Grande parte das instabilidades climáticas vivenciadas na agricultura nos últimos anos têm sido um resultado negativo da intensificação da degradação ambiental e do aumento da concentração de gases de efeito estufa provocados pela ação humana. Contudo, os próprios sistemas agrícolas podem oferecer diferentes solução para esses problemas, com a introdução de estratégias e manejos que favoreçam o enriquecimento ou o sequestro dos gases de efeito estufa, como o gás carbônico (CO2).
Para falar sobre esse assunto, o Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Pós-Doutor em Ciência do Solo pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Marihus Altoé Baldotto participou do “Encontro com Gigantes – ILPF: como o sistema integrado ajuda a reduzir emissões de gases de efeito estufa?”.
O evento foi promovido pela Verde Agritech, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 28 de abril de 2022.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rafael Bittencourt, na íntegra pelo link:
Os gases de efeito estufa e sua interação com os sistemas agrícolas
O efeito estufa é um dos fenômenos naturais responsáveis por manter as temperaturas do planeta estáveis, evitando grandes amplitudes térmicas. Ele faz isso através dos gases de efeito estufa, que possuem a capacidade absorver a radiação solar, estando entre eles o dióxido de carbono.
Entretanto, estimativas apontam que, desde o período da era industrial que teve início no século XVIII, já houve um aumento de 35% da quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, um dos principais gases de efeito estufa.
Com um maior volume desses gases de efeito estufa presentes na atmosfera, a Terra passou a reter e absorver uma maior parcela da radiação solar. Consequentemente, isso se tornou uma das principais causas da elevação das temperaturas globais e a intensificação das mudanças climáticas vivenciadas nos últimos anos.
Uma das principais formas de mitigar os efeitos dessas mudanças climáticas é resolvendo a sua principal causa: o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera. Na agricultura, isso pode ser feito através de práticas que favoreçam o sequestro do carbono.
O sequestro de carbono, nada mais é do que um processo espontâneo de captura e retenção do gás carbônico (CO₂) nos próprios ecossistemas.
O professor Marihus Altoé demonstrou que o processo de compensação e neutralização do carbono é uma estratégia muito importante para o combate das mudanças climáticas, principalmente naqueles países com uma menor intensidade de atividades industriais e que possuem uma intensa atividade agrícola, como é o caso do Brasil.
Mas, como os sistemas agrícolas ajudam no sequestro de carbono? Segundo explica o Dr. Marihus Altoé, os principais fatores que regulam esse processo estão presentes nos componentes que participam do ciclo de carbono nos agroecossistemas, as plantas e os microrganismos do solo:
“A fotossíntese realizada pelas plantas é um dos principais processos envolvidos na transformação do carbono, que passa da sua forma oxidada da atmosfera (CO2) para uma molécula base que armazena energia proveniente da radiação solar. E, quando as plantas entram em senescência e são incorporadas na matéria orgânica do solo, os microrganismos passam a realizar a sua decomposição. Entretanto, como uma parte do carbono não volta para a atmosfera nesse processo, ele acaba persistindo nos sedimentos na forma de substâncias húmicas.”
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A microbiota tem um papel fundamental na retenção de carbono no solo, contribuindo com a redução do efeito estufa e dos impactos das mudanças climáticas. Quanto maior a biodiversidade do solo maior será a quantidade de gás carbônico retido nele.
Dessa forma, o melhor entendimento do comportamento dessas substâncias húmicas é um dos principais caminhos adotados pela ciência para entender mais sobre os processos que governam o sequestro de carbono e propor práticas que o favoreçam.
A relação da matéria orgânica do solo e sequestro de carbono
O estudo das transformações da matéria orgânica, associado aos microrganismos do solo, constitui-se hoje de um dos principais conhecimentos que permitem propor diferentes tipos de manejo que favoreçam o sequestro e acúmulo de carbono no solo.
Estudos realizados pelo Dr. Marihus Altoé identificaram, por exemplo, que um dos principais indicadores que definem se o sequestro de carbono da matéria orgânica é persistente ou se pode ser facilmente perturbado e emitido, são os grupos quinona.
Além disso, ele explicou que o próprio manejo agrícola pode ter um grande impacto no sequestro de carbono, podendo reduzir a diversidade da matéria orgânica e, consequentemente, dos microrganismos do solo.
O professor Marihus Altoé demonstrou que grande parte dos ecossistemas vivenciaram uma transição muito abrupta com a expansão da agricultura. Ela foi responsável, por exemplo, pela redução acentuada da diversidade da matéria orgânica, com a substituição das florestas nativas pelas culturas agrícolas.
E essa redução da diversidade da matéria orgânica pode ter gerado um impacto muito grande no ecossistema do solo, causando um desequilíbrio das populações de microrganismos do solo e do próprio sequestro de carbono.
É por isso que, quanto mais diverso for um agroecossistema, mais diversas e estáveis poderão ser as populações de microrganismos do solo e seus benefícios, que vão muito além do sequestro de carbono.
Segundo o Dr. Marihus Altoé os microrganismos do solo podem promover:
- Efeitos nutricionais, que promovem a biofertilização;
- Efeitos hormonais, que promovem a bioestimulação;
- Efeitos vegetais, que promovem o biocontrole.
A maior diversidade de um agroecossistema, pode ser alcançada por exemplo, com a adoção do ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta). Essa é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades.
Segundo a Doutora em Zootecnia, Márcia Regina, o sistema integrado otimiza o uso da terra, melhora a produção e a eficiência de uso dos insumos, diversifica a produção e gera mais renda para o agricultor e ainda proporciona a mitigação da emissão dos gases do efeito estufa.
Já pesquisas conduzidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em uma área de integração Lavoura-Pecuária já constataram uma redução de 30% da emissão de gases de efeito estufa, quando feita uma comparação com índices preconizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, o IPCC.
Em conclusão, o Dr. Marihus Altoé destacou também que o uso de outras estratégias, associadas à aplicação das substâncias húmicas e a inoculação de microrganismos, podem ser a chave para a produção de alimentos de qualidade com menor número de resíduos, a um preço justo e com responsabilidade social, moral e ética.
Para entender mais sobre como o sistema integrado ILPF ajuda a reduzir emissões de gases de efeito estufa, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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