Entenda os desafios para o desenvolvimento da compostagem no Brasil

Entenda os desafios para o desenvolvimento da compostagem no Brasil

A geração de resíduos orgânicos no Brasil cresce cada vez mais. Existem desafios para que a compostagem seja, definitivamente, adotada no país, como a preparação do parque industrial nacional para atender ao mercado de adubos orgânicos.

No dia 17 de setembro, o evento Encontro com Gigantes, promovido pela Verde, empresa que produz o fertilizante K Forte®, recebeu Kátia Goldschmidt Beltrame especialista no assunto. Kátia Beltrame é Diretora Técnica da MK2R Soluções em Compostagem e tem mais de 25 anos de experiência em projetos de compostagem de grandes volumes.

A conversa pode ser vista na íntegra aqui:

 

Segundo Kátia, a técnica de compostagem, se for bem conduzida terá como resultado o composto orgânico: “O composto orgânico recebe duas denominações: fertilizante orgânico ou condicionador de solos, dependendo das suas características agronômicas. Se ele é um produto, pode ser comercializado e o primeiro passo é saber se existe a procura por ele”.

Nesse sentido, Kátia apresentou um mapa mostrando que o Brasil é um país com grande potencial para esse negócio, visto que existe uma grande demanda da matéria orgânica nos solos brasileiros.

“Os teores dos solos brasileiros são muito baixos e quimicamente pobres. Predominando o ferro, cálcio e um pouco de magnésio. Mas não tem nitrogênio, fósforo e potássio. Isso é uma consequência do solo tropical. Chove muito, faz muito calor. Por isso, é necessária a reposição dos nutrientes orgânicos”.

Qual é o tamanho da demanda de matéria orgânica no Brasil?

O Brasil é um país continental de grande extensão com um total de 851 milhões de hectares. Dessa área 152,5 milhões de hectares são destinados à agricultura. Onde 62,5 milhões de hectares são destinados às plantações de grãos e 200 milhões à pastagem. Destes, 130 milhões de hectares são de pastagens degradadas, que só são recuperadas com o uso de matérias orgânicas de qualidade.

“O ideal é utilizar em média 10 toneladas de matéria orgânica por hectare. Claro que vai depender da cultura. Mas adotei essa taxa para falar de adubação orgânica. Ou seja, temos uma demanda de 1 bilhão e 525 milhões de toneladas de matéria orgânica. Um número astronômico”.

Hoje o Brasil conseguiria atender a essa demanda?

Se hoje todo o parque industrial estivesse instalado no país para produção de fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo, o Brasil conseguiria atender a demanda?

Para responder a essa pergunta, Kátia Beltrame explica um pouco a natureza dos fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo.

Os condicionadores de solos podem ser adquiridos através de matérias-primas extrativistas, fabricadas pela natureza. Ainda é possível obter os mesmos produtos através de resíduos orgânicos que advém de outras atividades como a agricultura, pecuária, agroindústrias, indústria e comércio e urbanas: “Esses produtos [os resíduos] precisam passar por um processo de compostagem para que se transformem em fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo. Assim os resíduos são reaproveitados de forma sustentável”.

Resíduos da pecuária

A pecuária gera enorme quantidade de resíduos no Brasil. Falando da avicultura, o país é o primeiro exportador de carne de frango e o terceiro produtor. Estudos comprovam que cada galinha produz 100 gramas de esterco por dia. O que indica que ao longo de um ano teria cerca de 53,5 milhões de toneladas de esterco disponíveis.

Quanto à carne bovina o país é o primeiro exportador e segundo produtor mundial. O rebanho nacional está estimado em 213,5 milhões de cabeças. Cada boi gera diariamente 20 kg de esterco. Ou seja, anualmente cerca de 1,55 trilhão de toneladas ao ano são gerados.

Em relação ao rebanho de porcos, o Brasil está em terceiro lugar na exportação e na produção, com 41,4 milhões de cabeças suínas gerando 88 milhões de toneladas anuais de esterco.

Resíduos da agricultura e indústria

Sendo o Brasil uma potência agrícola, toda a geração de alimento acaba gerando muito resíduo orgânico. Algumas culturas geram mais 1 bilhão de toneladas de resíduos anuais.

Em relação a indústria, em 2003, 96% dos resíduos industriais eram classificados como “resíduo não perigoso”, com potencial agronômico. Só 4% dos resíduos gerados pela indústria são tóxicos ou inflamáveis. Logo, há uma grande oferta desses produtos para uso na compostagem.

Resíduos sólidos urbanos

Gera-se por dia no Brasil, segundo dados, 216 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos. Metade é orgânico.

