De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), o clima é uma das grandes preocupações do produtor brasileiro, figurando entre os desafios considerados mais importantes na hora de pensar o agronegócio.
Além dos desafios inerentes ao clima, por exemplo ser às vezes imprevisível, essa preocupação é mais agravada pelas instabilidades causadas pelas mudanças climáticas.
Como lidar com os complexos fenômenos climáticos que podem fazer com que haja uma estiagem quando é para haver chuva? Ou chuvas fora de época ou em excesso que lixiviam os fertilizantes?
Fertilizantes altamente solúveis em água e o problema da lixiviação
Muitas das fontes convencionais de adubação utilizadas na agricultura são altamente solúveis em água. É o caso, por exemplo, do Cloreto de Potássio (KCl) e do enxofre sulfatado. Embora elas tenham uma rápida disponibilização de nutrientes, essas fontes também têm um grande problema: a lixiviação.
A lixiviação é causada pelo excesso de água, que acaba levando os nutrientes altamente solúveis para as camadas mais profundas do solo. Esse excesso de água pode ser tanto por causa da má irrigação quanto da chuva.
Na hora de fazer o planejamento do plantio, geralmente o agricultor leva em conta os períodos de chuva antes de aplicar os fertilizantes que são suscetíveis a esse fenômeno. Mas, por causa das mudanças climáticas, como o El Niño e La Niña, isso fica mais complicado.
“Quando os veículos de comunicação divulgam que um evento El Niño ou La Ninã poderá ocorrer nos próximos meses, cria-se um ambiente de preocupação e de expectativa nas regiões afetadas.”
Um exemplo são os fertilizantes de liberação gradual. Essas fontes, geralmente fertilizantes minerais, não são solúveis em água. Isso faz com que a sua liberação seja mais lenta que as fontes solúveis, mas evita que elas sofram os efeitos da lixiviação.
Assim, o agricultor tem a certeza de que a quantidade de nutrientes que ele aplicar no solo será a quantidade que ficará disponível para as plantas. Outra vantagem da liberação gradual é que os nutrientes ficam no solo pelo tempo que as plantas precisam para se desenvolver.
Além de trazer economia com a redução da necessidade de reaplicação, no caso de sistemas de adubação de rotação de culturas, a liberação gradual e o efeito residual das fontes não solúveis trazem outras vantagens, como explica Eduardo Coelho, engenheiro agrônomo e sócio-diretor da Cientia, empresa de consultoria agrícola de sucesso no Brasil:
Mas se o excesso de chuvas traz problemas quando são usadas fontes lixiviáveis, a falta de chuvas causada pelo desequilíbrio das mudanças climáticas traz outros problemas para o produtor: o estresse hídrico.
Como evitar o estresse hídrico e outros estresses abióticos na lavoura
Além disso, quando a planta tem acesso à água, mas não consegue absorvê-la de maneira eficaz, ela também fica sob um tipo de estresse hídrico chamado de seca fisiológica. A seca fisiológica está ligada ao excesso de água, de salinidade e baixas temperaturas.
Por isso, é preciso que o produtor considere medidas para reduzir os danos que esses fenômenos possam ter em sua lavoura. Uma forma de fazer isso é com a utilização do silício.
Entretanto, a PhD em Solos e Nutrição de Plantas, Mônica Sartori de Camargo, escreve no artigo Efeito do silício na tolerância das plantas aos estresses bióticos e abióticos que, de maneira geral, existem duas possibilidades para esse efeito do silício na redução do estresse hídrico:
- O fortalecimento dos tecidos vegetais, o que evita a perda de água pelo processo de transpiração realizado pelos estômatos.
- Já a outra é através da regulação dos processos bioquímicos, que ajudam as plantas a lidarem com efeitos adversos que levam ao estresse hídrico, como a salinidade.
Dependendo de como a planta interage com o silício, essa ação pode ocorrer de maneiras diferentes. Em plantas que são acumuladoras de silício, como o arroz, o sorgo, o milho e a cana-de-açúcar estudos como o artigo Role of Silicon in Plant Resistance to Water Stress, da Dra. Elzbieta Sacala indicam que há uma acumulação desse elemento nos tecidos vegetais superiores, fortalecendo os estômatos e evitando a perda de água.
Além disso, a Dra. Elzbieta também nota que “o silício modula o metabolismo das plantas e altera as atividades fisiológicas, particularmente em plantas sujeitas a condições de estresse”
Já em plantas que não são acumuladoras de silício, como o café, essa ação parece estar mais ligada ao acúmulo desse nutriente nas raízes.
Por exemplo, a Dra. Claudia Dias-Arieira, pesquisadora da Universidade Estadual de Maringá, diz, no artigo Controle de Meloidogyne paranaensis em cafeeiro mediado pela aplicação de silício, que a “aplicação de silicato de potássio resultou no aumento da concentração radicular de Si em 71,06%”, ajudando a planta a lidar com o estresse hídrico.
Outro nutriente que pode ter um papel importante na proteção das plantas contra as variações de temperatura, aumentando a resistência ao frio, é o enxofre, como nota a Dra. Ilca Puertas, em sua participação no evento online Encontro com Gigantes.
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