A compactação do solo é um problema que afeta a agricultura em todo o globo. Estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apontam que 4% de toda a área do mundo esteja compactada, o que pode levar a perdas de produtividade de até 60%. Então, como lidar com essa situação?
Para falar sobre esse assunto, o Doutor em Ciência do Solo pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Professor Adjunto na área de Física do Solo, Dr. Bruno Montoani Silva, participou do “Encontro com Gigantes – Compactação do solo: como controlar?”.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 11 de março de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Fernanda Santos, na íntegra pelo link:
A relação entre a compactação e o solo
A mecanização da agricultura é um fenômeno que vem se intensificando desde o século XIX, com a Revolução Verde. E esse fenômeno trouxe junto dele um dos principais desafios do sistema de produção de grãos: a compactação.
Segundo o Dr. Bruno Montoani, a compactação ocorre quando os poros do solo passam por uma redução de volume. Essa redução é decorrente da aplicação de forças mecânicas no solo, como o tráfego de máquinas e pisoteamento animal.
A compactação do solo se dá em três diferentes estágios, de acordo com a relação entre a produtividade da planta e o grau de compactação:
- Solo solto: a compactação leva ao aumento da produtividade;
- Solo no estágio ótimo: faixa ideal de compactação que proporciona o potencial máximo de produtividade;
- Solo compactado: a compactação leva à redução da produtividade.
Dessa forma, o aumento da densidade do solo é prejudicial somente caso se enquadre no 3º estágio. Por desconhecimento desses diferentes estágios durante o diagnóstico, o professor Montoani observa que:
“O diagnóstico equivocado de compactação pode não trazer o benefício do aumento de produção, trazendo uma percepção errada de que a física do solo não afeta a produtividade.”
A produtividade é afetada quando o solo passa a oferecer uma maior resistência à penetração das raízes no solo. O Dr. Bruno Montoani explica que isso faz com que a planta tenha um maior gasto energético para o desenvolvimento do sistema radicular, resultando na redução do potencial produtivo.
Além disso, o aumento da densidade das partículas faz com que ocorram prejuízos relacionados a aeração do solo, pela redução dos macroporos presentes no sistema. Isso também compromete a drenagem e infiltração da água, gerando problemas relacionados a erosão.
Mas nem todas as relações são de prejuízo, como apontado pelo levantamento de diferentes estudos da área feito pelo professor. Esses estudos relacionaram o grau de compactação com a capacidade de absorção de nutrientes pelas plantas e foram observados resultados positivos em algumas culturas.
“Isso porque com a aproximação das partículas, há uma melhor absorção desses nutrientes por interceptação radicular, um dos mecanismos de absorção pelas plantas”
Então, quando e como realizar o manejo da compactação do solo?
Como realizar a descompactação do solo
A compactação é um processo causado pelo manejo inadequado do solo. Ela se diferencia do adensamento por ser uma causa não-natural, ou seja, que não tem influência do gradiente de textura ou mesmo o processo de formação do solo.
O professor cita que as principais causas que evolvem esse processo são:
- Tráfego intenso de máquinas;
- Condições de solos inadequadas (solo mais úmido);
- Histórico da área (compactação subsuperficial);
- Mobilização desnecessária do solo.
O Dr. Bruno Montoani recomenda que o diagnóstico da compactação não leve em consideração apenas a análise do solo, mas também a análise das plantas. Essas investigações, além de complementar o diagnóstico, terão um papel essencial para perenidade do processo de descompactação do solo.
“O método mecânico, ou seja, a escarificação e subsolagem, quebra as camadas compactas. Mas o que vai criar o espaço para as raízes crescerem de forma perene são os bioporos, que vem das plantas.”
Os bioporos são formados quando as plantas entram no processo de senescência, de envelhecimento celular, no qual as raízes se decompõem e formam novos poros no solo. Dessa forma, a descompactação do solo se inicia com o método mecânico e se torna perene através das plantas.
Dentre esses métodos, o professor aponta que o subsolador é o que vem demonstrando um maior potencial para melhorar a produtividade das lavouras. A utilização do método demostrou resultados positivos em intervalos de 18 a 24 meses entre cada manejo.
Esses intervalos evitam o retrocesso do solo para o estágio de compactação que leva a perdas de produtividade pela menor disponibilidade de água e retenção de nutrientes.
Os métodos de descompactação também podem ser considerados medidas curativas, uma vez que estão atuando diretamente no problema. A atuação se dá através da rotação de culturas, uso de plantas de cobertura e até mesmo os próprios métodos mecânicos.
No campo de atuação indireta, se encontram as medidas preventivas. Elas buscam mitigar os fatores que causam a compactação, com a redução da frequência de operações e a evitação do tráfego em momentos de maior umidade por exemplo.
E os profissionais especializados tem um papel essencial nos diagnósticos e recomendação dessas medidas.
O papel dos profissionais especializados no diagnóstico da compactação
Segundo o Dr. Bruno, o diagnóstico da compactação não é complexo, mas ele não deve ser simplista. Isso porque, assim como qualquer outra operação agrícola, ele acarreta em custos e se não bem executada pode não gerar os efeitos esperados. Porém o cenário não é muito otimista:
“Há uma carência de profissionais e informação sobre como fazer o diagnóstico correto da compactação no campo auxiliando os produtores, para que ele não tome uma decisão equivocada de subsolar.”
Essa carência se reflete muito da falta de entendimento das diferentes avaliações necessárias para um bom diagnóstico, que levam em consideração a avaliação contexto agronômico, a avaliação visual da estrutura em campo e os indicadores físicos em campo e em laboratório.
Essas análises levam a criação de um plano de manejo da compactação do solo, que deve trabalhar de forma integrada com todos os demais fatores envolvidos em uma produção agrícola:
“O manejo da compactação vai se basear numa construção completa da fertilidade do solo, com rotação de culturas e mantendo uma microbiologia do solo mais ativa, que vai perenizar a condição de alta produtividade.”
Para entender mais sobre como controlar a compactação, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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