Você já se questionou quais seriam os principais fatores internos e externos para que o PIB agrícola do Brasil seja dobrado nos próximos 10 anos?
No dia 29 de outubro, o evento Encontro com Gigantes, promovido pela Verde, empresa que produz o fertilizante K Forte®, recebeu Décio Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e articulista de jornais, revistas e sites especializados para debater sobre essa questão.
A conversa pode ser vista na íntegra aqui:
O agronegócio brasileiro é um setor muito importante da economia do país e um crescimento em seu PIB (Produto Interno Bruto) significaria um crescimento no PIB brasileiro. Entretanto, é preciso que sejam feitas algumas considerações antes de responder se é possível dobrar o valor do PIB agrícola nos próximos 10 anos.
Décio Gazzoni conta que começou a pensar nessa questão a partir de duas matérias jornalísticas, que falavam sobre essa possibilidade de crescimento do setor agrícola, especulando que, caso o valor do PIB agrícola dobrasse, o PIB do país saltaria para 4 trilhões de dólares.
Então, o pesquisador começou a pensar em modelos de previsão e quais fatores seriam necessários para que isso fosse alcançado. Para ele, em primeiro lugar, é preciso agregar valor para chegar a competir nas exportações:
“O Brasil tem uma grande gama de países para exportação, uma grande diversificação de mercado, mas precisamos integrar isso com diversificação de produtos”, afirmou Décio, salientando que a marca do mercado nos próximos anos será a sustentabilidade.
12 passos para impulsionar o agronegócio brasileiro
Além disso, Gazzoni elenca 12 ações chave que, na avaliação do especialista, são essenciais para impulsionar o crescimento do agronegócio brasileiro e alcançar a meta de dobrar o valor do PIB agrícola:
- Existir demanda firme no mercado internacional
- Dispor de bons preços e taxa de câmbio favorável
- Manter oferta sólida
- Produzir de maneira competitiva
- Atender as exigências dos clientes
- Utilizar a tecnologia mais adequada
- Produzir com sustentabilidade
- Eliminar o custo Brasil
- Agregar valor
- Diversificar produtos e mercados
- Manter uma agressiva diplomacia comercial
- Investir forte em marketing e comunicação
Ter em mente essas ações, juntamente com o entendimento de parâmetros socias e econômicos, como o crescimento populacional, tendências de aumento do PIB nacional e de renda per capita, são importantes para planejar a próxima década e garantir que haja um crescimento do PIB agrícola.
Diplomacia comercial – o agro brasileiro mais competitivo
Outro ponto importante para que o agronegócio brasileiro seja mais competitivo e, em consequência, cresça mais, é tornar o ambiente mais amigável ou diplomático – dentro e fora do país.
Isso significa trazer mais políticas de incentivo à tecnificação, simplificação de processos burocráticos e tarifários, abertura e fidelização de mercados, entre outras coisas.
Um exemplo citado por Décio Gazzoni é o setor de agronegócios norte-americano. Para o pesquisador, agronegócio americano tem muito a ensinar para o brasileiro, pois existe mais apoio nos negócios do agro norte-americano mundo afora.
Eles prospectam mercado, eles facilitam contratos, eles discutem regras e buscam e induzem oportunidades: “Não é por nada que eles são um dos maiores protagonistas do mercado agrícola”.
Quando o PIB do mercado brasileiro dobrará?
Para conseguir montar um modelo matemático e conseguir chegar a uma resposta – ou melhor, uma previsão para essa pergunta, Décio separou os dados e variáveis em dois grupos: o mercado externo e o mercado interno. Vejamos um pouco desses grupos.
- Mercado externo: Dentro desse grupo, o pesquisador apresentou um gráfico de projeções da demanda de produtos agrícolas (Confira o vídeo na íntegra). Que sintetizava que o consumo mundial em 2007 era de U$ 2,9 trilhões de dólares e até 2050 será de U$ 5,1 trilhões. Segundo os dados apresentados quanto maior a qualidade de vida e renda per capita mais vende-se frutas e hortaliça (2%), carnes (1,7%), peixes (1,7%), madeira (1,5%), flores ornamentais (1,4%) e grãos (1,1%).
