente delimitadas por um halo arroxeado escuro. E, por fim, os tecidos começam a secar e morrer, adquirindo uma coloração negra de aspecto queimado.
Apesar de as perdas aparentes verificadas em condições de campo não compensarem os gastos com a aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem, ataques severos dessa doença podem ocorrer em mudas e plantios jovens de até um ano de idade.
Dessa forma, para evitar que os danos causados pela ferrugem prejudiquem o potencial produtivo dos eucaliptos, é importante que o agricultor busque cultivar espécies ou cultivares que apresentem resistência a essa doença, como o eucalipto vermelho (Eucalyptus camaldulensis) e o eucalipto tropical (Eucalyptus urophylla).
Alguns especialistas também sugerem cuidar da adubação e equilíbrio nutricional das plantas, o que é muito importante, uma vez que estudos preliminares já vêm demonstrando que a deficiência de boro ou o excesso de manganês ou nitrogênio podem aumentar a severidade da ferrugem.
3. O cancro do eucalipto
Dentre as principais doenças do eucalipto que ocorrem nos cultivos, também podemos destacar o cancro do eucalipto.
Essa doença já chegou a afetar gravemente a produção brasileira de eucalipto na década de 70 e hoje já é considerada uma doença de ampla distribuição geográfica, incluindo diversos outros países do mundo situados na região tropical e subtropical onde o eucalipto é cultivado.
Quando as árvores de eucalipto são afetadas pelo cancro, elas passam a apresentar áreas lesionadas ou injuriadas profundamente no tronco, quase sempre apresentando a formação de um tecido caloso em torno delas.
Essas injúrias, além de depreciar o uso da madeira para serraria e prejudicar a segunda rotação da cultura, também acabam reduzindo o rendimento volumétrico e em celulose do eucalipto.
A identificação do cancro nos povoamentos florestais de eucalipto pode ser feita observando os troncos e folhas das árvores.
Em árvores com idade superior a um ano, o cancro pode provocar a depressão, fendilhamento e intumescimento da casca e do câmbio na região do colo das plantas.
Entretanto, em espécies de eucalipto mais suscetíveis a doença, como o eucalipto branco e o eucalipto cereja, podem ser observados cancros mais longos, que se estendem desde a base do tronco até quase o ponteiro das árvores.
A longo prazo, esse sintoma acaba provocando o rompimento das áreas afetadas em tiras ou trincas, expondo o lenho do eucalipto. E isso acaba facilitando a entrada de outros fitopatógenos nas plantas e fragilizando a sustentação das árvores.
Com isso, as plantas afetadas pelo cancro podem acabar tombando facilmente pela ação do vento ou ainda apresentar morte por estrangulamento do colo, o que faz com que as folhas das árvores sequem e adquiram uma coloração palha.
Apesar do potencial destrutivo do cranco, até o momento, o uso de populações resistentes é a única medida viável para o controle dessa doença do eucalipto.
Mas, recentemente, novos estudos têm mostrado que solos de baixa qualidade podem predispor as plantas a uma maior incidência do cancro.
O solo é o ponto de partida para alcançar altas produtividades na agricultura de modo geral, e na cultura do eucalipto não é diferente.
Portanto, o cuidado com a fertilidade do solo e todas as demais práticas de manejos da cultura também são estratégias muito importantes para minimizar a ocorrência dessa doença do eucalipto nos povoamentos florestais.
4. As manchas foliares do eucalipto
As manchas foliares são outro grupo que está incluso entre as doenças do eucalipto mais comuns, tanto em viveiros de mudas quanto nas plantações a campo.
Apesar de as manchas foliares aparentemente não sugerirem ser um grupo de doenças graves, prejuízos sérios têm ocorrido nos estados de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e região Amazônica, principalmente em épocas chuvosas.
Essas doenças do eucalipto são responsáveis por causar lesões foliares severas e desfolha intensa das plantas atacadas.
E isso acaba prejudicando severamente a capacidade da planta em produzir fotoassimilados que seriam direcionados para o crescimento em altura e diâmetro das árvores.
Dentre as manchas foliares mais comuns que podem ocorrer no eucalipto, pode-se destacar:
- A mancha de Cylindrocladium, causada pelo fungo Cylindrocladium candelabrum: provoca manchas foliares de coloração marrom claro, marrom arroxeado ou cinza nos bordos do limbo;
- A mancha de Coniella, causada pelo fungo Coniella fragariae: provoca manchas foliares em formas de halos concêntricos, estreitos e de coloração amarelada escurecida;
- A mancha de micosferela, causada pelo fungo Mycosphaerella fragariae: provoca manchas foliares anelares-coriáceas marrons mais escuras de um lado da folha do que do outro, ou largas áreas necróticas de coloração marrom-clara a amarelada;
- A mancha de Phaeoseptoria, causada pelo fungo Phaeoseptoria eucalypti: provoca manchas foliares e lesões angulares amareladas dispersas ou agrupadas em ambas as superfícies do limbo das folhas, que podem adquirir uma coloração marrom-arroxeada com o tempo.
