AVANÇO DA AGRICULTURA 4.0

Benefícios e desafios do Avanço da Agricultura 4.0 à produção agrícola

A agricultura, assim como outros setores, tem passado por longas transformações. Após três revoluções industriais que moldaram diretamente a área agrícola, vivemos a ascensão da Agricultura 4.0 ou Agricultura digital. Tais termos estão cada vez mais em pauta e remetem à Indústria 4.0.

O panorama do avanço da Agricultura 4.0 e Agrodigital no Brasil aponta que há ainda barreiras a serem superadas para a implementação de tecnologias no dia a dia de todos os produtores, sejam eles pequenos, médios ou grandes. De todo, é notório que as inovações já são parte e estão cada vez mais frequentes no meio rural brasileiro.

Diante disso, quais são os benefícios e desafios que a Agricultura 4.0 traz para a produção agrícola?

O que é a Agricultura 4.0

Contextualizando, a Indústria 4.0 nada mais é do que a transformação tecnológica dos processos industriais refletindo em resultados expressivos no que se refere à qualidade, produtividade e eficiência. De modo geral, o conceito abrange qualquer setor produtivo, independente se este é uma indústria de ponta ou não.

Toda a transformação tecnológica dá-se por meio de inovações, integração dos sistemas, automação e digitalização dos processos. Com isso, há a transformação do modelo de negócios em um modelo digital. Os complicados processos atuais passam a ser mais inteligentes, promovendo um salto evolutivo na produção.

A Agricultura 4.0 age seguindo a mesma linha, integrando os processos agrícolas por meio do uso de tecnologias como:

  • Automação;
  • Sensoriamento Remoto;
  • Georreferenciamento;
  • Internet das Coisas (IoT);
  • Softwares e Computação;
  • Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC);
  • Inteligência Artificial (IA);

E mais um extenso grupo de inovações que, unidos, podem promover mudanças extraordinárias. Deste modo, compreende-se que a Agricultura 4.0 é a interação de tais métodos tecnológicos, com intuito de obter:

  • Altos índices de produção;
  • Qualidade e segurança alimentar;
  • Eficiência no uso de insumos;
  • Redução dos custos gerais;
  • Melhora na qualidade do trabalho dos profissionais ligados à área;
  • Diminuição dos impactos ao meio ambiente.

O avanço da tecnologia para o campo é algo incontestável e essa transformação ocorre em uma velocidade extremamente rápida. Assim como nos dias atuais já não existe mais separação entre os mundos virtual e físico, esta é uma tendência global que impacta e continuará impactando todos os setores conhecidos atualmente.

A velocidade das revoluções tecnológicas vem crescendo numa rápida curva de ascensão.

A velocidade das revoluções tecnológicas vem crescendo numa rápida curva de ascensão. Essas mudanças têm um impacto direto também no setor agrícola, chegando no atual estágio da Agricultura 4.0 (Fonte: Hansen, 2016)

Portanto, quem busca um futuro com altos números de produtividade e otimização das atividades nos dias atuais é levado a fazer parte do processo da Agricultura 4.0.

Como as tecnologias estão remoldando os processos da agricultura brasileira

Atualmente, a agricultura brasileira está vivenciando profundas transformações socioculturais, ambientais, econômicas e mercadológicas, impactando consideravelmente o meio rural.

Devido à pandemia de COVID-19, ano de 2020 mudou o comportamento da sociedade e consumidores, tornando-os mais digitais. Isso trouxe uma aceleração da transformação digital no Brasil.

Inúmeros especialistas destacam que a utilização de tecnologias é, sem dúvidas, o grande motor da agropecuária futurista. Por meio da Agricultura 4.0, há a associação das tecnologias físicas, digitais e biológicas. Assim há um start para a remodelação no modo como são desenvolvidos os negócios, as interações e a produção em geral.

Em todos os setores da agricultura, uma mesma frase se repete: “Seremos mais de 9 bilhões de pessoas em 2050 e precisamos dobrar a produção de alimentos até lá”. A sentença vem de um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO).

Com a consciência de que haverá o aumento rápido em anos da população, pode-se chegar à conclusão de que o atual sistema de produtividade tem de passar por mudanças, visto que os recursos naturais são limitados. Ao mesmo tempo, deve haver a conciliação entre produção e meio ambiente.

A agricultura terá que se sobressair para atender à demanda mundial de alimentos, o mundo deverá transformar os processos da agricultura. Porém, isso só será possível com um esforço coletivo reunindo centros de pesquisa, empresas e profissionais da área e, em especial, os produtores rurais.

Apesar dessas mudanças parecerem estar em um futuro próximo, elas já são realidade a nível mundial e fazem parte do cotidiano de grande parte dos agricultores, mesmo que indiretamente.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período entre 1975 e 2019 houve um aumento exponencial em relação a produção de grãos no Brasil. A produção saltou de 38,1 milhões de toneladas para 232,6 milhões, representando um aumento de 510%.

Esses resultados foram possíveis somente devido ao acesso e à implementação de tecnologias como:

  • Programas de melhoramento genético, com sementes que se adaptam às particularidades de clima e solo de diferentes regiões;
  • Utilização de biotecnologia: os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) auxiliam as plantas a resistência ao ataque de pragas;
  • Uso mais racional e assertivo de defensivos, consequência das tecnologias anteriores: a atuação desses insumos passou a ser mais efetiva contra fitopatógenos, insetos, doenças e plantas invasoras;
  • O uso de fertilizantes e corretivos no cultivo, possibilitando um ambiente propício para o desenvolver das culturas;
  • Aprimoramento das técnicas de cultivo: a mecanização de processos expandiu o rendimento operacional das áreas cultivadas.

