Você sabia que o boro é considerado o micronutriente que apresenta os níveis mais limitantes no solo? Esse dado, apresentado por Ronaldo Luiz Vaz de Arruda Silveira e outros pesquisadores no estudo Nutrição e Adubação com Boro em Eucalyptus, revelam que a presença dos sintomas de deficiência de boro no eucalipto pode ser mais comum do que imaginamos. Conheça, a seguir, quais são eles e como evitá-los através do bom manejo desse micronutriente nos cultivos florestais!
Quais os sintomas gerais de deficiência de boro no eucalipto?
Desde a década de 50, a deficiência de boro tem sido encontrada em lavouras florestais, já que os solos brasileiros são, de forma geral, pobres em micronutrientes essenciais para as plantas.
Quando plantas de eucalipto não são submetidas à uma nutrição adequada com boro, elas acabam sofrendo diversas consequências que podem impactar tanto a produção e qualidade da madeira, quanto a sanidade da cultura.
É sabido que uma das regiões mais sensíveis à deficiência de boro nas plantas são as raízes. Elas acabam tendo a sua capacidade de absorção de água e nutrientes limitadas pelos diferentes efeitos negativos que a baixa disponibilidade desse micronutriente causa nas plantas.
Com isso, a deficiência de boro no eucalipto acaba reduzindo:
- O número de raízes finas;
- O número de micorrizas arbusculares;
- A permeabilidade da membrana plasmática;
- A condutância hidráulica do xilema;
Além das raízes, os sintomas de deficiência de boro no eucalipto também se manifestam nas copas das árvores. Folhas novas pequenas, deformadas, espessas, com amarelecimento marginal e presença de nervuras salientes nas folhas medianas intermediárias são também outros sintomas de deficiência que podem estar presentes nos cultivos florestais.
Sendo que, em casos mais severos de deficiência, as plantas de eucalipto apresentam uma rápida inibição do seu crescimento causado pela seca e morte dos ponteiros (“dieback”), como também um superbrotamento das gemas laterais dos ramos ao longo do caule, formando tufos de brotos.
Isso faz com que a deficiência de boro se torne uma das mais limitantes do crescimento do eucalipto, principalmente nas fases mais jovens da cultura.
É o que observaram Ronaldo Luiz Vaz de Arruda Silveira e outros pesquisadores, no artigo Sintomas de deficiência de macronutrientes e de boro em clones híbridos de Eucalyptus grandis com Eucalyptus urophylla.
Estádio inicial (c) e mais avançado (d) de deficiência de boro no eucalipto manifestada nas folhas. (Fonte: Mattiello et al., 2009)
Outros sintomas de deficiência de boro no eucalipto que preocupam muitos agricultores são os diversos tipos de danos que a falta desse micronutriente acaba provocando na madeira, reduzindo a sua qualidade.
No estudo Aspectos sintomatológicos, morfológicos e anatômicos da deficiência de boro em plantações de Eucalyptus, apresentado por C. M. Carvalho e outros pesquisadores no Symposium and Woorkshop on Genetic, Improvement and Productivity of Fast Growing Tree Species é relatado que o caule na carência de boro apresenta:
- Deformação e necrose dos raios meristemáticos do câmbio;
- Deformações nas estruturas e configuração dos vasos;
- Baixo número ou ausência de elementos de vasos;
- Hipertrofia dos raios medulares;
- Aumento do número de fibras.
Por fim, não podemos deixar de destacar o impacto negativo que a deficiência de boro pode causar na sanidade dos cultivos florestais.
Segundo o pesquisador D. Bir Mullick, o boro tem influência na atividade do felogênio, um meristema que participa de um importante mecanismo responsável pela defesa das plantas lenhosas à infecção e injúria.
Assim, plantas de eucalipto deficientes em boro acabam se tornando mais suscetíveis ao ataque de fitopatógenos, como aqueles causadores da seca de ponteiro (Botryosphaeria ribis) e podridão seca (Lasiodiplodia theobromae).
É o que ele explica no capítulo The Non-Specific Nature of Defense in Bark and Wood During Wounding, Insect and Pathogen Attack do livro The Structure, Biosynthesis, and Degradation of Wood.
Portanto, podemos perceber que a adubação com boro no eucalipto, muitas vezes, será uma prática indispensável para evitar as consequências negativas que os sintomas de deficiência de boro no eucalipto podem causar.
Como repor o boro para a cultura do eucalipto?
Quando pensamos na adubação com boro para a cultura do eucalipto, é preciso entender que a boa disponibilidade desse micronutriente no solo não depende somente da aplicação de fertilizantes, mas também das condições do solo.
Por isso, o bom preparo e manejo do solo devem sempre ser considerados os primeiros passos para se evitar os sintomas de deficiência de boro no eucalipto.
Estudos indicam que uma das épocas mais propícias para a manifestação dos sintomas de deficiência de boro nos cultivos florestais é a estação das secas.
Isso acontece porque um dos principais mecanismos pelo qual as plantas absorvem o boro é altamente dependente de água, ou seja, condições de déficit hídrico induzem a deficiência de boro no eucalipto.
No artigo Transporte de boro no solo e sua absorção por eucalipto, Edson Marcio Mattiello e outros pesquisadores observaram que a falta de água alterou a contribuição dos mecanismos de transporte de boro no solo, deprimindo a quantidade de boro absorvido pelas plantas de eucalipto.
Ou seja, a adoção de práticas que favoreçam a maior retenção de água no solo, o aumento dos teores de matéria orgânica e o uso de fertilizantes ricos em glauconita, é muito importante para melhorar a disponibilidade de boro para as plantas.
Uma das formas de aumentar a reserva de água no solo é com o uso de fertilizantes ricos em glauconita, mineral fonte de potássio que tem uma alta capacidade de retenção de água.
Além disso, é preciso ter em mente que da mesma forma que a falta de água limita a disponibilidade do boro, o seu excesso também pode prejudicar o acesso de boro pelas plantas, caso as fontes aplicadas desse nutriente sejam altamente solúveis em água.
Como o boro é um micronutriente muito móvel no solo, fertilizantes altamente solúveis em água acabam sendo muito suscetíveis a sofrer perdas do seu conteúdo de nutrientes para as camadas mais profundas do solo, pelo processo de lixiviação.
Dessa forma, a aplicação de fontes de boro de liberação progressiva e com longo efeito residual são recomendadas para melhorar a disponibilidade desse nutriente para as plantas, uma vez que elas mitigam grande parte das perdas de boro por lixiviação.
Boas práticas de manejo do solo e adubação são capazes de evitar os sintomas de deficiência de boro no eucalipto
Em conclusão, podemos perceber que as boas práticas de manejo do solo e adubação com boro no eucalipto estão inclusas entre as principais estratégias que o agricultor pode usar para melhorar a disponibilidade desse micronutriente para as plantas.
Assim, a aplicação de fontes adequadas de boro aliadas ao incremento da qualidade física e biológica do solo são práticas indispensáveis para se evitar os impactos negativos que os sintomas de deficiência de boro causam na produção, qualidade e sanidade dos cultivos de eucalipto!