Segundo o market share dos principais países que atuam no mercado agrícola podemos destacar, a União Européia (1º), Estados Unidos (2º), Brasil (3º), China (4º) e Canadá (5º). Seguidos por Indonésia, Tailândia, Índia, Austrália e México.
É importante lembrar que dentro desse modelo, é preciso levar em consideração variáveis como o preço do dólar a um valor estável e as previsões podem mudar dependendo delas.
Segundo dados da USDA Agricultural, o Brasil tem potencial para crescer até 41% nas próximas décadas – mas Décio esclarece que o estudo desse órgão leva em consideração vantagens que o país pode explorar, mas é preciso também colocar ações em prática para que esse valor seja alcançado:
“As forças com as quais nós vamos transformar as nossas vantagens comparativas em competitividade. A curva depende de nós, mas a demanda já está traçada. O mercado mundial tem previsão de dobrar em 2044 e o Brasil em 2030, podendo dobrar novamente em 2040, isso claro podendo variar conforme o cenário otimista, provável ou pessimista”.
- Mercado interno: Já o grupo dos dados relativos ao mercado interno vai depender de alguns fatores:
- Evolução da demanda do mercado internacional
- Evolução da demanda do mercado interno
- Capacidade de produção do Brasil
- Condições climáticas favoráveis
- Competitividade dos nossos produtos
- Soluções para o custo Brasil
- Taxa de câmbio
- Imagem do Brasil no exterior
- Agressividade da diplomacia comercial
- Eficiência do marketing e comunicação
Pensando nesses fatores, Décio traçou alguns cenários e chegou a conclusão de que se o país fizer apenas aquilo que é necessário para manter o agronegócio funcionando, a previsão de dobrar o PIB é para 2044.
Em um cenário pessimista, ou seja, com o país somente resolvendo alguns entraves, essa previsão cai para 2040.
Já num cenário provável, com quase todos os fatores resolvidos, o PIB agrícola do país pode dobrar em 2035 e dobrar novamente até 2050. Já no melhor cenário, ou seja, explorando todas as potencialidades do agro brasileiro, o PIB agrícola pode dobrar até 2032 e também novamente até 2050.
Como potencializar a produção agrícola brasileira?
Entre as ações para o melhor cenário das previsões, Décio destacou o incremento da produtividade, através do estabelecimento e seguimento de recomendações técnicas, uso de técnicas mais modernas de irrigação e polinização.
Além disso, intensificar o uso de práticas como a adubação de sistema, com safra e safrinha é um caminho para potencializar a produção do campo no Brasil.
O pesquisador também falou sobre a necessidade de expandir a área de produção, observando as regulamentações permitidas pelo Colégio Florestal e utilizando técnicas de recuperação de áreas degradadas, por exemplo.
Outros passos importantes apresentados pelo especialista, especialmente pensando no período pós-pandemia, é atender as exigências dos consumidores.
Na avaliação dele, isso inclui mais apreço pela segurança dos alimentos e mais respeito à cultura e aos desejos do consumidor, como por exemplo o mercado consumidor de produtos veganos – que precisa ser atendido pelo agronegócio também.
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Décio Gazzoni – Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e articulista de jornais, revistas e sites especializados. Em frutífera carreira científica, Décio recebeu o Prêmio Frederico Menezes Veiga, a honraria mais graduada concedida a cientistas agrícolas no Brasil. Além disso, já foi Chefe Geral da EMBRAPA Oeste (Dourados, MS), Chefe Geral da EMBRAPA Soja (Londrina, PR) e Diretor Técnico da EMBRAPA (Brasiília, DF). Hoje ele faz parte do International Scientific Panel on Renewable Energy (ISPRE ICSU), é Presidente do Steering Committee on Renewable Energy (ICSU-ROLAC), além de ser Consultor Internacional do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Banco Mundial e da Organização para a Agricultura e Alimentação. Possui 7 livros publicados e inúmeros artigos publicados em periódicos especializados do Brasil e do exterior, entre outras realizações bibliográficas. Sua pesquisa é voltada para a área de agronomia, com ênfase em sanidade agropecuária, estudos de abelhas e economia agrícola. Décio Luz Gazzoni é formado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e possui mestrado em Entomologia pela mesma instituição.