O potássio e o fósforo são dois dos nutrientes mais importantes quando se fala na garantia da produtividade e da qualidade das lavouras de soja, milho e outros grãos. Porém como as jazidas desses nutrientes são de certa forma finitas, existe o desafio para melhorar a eficiência do uso desses fertilizantes através do manejo adequado.
Para falar sobre esse assunto, o Doutor em Ciência do Solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Professor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Dr. Renan Costa Beber Vieira participou do “Encontro com Gigantes – Manejo de potássio e fósforo em sistemas de produção de grãos”.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 18 de março de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Fernanda Santos, na íntegra pelo link:
A evolução da agricultura e o desafio da adubação
A agricultura tem vivenciado uma constante evolução, com sistemas de manejos cada vez mais mecanizados, baseados em grandes extensões de terra e buscando o rendimento operacional do campo, para suprir a lacuna existente entre a produção e área cultivada.
Nos últimos 50 anos houve um salto na produção de grãos, passando de 40 milhões para quase 260 milhões de toneladas. Junto a esse aumento expressivo da produtividade, houve um grande salto no consumo de fertilizantes, que aumentou em quase 15 vezes, incluindo nutrientes como o potássio e o fósforo.
Esses dois parâmetros cresceram juntos porque foi justamente a utilização de fertilizantes que permitiu o grande salto na produtividade agrícola. Entretanto, o setor agora vivencia o seu maior desafio: como obter uma adubação eficiente com recursos finitos.
Diversas instituições têm estudado formas de lidar com esse desafio, como a empresa de Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia (NPCT) com o Manual de Nutrição de Plantas 4C, mencionado pelo Dr. Renan Costa. No manual, é apresentado um diagrama que sumariza o manejo adequado de nutrientes:
Diagrama geral para o manejo adequado de nutrientes. (Fonte: Bruulsema et al. 2008)
De acordo com o diagrama, existem 4 boas práticas principais para obter uma boa eficiência no uso dos fertilizantes:
- Produto correto;
- Dose certa;
- Momento correto;
- Local correto.
O Dr. Renan Costa ressalta, porém, que o Brasil apresenta grandes diferenças de solo, clima e manejo das culturas. Dessa forma, as instituições regionais têm um papel importante no desenvolvimento de pesquisas locais que resultem em publicações de calibração e recomendação de adubação locais.
A dinâmica do solo e a adubação
Outro fator que faz com que as pesquisas e estudos sejam necessários é que, além das diferenças regionais, o solo é um sistema trifásico que estabelece relações complexas com as plantas.
Esse sistema, composto por uma fase sólida, uma líquida e uma gasosa, contém os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Segundo o professor Renan, os nutrientes pode chegar até elas de três formas:
- Interceptação radicular: através do crescimento das raízes e contato direto com os nutrientes;
- Fluxo de massa: os nutrientes são arrastados junto com a solução do solo à medida que a planta transpira, sendo carregados os nutrientes de maior concentração na solução do solo;
- Difusão: os nutrientes migram de regiões mais concentradas para menos concentradas, com uma pequena movimentação que vai de 1 a 5 milímetros.
Dentre as três formas, a difusão é o processo mais relevante para o fósforo e potássio, pois ela é responsável por mais de 90% do fósforo e mais de 79% do potássio adquiridos pelas plantas. Segundo o Dr. Renan, entender a forma como os nutrientes são adquiridos é importante para realizar o manejo adequado e aplicar de forma adequada esses elementos para as plantas.
Por isso, para fazer o melhor manejo nutricional do potássio e do fósforo é preciso levar em consideração essas dinâmicas do solo e as relações que esses nutrientes estabelecem no sistema solo-planta.
A relação do potássio e fósforo no sistema solo-planta
Segundo o Dr. Renan Costa, a dinâmica do potássio e do fósforo no solo é influenciada não somente pela fase líquida, mas também pelos componentes da fase sólida, como a influência mineral e orgânica.
A influência mineral é muito forte com o fósforo, pois ele tem uma interação muito grande com os óxidos presentes na fase sólida. Ou seja, mesmo que ele tenha um teor quantitativo alto no solo, a sua disponibilidade para as plantas será muito pequena.
Já o potássio possui uma relação muito estreita com a matéria orgânica do solo, pois é dependente de uma alta capacidade de troca catiônica (CTC) para ficar retido temporariamente na fase sólida e não ser lixiviado.
O professor aponta que mais de 70% da CTC dos solos é proveniente da matéria orgânica e não tem impacto na somente na retenção do potássio. Ela também interage com a fase mineral e ocupa regiões que seriam responsáveis pela fixação de fósforo, que tornam o nutriente indisponível para as plantas.
Essa indisponibilidade do nutriente também é associada ao pH do solo, já que, em geral, quanto mais ácido o ambiente, maior a energia de ligação entre o fósforo e a fase sólida. Ou seja, a disponibilidade do fósforo aumenta com o aumento do pH, já um valor mais alto desse parâmetro torna o solo mais básico e menos ácido.
O controle do pH do solo é feito através da prática de calagem, ainda muito negligenciada pelos produtores que concentram seus esforços no uso de fertilizantes. Os estudos apresentados pelo professor apontaram um potencial de quase duplicação da disponibilidade do fósforo apenas com essa prática.
Entretanto, apenas o uso de fertilizantes não é o suficiente para garantir bons níveis de produtividade, isso porque existe um limite para a resposta dessas aplicações do incremento no rendimento de grãos:
“Quando o teor do nutriente é baixo, há maior incremento no rendimento com adubação e necessidade de maiores doses. Mas resposta à aplicação vai decaindo quanto maior for esse teor de nutriente no solo.”
Por isso, a dosagem dos fertilizantes é outro fator muito relevante. Ela deve ser guiada no conhecimento do solo, através da realização de uma boa amostragem e interpretação de solo. Além disso, os próprios fertilizantes podem demonstrar certas limitações de uso, como o caso do Cloreto de Potássio e seu alto índice salino.
Outro fator que influencia a adubação é a forma como os nutrientes são aplicados. Segundo o Dr. Renan Costa, no fósforo a adubação a sulco mostrou uma maior profundidade das raízes, com menor risco de perdas ao ambiente por escoamento superficial e de plantas por estiagens. Já para o potássio parcelamento das aplicações foi o que teve maior influência positiva, por reduzir o potencial de lixiviação do nutriente.
O sistema de plantio também influencia no sucesso do manejo nutricional
Tanto o fósforo quanto o potássio apresentam interações únicas com o solo e relações essenciais com as plantas, participando de processos essenciais para o seu pleno desenvolvimento e produtividade.
Considerando todas as diferentes relações entre o potássio o fósforo e o sistema solo-planta, um dos fatores que mais tem influência sobre elas é a escolha do sistema de plantio. Isso porque os diferentes sistemas trazem uma série de elementos que limitam as escolhas de manejo: seja do solo, com o revolvimento total ou mínimo, de fertilizantes minerais ou químicos, entre outros.
Pensando nas diferentes particularidades de cada nutriente, a utilização de sistemas de cultivo mais conservacionistas, com revolvimento mínimo, rotação de culturas e dosagens adequadas de fertilizantes mencionadas pelo Dr. Renan Costa se mostraram como as alternativas mais viáveis para garantir um manejo nutricional eficiente em sistemas de cultivo grãos.
Para entender mais sobre como garantir um manejo nutricional adequado em sistemas de cultivos de grãos, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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