A demanda de enxofre pela cultura do café pode chegar a superar a de outras culturas perenes, como os citros. Inclusive, os teores de enxofre apresentados no café podem ser mais elevados do que os de fósforo. Mas, qual a função do enxofre no café para que a cultura exija quantidades tão elevadas desse nutriente? Confira a seguir!
Qual a função do enxofre no café?
O enxofre é um componente estrutural de diversas moléculas essenciais para o metabolismo das plantas, e, por isso, apresenta uma importante função para a qualidade e produtividade do café.
Esse macronutriente está presente em praticamente todas as proteínas vegetais, uma vez que ele está envolvido na formação da sua unidade estrutural básica: os aminoácidos. Eles são um dos compostos que são responsáveis pela cor caramelo desejada nos grãos de café após a torra, por exemplo.
O enxofre também é capaz de influenciar em diversos parâmetros físicos do café, tais como:
- A área foliar;
- A altura;
- O diâmetro do caule;
- A produção de matéria seca.
É o que constataram Ronessa Bartolomeu de Souza e outros pesquisadores, no artigo Níveis críticos de enxofre em solos e em folhas de cultivares de café.
Dos cinco cultivares estudados por Ronessa e seus colegas nessa pesquisa, a cultivar Rubi foi aquela que apresentou maiores área foliar e diâmetro do caule com a aplicação de enxofre, coincidindo com os seus maiores acúmulos de matéria seca na parte aérea e no caule.
Além disso, chegou-se à conclusão de que os cultivares de café de porte baixo estudados foram mais eficientes na aquisição e/ou na utilização de enxofre do que os de porte alto, com doze meses de idade.
Outro aspecto muito interessante da inclusão do enxofre nos programas de adubação do café é que ele favorece a fotossíntese das plantas, por estar presente em coenzimas que atuam nesse processo.
Assim, ele pode ser capaz de melhorar a conversão de carboidratos pela planta, que serão usados para o desenvolvimento vegetal e enchimento dos frutos, o que tem impacto na produtividade.
No estudo Respostas de culturas anuais e perenes à aplicação de enxofre, por exemplo, Godofredo César Vitti e outros pesquisadores destacaram trabalhos mostrando respostas positivas na produção de grãos do café Mundo Novo com o uso de diferentes fontes no enxofre.
Mas, como encontrar a dose ideal de enxofre para o cafezal?
Como usar enxofre no café?
Para o uso assertivo do enxofre no café, o primeiro passo consiste na realização de uma boa amostragem e análise de solo dos talhões, usando os métodos corretos.
Ronessa Bartolomeu de Souza e seus colegas pesquisadores, ainda no trabalho Níveis críticos de enxofre em solos e em folhas de cultivares de café, recomenda que a prática da amostragem em profundidade no perfil do solo é essencial.
Isso porque, no caso do café, é muito comum a prática do uso do superfosfato simples, ou mesmo do gesso agrícola como fonte de enxofre. Entretanto, essas fontes têm algumas limitações, como a maior possibilidade de perdas por lixiviação.
O gesso agrícola é bem utilizado na agricultura como condicionador de solo, alguns agricultores usando como fonte de enxofre.
No momento de solicitação da análise, o agricultor também deve se atentar ao método de análise empregado. Dependendo do extrator químico utilizado, podem haver diferenças significativas nos resultados, que podem impactar de modo negativo na recomendação da adubação.
No artigo Soil assays for the recognition of sulphur deficiency, H. M. Reisenauer destacou que alguns extratores conseguem avaliar apenas a fração do sulfato solúvel e parte do sulfato adsorvido, enquanto outros também conseguem extrair porções do enxofre orgânico contido nas amostras de solo.
Apesar de ainda existirem poucas informações relativas ao nível crítico de enxofre no solo para café, que é aquele ponto em que o teor de um nutriente no solo atinge 90% da produção relativa da cultura, alguns autores sugerem valores próximos à 15 mg/dm3.
É o que observam Paulo A. C. Pedroso e outros pesquisadores no capítulo 4 do Boletim Técnico 4: Efeitos de fontes e doses de enxofre em culturas de interesse econômico.
Entretanto, é importante ressaltar que o nível crítico do enxofre também pode variar com o tipo de solo, da espécie e cultivar e da idade das plantas. E, mais do que isso, fatores externos, como a altitude, podem exercer uma influência significativa no momento da recomendação.
No estudo Acúmulo de nutrientes em frutos de cafeeiro em quatro altitudes de cultivo: cálcio, magnésio e enxofre, Bruno Galvêas Laviola concluiu que a altitude teve influência no acúmulo de enxofre e os outros macronutrientes secundários.
Acúmulo de matéria seca (MS) e enxofre (S) em frutos de cafeeiro em função do tempo decorrido após a antese, em quatro altitudes diferentes. (Fonte: LAVIOLA, 2007)
Mas, o que acontece se o café não tiver um suprimento adequado de enxofre durante todo o seu ciclo produtivo?
Os sintomas de deficiência de enxofre em café e como o uso de fontes de liberação progressiva pode melhorar a adubação sulfatada
Apesar dos sintomas de deficiência de enxofre terem certa semelhança com os sintomas decorrentes da falta de nitrogênio, a principal diferença está no fato de que eles vão se manifestar principalmente nas folhas mais jovens da planta. Tendo isso em mente, os principais sintomas de deficiência de enxofre no café são:
- Amarelecimento das folhas seguido do desfolhamento da planta;
- Redução do crescimento da planta e do vingamento das flores;
- Encurtamento dos internódios.
Dessa forma, a fim de se evitar os efeitos da deficiência de enxofre sobre a qualidade e produtividade do café, é imprescindível adotar estratégias de adubação de enxofre considerando o longo ciclo da cultura.
Uma das estratégias que se destaca é o uso de fontes de enxofre com liberação progressiva dos nutrientes. Isso reduz as chances de perdas do nutriente por lixiviação a longo prazo, o que melhora a eficiência da adubação sulfatada!