Somando todas essas fontes de geração de resíduos, ao ano temos 1 bilhão de resíduos orgânicos ao ano. Se metade desses resíduos fossem destinados à compostagem, teríamos 224 milhões de toneladas de composto ao ano. Como a demanda brasileira é de 1,5 bilhões, anualmente, teríamos um déficit de 1,3 bilhões de toneladas.

“Resumindo, tem muito potencial para usar na compostagem no país. Demanda tem! É preciso fazer com que o agricultor utilize mais esse tipo de insumo. Além do país ser dependente da importação de fertilizantes para bater recordes de produção”.

Como destacou a diretora técnica, Kátia Beltrame, o Brasil é extremamente dependente da importação de fertilizantes para que a sua agricultura seja produtiva e bata recordes de produção: “Em 2019, nós tivemos uma demanda de fertilizantes de 36,2 milhões de toneladas. E importamos 31 milhões de toneladas, tendo um gasto de 9 bilhões de dólares. A solução pra isso é fomentar e incentivar a produção local de fertilizantes”.

Conheça a ABISOLO

A ABISOLO, como citou Kátia, é a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal, com 17 anos de funcionamento e conta com 110 associados: “A Indústria de Tecnologia em Nutrição Vegetal desenvolve novos produtos que contemplam a nutrição vegetal proporcionada pela indústria tradicional de fertilizantes, através do uso de matérias primas diferenciadas e incremento de tecnologia em processos de produção desses novos produtos”.

 Os produtos em Tecnologia em Nutrição Vegetal são:

  • Fertilizantes especiais;
  • Biofertilizantes;
  • Fertilizantes orgânicos;
  • Fertilizantes organominerais;
  • Condicionadores de solos;
  • Substratos para plantas.

Kátia apontou que o segmento de distribuição de insumos agrícolas passa por um importante processo de consolidação, seja em função da busca por economia de escala ou em consequência de mudanças nas estratégias dos agricultores ou das indústrias. Destacando o crescimento de 7,7% do mercado de fertilizantes especiais em 2019, comparado a 2018.

Dificuldades para o crescimento da compostagem no Brasil

Kátia elencou algumas dificuldades que impedem que a compostagem seja mais bem sucedida no país:

  • Não temos maquinário apropriado para o tratamento de grandes gerações de resíduos;
  • Não temos equipamentos adequados para aferir medições para a compostagem;
  • Não temos incentivos fiscais, linha de crédito adequada;
  • Concorrência desleal da indústria informal;
  • Falta de cursos profissionalizantes ou cadeiras em universidades;
  • Falta de conhecimento das vantagens da adoção da adubação orgânica;
  • Não temos incentivo ao uso de insumos de base orgânica
  • Falta maior clareza da legislação ambiental para a instalação e funcionamento das indústrias
  • Falta de profissionais adequados.

Oportunidades para o crescimento da compostagem no Brasil

Fechando o encontro, Kátia deixou algumas reflexões para oportunidades que podem promover o setor de compostagem:

  • Alavancar novas indústrias no país;
  • Suprir parte da demanda de fertilizantes, aliviando a pressão na balança comercial e a dependência externa;
  • Contribuir cada vez mais para o aproveitamento dos resíduos sólidos, agregando valor, gerando empregos, tributos e divisas.
  • Contribuir efetivamente para a construção e a recuperação dos solos brasileiros, viabilizando cada mais a agricultura intensiva, o aumento da produtividade e a redução nos índices de expansão da área plantada.

Quer saber mais sobre os desafios para o desenvolvimento da compostagem no Brasil? Confira o vídeo na íntegra!

Não perca os próximos eventos! Confira toda a programação do Encontro com Gigantes e faça sua inscrição pelo link: https://www.kforte.com.br/encontrocomgigantes/

Kátia Goldschmidt Beltrame é Diretora Técnica da MK2R Soluções em Compostagem, com mais de 25 anos de experiência em projetos de compostagem de grandes volumes, tendo já utilizado em projetos mais de 5 milhões de toneladas de resíduos. Kátia Beltrame é uma das maiores especialistas na área de compostagem, com especialização em microbiologia agrícola e nutrição de plantas. É coautora em livros sobre o assunto, como “Gestão de Resíduos na Agricultura e Agroindústria”, editado pela Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais. Além de membro da Câmara Ambiental da Indústria da FIESP e da ABISOLO, da qual também é fundadora. Kátia é professora convidada no Curso de Pós Graduação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e do Programa SolloAgro do Departamento de Solos da mesma Instituição. Recebeu diversos Prêmios Ambientais, como o Prêmio Von Martius, da Câmara de Comércio e Indústria BRASIL –ALEMANHA. Kátia Goldschmidt Beltrame tem graduação em Engenharia Agronômica e tem mestrado em Microbiologia Agrícola, ambos pela ESALQ/USP.

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