Conforme relatório Radar AgTech Brasil, no ano de 2019, aproximadamente 1.125 startups de agrotecnologia foram identificadas somente no Brasil, atuando em diversas áreas do setor agrícola.

Em vista disso, a Agricultura 4.0 chega para possibilitar a conexão entre todas essas tecnologias, que já fazem parte da grande maioria das fazendas, e das inovações existentes no mercado.

Um exemplo é a Internet das Coisas, uma das novas tecnologias da Agricultura 4.0, que é caracterizada como um conjunto de ferramentas. Com ela, tem-se uma comunicação direta entre os equipamentos por meio de sensores e conexões sem fio, em outras palavras, pode-se ter dados centralizados, vindos de mais de uma fonte.

O uso da tecnologia traz praticidade e facilidade na realização das atividades do dia a dia da lavoura. Elas também são um apoio para os produtores na tomada de decisões, auxiliando-o a ter um melhor planejamento, mensuração de dados e tratativa das informações coletadas. Isso potencializa a produção, além de reduzir possíveis perdas.

Outro exemplo de digitalização das fazendas brasileiras é a implementação de drones na rotina do campo. A aplicabilidade desses aparelhos vem se expandido cada vez mais, com os produtores utilizando-os, entre muitas outras funcionalidades, em atividades como:

  • Aplicação de defensivos e inoculação em lavouras;
  • Monitoramento do rebanho bovino;
  • Contagem do gado;
  • Localização de animais perdidos.

Da mesma maneira, há o monitoramento de área com satélites e sensores que fazem a medição do estado hídrico; nutrição de plantas; rastreamento de plantas daninhas e insetos em geral.

Estufas inteligentes, Fazendas flutuantes (Floating farms), Agricultura de Deserto, e fazendas que produzem energia limpa, através de energia solar, são inovações promovem a sustentabilidade.

E a lista segue adiante: se apenas uma pequena porcentagem das tecnologias disponíveis no mercado agroindustrial mundial fosse mencionada, ainda seria um extenso rol tecnológico.

Quais são os principais desafios com a mudança para o agrodigital

Apenas pela implementação das tecnologias é possível ampliar os fatores de produção, dentre eles a geração de renda e a criação de novas formas de conciliação de recursos. Isso permite a utilização de novos insumos, elevando a produtividade destes recursos juntamente ao trabalho.

Dentre os desafios, é preciso desmistificar ao produtor que a adesão às tecnologias é algo caro, uma vez que é possível inovar com um baixo nível de investimentos. Além disso outra dificuldade é mostrar de forma eficiente as vantagens do uso das tecnologias e o retorno que elas trazem.

Um dos principais gargalos a serem superados é a padronização tecnológica, que garante a concordância de equipamentos. Isso porque esse processo requer capacidade por parte dos agricultores de investir em inovações tecnológicas, além de soluções integradas por empresas do ramo agrícola.

Outro fator limitante é a dificuldade em acessar internet em áreas rurais. Por causa da falta de investimentos, isso acaba impedindo o avanço de aplicativos móveis no meio rural. A conectividade no campo no Brasil ainda é deficitária: segundo o levantamento do Censo Agrícola pelo IBGE de 2017, o índice de pessoas na zona rural que não possuem acesso à internet é de 21%, enquanto na zona urbana é de apenas 1%.

Mas há luz no fim do túnel: recentemente, foram iniciados os testes com a tecnologia 5G na área rural do estado de Goiás. O setor agrícola é impulsionado pelo conjunto de tecnologias e suas repartições, devendo crescer ainda mais no momento em que a conectividade for expandida por todo o país

As máquinas não querem seu emprego

No passado, o advento da automação e os avanços da tecnologia muitas das vezes, levou à queda dos empregos. Em um estudo publicado pelo Mckinsey Global Institute foi previsto que metade de todas as atividades que são desempenhadas hoje por trabalhadores poderão ser automatizadas até 2055, incluindo os setores de agricultura e produção de alimentos.

De acordo com pesquisa realizada pela auditoria e consultoria empresarial Deloitte, para os empresários brasileiros os principais desafios para o avanço da revolução 4.0 são a falta de preparação profissional para uso de novas tecnologias e o desconhecimento sobre as capacitações necessárias para potencializar o trabalho. No agro, não é diferente.

A ideia de que as máquinas, ou robôs, tecnologias em geral irão tomar os empregos é um mito da economia, que ainda é bastante expressado pela população.

No meu trabalho sobre o avanço da Agricultura 4.0, seus benefícios e desafios à produção agrícola, foi conduzida uma pesquisa com 100 produtores rurais do Triângulo Mineiro, uma das principais regiões do agronegócio nacional. Os resultados mostraram que 61% associam a implementação de novas tecnologias ao desemprego.

Mais de 60% dos produtores rurais entrevistados associaram a implementação de novas tecnologias no campo ao desemprego

Mais de 60% dos produtores rurais entrevistados associaram a implementação de novas tecnologias no campo ao desemprego

Esse cenário reforça a importância da informação e aponta que ainda há muito trabalho a se fazer em relação a educação tecnológica do meio rural. Isso é conseguido com a quebra do preconceito existente na associação entre desemprego e tecnologia.

Com as transformações tecnológicas, haverá mudanças na oferta de empregos e algumas profissões deixarão de existir. A boa notícia, entretanto, é que inúmeras outras surgirão. Assim, a expectativa é uma expansão na quantidade e qualidade de empregos.

De modo geral, é necessário que haja a capacitação de técnicos, produtores e prestadores de serviços para que estes adotem as novas tecnologias disponíveis. Da parte das tecnologias, é preciso que estas se tornem mais acessíveis e adequadas às necessidades rurais.

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