É o que explica Álvaro Figueredo do Santos e outros pesquisadores, no estudo Doenças do eucalipto no sul do Brasil: identificação e controle.
Normalmente, o controle das manchas foliares é feito com pulverizações preventivas e curativas de fungicidas em condições de viveiro, associado ao plantio de espécies já comprovadamente resistentes a essas doenças do eucalipto.
Além disso, estudos sugerem que a deficiência de alguns nutrientes em mudas rustificadas de eucalipto, como o fósforo e o zinco, podem favorecer a infecção das plantas por alguns tipos de manchas foliares.
Dessa forma, é importante que o agricultor esteja sempre monitorando a aplicação adequada de fertilizantes e o equilíbrio nutricional do solo dos seus talhões.
5. As podridões do eucalipto
Por fim, dentro do grupo das principais doenças do eucalipto também podemos destacar a relevância econômica que as podridões têm para os viveiros e plantios florestais dessa cultura no Brasil.
Em condições de viveiro, os dois principais tipos de podridões que podem ocorrer nas plantas são a podridão da raiz e a podridão das estacas.
A podridão da raiz do eucalipto tem sido relatada principalmente em viveiros com sistemas de tubetes, uma vez que as condições de alta umidade e má aeração do substrato criam condições favoráveis a ocorrência de fungos dos gêneros Phytophthora, Pythium e Fusarium que causam essa doença.
A podridão das estacas também é outra doença do eucalipto presente em viveiros que pode apresentar múltiplos agentes causais, como as espécies de fungos dos gêneros Cylindrocladium, Colletotrichum, Fusarium e Rhizoctonia.
Ela geralmente é caracterizada pelo escurecimento da região de interface da estaca com o substrato, que avança em direção ao ápice da estaca, provocando a morte das gemas e impedindo o seu enraizamento.
Mortalidade(A) e podridão na base (B e C) de miniestacas de Eucalyptus benthamii em casa de vegetação (Fonte: Coelho, T. A. V. et al., 2019)
Como a ocorrência da podridão das estacas é fortemente influenciada pelas condições do viveiro, recomenda-se a adoção de múltiplas estratégias de controle cultural, químico e físico. Dentre os quais podemos destacar:
- O uso de semeadura direta em tubetes suspensos, com sementes, substrato e água de irrigação livres de patógenos;
- A inoculação de linhagens ou de espécies eficientes de Trichoderma antes da semeadura;
- A desinfestação de caixas e recipientes com vapor ou água quente;
- A adubação equilibrada das mudas;
- A aplicação de fungicidas.
Já em condições de campo, a podridão de ocorrência mais comum e relevante para a cultura do eucalipto é a podridão do cerne, que é causada por uma grande variedade de fungos dos gêneros dos filos Ascomycota e Basidiomycota.
Essa doença do eucalipto é frequentemente relatada na região sul do Brasil e no estado do Mato Grosso, podendo afetar até 85% das árvores de um povoamento florestal dependendo da espécie cultivada e das condições do local.
Diferentemente das demais doenças do eucalipto, a podridão do cerne não gera sintomas externos no tronco da árvore. E, isso é um grande problema para o seu monitoramento e controle, já que os danos são observados somente após o corte das árvores.
Árvores de eucalipto afetadas pela podridão do cerne normalmente vão apresentar uma podridão interna esbranquiçada ou parda, que ocorre mais pronunciadamente na região medular do tronco.
Um dos primeiros passos para se mitigar os danos causados pela podridão do cerne, consiste no plantio de procedências ou clones tolerantes a essa doença fora das zonas de áreas de risco, que devem ser previamente identificadas com o auxílio de um profissional especializado.
Além disso, como algumas pesquisas sugerem que a podridão pode ocorrer em função da ausência da proteção interna da árvore e da debilitação fisiológica das árvores doentes, especialistas apontam que o manejo adequado da adubação pode também ser uma importante estratégia para o manejo dessa doença do eucalipto.
É o que destacam Celso Garcia Auer e outros pesquisadores, no artigo A podridão do cerne em árvores vivas no Brasil.
O manejo das principais doenças do eucalipto exige um monitoramento constante dos viveiros e das florestas plantadas
Em resumo, podemos perceber que o eucalipto é uma cultura que pode ser acometida por uma ampla variedade de doenças, tanto em condições de viveiro quanto em condições de campo.
Por isso, é muito importante que o agricultor estabeleça um bom programa de monitoramento de doenças na sua propriedade, fazendo a amostragem periódica das plantas dos viveiros e talhões, a fim de identificar a presença das principais doenças do eucalipto.
Complementarmente, também é importante que ele esteja sempre atento a aplicação de fontes e doses adequadas de nutrientes, uma vez que essa estratégia permite o fortalecimento das defesas naturais das plantas contra os fitopatógenos.
Assim, a associação do monitoramento, nutrição das plantas e outras estratégias singulares para o controle de cada doença do eucalipto irão favorecer a boa produtividade e qualidade das mudas, madeira e outros produtos florestais obtidos com a exploração do eucalipto!