Deficiência de enxofre em café: como identificar?

Deficiência de enxofre em café: como identificar?

Mesmo com a exigência do cafeeiro em enxofre sendo semelhante à de fósforo, muitas vezes o manejo correto da adubação sulfatada nos talhões acaba sendo subestimado e negligenciado. E, consequentemente, isso pode gerar um impacto muito negativo na produtividade e qualidade do café. Entenda como identificar a deficiência de enxofre em café e as práticas necessárias para evitar essa condição indesejada!

Os sintomas de deficiência de enxofre em café

Os sintomas de deficiência de enxofre podem ter um impacto negativo na produtividade e qualidade do café, uma vez que esse nutriente pode influenciar diretamente:

  • Na síntese de compostos responsáveis pela cor caramelo desejada nos grãos de café após a torra;
  • Nos parâmetros físicos da cultura;
  • No metabolismo das plantas.

No estudo The Sulfur-Containing Amino Acids: An Overview, John e Margaret Brosnan ressaltaram o papel do enxofre para composição dos aminoácidos. Compostos estes que estão ligados à cor dos grãos após a torrefação do café.

Já no artigo Níveis críticos de enxofre em solos e em folhas de cultivares de café, Ronessa Bartolomeu de Souza e outros pesquisadores observaram que a adubação sulfatada influenciou na área foliar, altura, diâmetro do caule e a produção de matéria seca das plantas.

Parte da explicação para a ocorrência dessas alterações físicas pode ser explicada pelo fato de o enxofre estar envolvido com a fixação não fotossintética de CO2, sendo incorporado nos esqueletos de carbono formados.

Por isso, plantas de café deficientes em enxofre geralmente vão apresentar a redução do crescimento da planta e o encurtamento dos internódios.

Entretanto, os maiores impactos nesses parâmetros advêm da participação do enxofre no metabolismo da planta e em processos naturais, como:

No processo de fotossíntese, por exemplo, o enxofre participa da síntese do principal pigmento fotossintético envolvido com a captação da energia solar e que dá a cor característica verde as plantas: a clorofila.

A relação entre o enxofre e a clorofila justifica porque as plantas de café em situações de baixa disponibilidade de enxofre vão apresentar uma coloração amarelo citrina (verde-claro) uniforme nas folhas mais novas, seguidas do desfolhamento da planta.Folhas de café apresentando sinais de deficiência de enxofre, pela presença da coloração amarelada nas folhas mais jovens das plantas

Folhas de café apresentando sinais de deficiência de enxofre, pela presença da coloração amarelada nas folhas mais jovens das plantas. (Mesquita et al, 2016 – EMATER-MG).

Como a clorofila também está ligada à capacidade fotossintética das plantas, quanto menor for o teor desse pigmento nas estruturas vegetais, menor também será a capacidade da cultura em produzir compostos que seriam direcionados para formação de flores e frutos.

Ou seja, plantas maduras com botões florais verdes e pequenos, com alta taxa de abortamento, maturação atrasada das sementes e dos frutos e baixa produtividade também são um sinal de alerta para a deficiência de enxofre no café.

Outros estudos também sugerem que plantas de café deficientes em enxofre também podem ser mais suscetíveis ao ataque de pragas, como a cigarra das raízes.

Isso acontece porque os produtos da oxidação do enxofre no solo têm um potente poder inseticida, que resulta na paralização dos nervos e músculos dos insetos-praga, bem como também na sua intoxicação direta pela liberação de gás sulfídrico (H2S).

É o que destacam Paulo Rebelles Reis e outros pesquisadores no artigo Eficácia do enxofre aplicado via solo no controle da cigarra Quesada gigas (Olivier) em cafeeiro.

Mas, para saber identificar corretamente esses sinais e correlacioná-los aos sintomas de deficiências de enxofre, é preciso saber onde eles se expressam com uma maior ou menor intensidade.

A identificação dos sintomas de deficiência de enxofre em café

Plantas com algum tipo de deficiência nutricional geralmente apresentam duas principais regiões para expressão dos sintomas: a parte vegetativa superior e inferior das plantas.

Na parte vegetativa superior estão concentradas as estruturas mais jovens e em formação das plantas, que por sua vez são as mais exigentes em água e nutrientes. Já na parte vegetativa inferior estão concentradas as estruturas vegetativas mais velhas e maduras, que já absorveram a maior parte dos nutrientes, principalmente estruturais, para sua formação.

Assim, em condições de baixa disponibilidade de nutrientes, essas partes vegetativas mais velhas das plantas servem como uma espécie de “reserva nutricional” para manter o crescimento e desenvolvimento das plantas em condições adversas.

Porém, nem todos os nutrientes apresentam uma boa mobilidade interna na planta e isso gera a repartição geral das regiões em que os sintomas de deficiência se expressam com mais intensidade ou menos intensidade.

 

Os sintomas de deficiência dos nutrientes mais móveis geralmente se concentram nas folhas mais velhas nas plantas, enquanto nas folhas mais novas vão se concentrar os sintomas daqueles nutrientes mais imóveis.

No caso do enxofre, a sua participação como componente estrutural de vários compostos orgânicos acaba prejudicando a sua mobilidade interna na planta e a maior parte acaba ficando retida nas estruturas vegetativas mais velhas.

E como os órgãos vegetativos mais jovens das plantas de café não conseguem encontrar uma fonte de enxofre para suprir suas necessidades nutricionais, grande parte dos sintomas de deficiência vão acabar se concentrando nelas.

Assim, é imprescindível contar com um bom manejo e aplicação de enxofre no solo.

A aplicação do enxofre em café

Segundo os dados apresentados no livro 5ª Aproximação, que é referência para o uso apropriado de corretivos e fertilizantes, recomenda-se a aplicação do equivalente a 1/8 da dose de nitrogênio de enxofre para café, quando não se dispõe de análise de solo.

Entretanto, a prática da análise periódica do solo na propriedade é indispensável para se obter a alta performance nas lavouras de café, uma vez que ela permite um ajuste fino e preciso do equilíbrio nutricional do solo.

Para manter esse equilíbrio nutricional ao longo de todo o ciclo produtivo do café, os estudos também sugerem o uso de fontes de enxofre de liberação progressiva. Essa escolha permite que a liberação do enxofre pelo fertilizante acompanhe o ritmo de absorção durante o ciclo do café, que culmina no florescimento, estágio de maior demanda de enxofre.

É o que recomendam os pesquisadores Eurípedes Malavolta e Milton Ferreira Moraes, no livro Fundamentos do nitrogênio e do enxofre na nutrição mineral das plantas cultivadas.

Deficiência de enxofre em café: como identificar? - e book01–fontes de enxofre usadas na agricultura

O manejo adequado do enxofre é indispensável para a produtividade e a qualidade do café

Em resumo, a melhor forma de se evitar a expressão dos sintomas de deficiência de enxofre em café e assim alcançar o máximo potencial produtivo e a qualidade do café, consiste no manejo adequado adubação sulfatada nas lavouras.

Prática esta que pode ser alcançada com adoção das análises de solo periódicas para recomendação dos fertilizantes e com a escolha das fontes de enxofre que favoreçam um maior equilíbrio de nutrientes no solo durante todo o ciclo do café!

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