Como se proteger dos riscos do mercado agrícola? Como otimizar o uso da propriedade e aumentar a rentabilidade? Esses são desafios que o produtor precisa enfrentar em suas atividades.
Para falar sobre essas questões, Artur Falcette, Diretor Executivo da Sapé Agro e Sócio-Fundador da Infield participou do “Encontro com Gigantes – Escala vs Escopo: Como desenvolver o negócio agrícola gerindo risco”.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes K Forte® e Silício Forte®, no dia 24 de junho de 2020.
Você pode conferir a conversa, mediada por Cristiano Veloso, na íntegra pelo link:
O agronegócio é, em especial, um negócio que envolve muitos riscos. Além das questões inerentes ao que ele produz, como o impacto do clima, pragas e doenças agrícolas, existem as questões econômicas que cercam essa atividade. No meio delas está o produtor, tendo que gerenciar todos esses riscos.
Para Artur Falcette, quando se fala nesse gerenciamento de risco, muitas vezes o olhar não está naquilo que está voltado ao aspecto econômico e mercadológico da atividade agrícola:
“A sensação que eu tinha é que quando a gente fala de gestão de risco é que a gente está sempre olhando pra fora, para coisas que a gente como produtor não tem um controle muito grande, que não está nas nossas mãos. Não fazia sentido, para mim, olhar pra fora, pro que é mais complexo e distante e deixar de lado o que tá mais ao alcance do nosso controle”.
A diversificação econômica do negócio, ou seja, quando o produtor passa a produzir mais de uma coisa dentro de sua área, pode ser uma ferramenta muito importante para minimizar os riscos da atividade agrícola e que está ao alcance de realização do produtor, levando à chamada economia de escopo.
Isso porquê, ao diversificar a sua produção, o produtor pode, além de diluir os seus custos fixos em atividades diferentes, otimizando os recursos da sua propriedade e elevando a rentabilidade, ficar menos refém de um único mercado.
Essa pulverização das receitas traz mais segurança para o negócio: “é o velho ditado de não colocar todos os ovos em uma cesta só”, explica Artur.
Ele traz o exemplo dos produtores que praticam a rotação de culturas em sua propriedade: ao plantar soja e milho safrinha, o produtor aproveita melhor a sua propriedade e pode ter lucro com dois mercados diferentes.
Entretanto, em sua pesquisa junto à Nuffield International Farming Network Brazil, uma rede vanguardista de agro-profissionais e fazendeiros presente em mais de 40 países, Artur identificou que:
- 30% dos produtores nem sequer mencionaram a diversificação ou termo semelhante quando perguntados sobre gestão de risco;
- 60% mencionaram a diversificação, mas em uma prioridade baixa como ferramenta de gestão de risco;
- apenas 10% dos produtores com os quais ele teve contato colocaram a diversificação como uma das principais ferramentas para a gestão de risco.
Artur Falcette explica que, de maneira geral, os produtores parecem ter uma visão de que a especialização é o caminho a ser seguido no agronegócio. A especialização, diferente da diversificação, é quando o produtor se concentra em uma única commodity produzida em sua área.
A especialização leva a uma economia de escala: o negócio se expande, geralmente territorialmente, focando-se e se qualificando cada vez mais na produção de uma única coisa. Isso traz uma redução de custos, já que quanto mais se produz de uma coisa, o custo médio unitário é reduzido, mas há um limite para essa redução.
Ambos os tipos de economia têm um limite. Por exemplo, a complexidade do processo de produção em escalas muito grandes traz problemas, como a tomada de decisões passando por várias pessoas, tornando o custo de produção mais alto. Já a economia de escopo exige certos cuidados para sua implementação.
Artur Falcette esclarece que economia de escopo e a diversificação exigem um nível de amadurecimento, tanto do produtor quanto do negócio, por isso ela geralmente acontece quando o produtor se torna especializado em um tipo de produção.
Por que a economia de escopo não é popular?
Segundo Artur Falcette, algumas hipóteses podem ser levantadas para que a economia de escala e a especialização seja mais popular que a diversificação: elas vão desde a caracterização excessiva de mecanismos de mercado como única ferramenta de gestão de riscos até questões históricas e culturais que privilegiam a monocultura, passando pelo apego emocional à atividade inicial exercida pelo produtor.
O receio ligado aos processos mais complexos de uma produção em escopo também influencia muito na visão menos favorecida desse tipo de economia pelos produtores. Artur Falcette explica que, antes de partir para a economia de escopo, o produtor precisa ter maturidade na gestão da atividade que já realiza, com processos bem engrenados e rentabilidade.
Ele acrescenta que a decisão não deve ser tomada de impulso: “é preciso olhar para as atividades que têm sinergia com o que eu já faço, estudar essas atividades, entender como elas funcionam, avaliar os riscos, etc”.
Artur aponta que estudos de viabilidade técnica-econômica; sobre a estrutura de custos; sobre a rentabilidade; sobre qual é a cadeia de produção para aquela atividade no local em que a propriedade do produtor está são dados que podem ser analisados para minimizar os erros na hora de diversificar:
“São dados e o apoio de especialistas dentro daquela área que você quer investir para que você minimize os erros. Os erros vão acontecer, mas quanto mais dados, quanto mais especialistas envolvidos, quanto mais criterioso for o estudo realizado, mais o seu projeto [de diversificação] vai ser bem-sucedido”, conclui Artur.
A economia de escopo, embora mais complexa, é uma grande ferramenta que pode ajudar os produtores a otimizar a sua propriedade, diminuindo os custos.
Além disso, ela diminui também riscos, graças à pulverização da rentabilidade do negócio e da dependência de um único mercado. Para isso é preciso que o produtor amadureça seu conhecimento e seus processos e perca o medo de diversificar.
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