Apesar do enxofre geralmente ser absorvido pelas plantas na forma de sulfato (SO42-), que está presente na solução do solo, analisar somente essa forma de enxofre não garante uma compreensão assertiva do real estado de fertilidade do solo. Isso acontece porque também existem outras reservas de enxofre que podem passar para a solução do solo, como o enxofre lábil. Conheça mais sobre ele e como pode ser feita a análise de enxofre lábil no solo!
O que é o enxofre lábil?
No solo existem duas principais fontes de enxofre, denominadas enxofre não-lábil e lábil. Ambas se diferem tanto pela sua origem e localização dentro da fração do solo, quanto por sua velocidade de disponibilidade para as plantas.
A fração não-lábil é usada para denominar todas as formas de enxofre que não se encontram em equilíbrio com aquelas da solução do solo e que ficam fortemente retidas pelos coloides inorgânicos e/ou, orgânicos do solo.
Dentro dessa fração do enxofre, estão inclusas:
- As formas de enxofre precipitadas de baixa solubilidade;
- As formas orgânicas de enxofre ligado a carbono de difícil mineralização;
- As formas em estrutura de anel de seis membros;
- As formas oclusas.
Já a fração lábil, diferentemente da não-lábil, se encontra em equilíbrio com o enxofre da solução do solo. Ela é representada por todas as formas de enxofre que estão presentes na fase sólida do solo que conseguem passar para a solução dentro do tempo necessário para o ciclo vital de uma cultura agrícola.
É o que explicam Sandra Catia Pereira Uchôa e os outros pesquisadores, no artigo Método de determinação de enxofre lábil com membrana de troca aniônica.
Todavia, apesar de haver a separação entre a fração não-lábil e lábil, ainda existem diversos desafios acerca da análise do enxofre no solo. Isso acontece tanto em razão de um certo grau de reversibilidade entre as formas pertencentes a cada grupo, quanto a fatores relacionados aos extratores usados nas análises laboratoriais.
Os extratores usados nas análises de solo são soluções químicas que possuem a capacidade de solubilizar os nutrientes presentes nas amostras, de forma a simular o que as culturas seriam capazes de extrair do solo durante seu desenvolvimento.
Entretanto, grande parte dos extratores usados para determinar o sulfato solúvel do solo, por exemplo, dificilmente consegue avaliar somente o enxofre lábil do solo. Isso acontece porque também existe a possibilidade de extração de formas não-lábeis.
Como, então, é possível analisar a fração de enxofre lábil do solo?
A análise de enxofre lábil no solo
De forma geral, a disponibilidade de enxofre no solo depende da interação de fatores, como:
- A quantidade (Q), que mede a reserva lábil;
- A intensidade (I), que mede esse nutriente na solução do solo;
- A capacidade-tampão (CT), um parâmetro que mede a capacidade de reposição do enxofre da forma lábil para a solução.
Buscando integrar a interação entre esses diferentes fatores, uma das principais alternativas metodológicas que vem despontando como uma solução para analisar o enxofre lábil no solo é o emprego da resina trocadora de ânions. Extrator esse que foi sugerido ainda na década de 50 para a determinação da reserva lábil de fósforo.
As resinas de troca iônica são polímeros sintéticos que liberam diferentes íons ao entrar em contato com a água presente nas amostras de solo. Assim, elas conseguem captar os cátions e ânions presentes nas amostras.
Dessa maneira, o uso dessas resinas para análise do enxofre lábil vai possibilitar a extração tanto de formas prontamente solúveis quanto das formas adsorvidas ou precipitadas, mas que podem passar à solução do solo.
Inicialmente, o uso das resinas de troca iônica sofria algumas limitações, frente aos problemas relacionados a perdas durante a extração ou mesmo da dificuldade de limpeza dos materiais após as análises.
Mas, particularmente no caso do enxofre, elas foram superadas com a introdução de membranas de resina em forma de lâminas na década de 60, que tornaram todo o processo de extração mais ágil e eficiente.
Entretanto, vale destacar que a utilização das resinas de troca iônica para a análise de alguns outros nutrientes, como o potássio, por exemplo, ainda é limitada em alguns pontos.
O método de análise de solo utilizando a resina de troca iônica ainda tem algumas limitações com relação a nutrientes como o potássio.
Para testar a viabilidade desse método para análise da fração de enxofre lábil do solo, Sandra Catia Pereira Uchôa e seus colegas realizaram diversos testes, como descrito também no artigo Método de determinação de enxofre lábil com membrana de troca aniônica.
Nesse trabalho, os pesquisadores observaram que, dependendo do tempo de extração, diferentes frações do enxofre do solo podem ser obtidas, sendo elas:
- Agitação contínua por 48 h: enxofre rapidamente lábil (SRL);
- Agitação contínua entre 48 e 152 h: enxofre lentamente lábil (SLL);
- Agitação contínua superior a 152 h: enxofre não-lábil (SNL).
Além disso, os pesquisadores destacaram que, quando as análises são realizadas com a membrana de troca aniônica, é preciso se atentar ao número de membranas e ao volume de resina. Isso porque eles podem variar de acordo com a concentração de enxofre no solo e com o tipo de solo, como contatado no estudo.
O número de membranas, por exemplo, afeta diretamente a área na superfície de adsorção. Parâmetro esse que, por sua vez, pode interferir na extração das formas de enxofre que se encontram mais fortemente retidas.
Por isso, é sempre importante contar com o auxílio de um profissional especializado na hora de definir a melhor metodologia para análise de enxofre lábil no solo.
A análise de enxofre deve ir muito além das metodologias tradicionais de análise de solo
Em conclusão, a análise de enxofre deve ir muito além das metodologias tradicionais de análise de solo para alcançar um uso assertivo dos fertilizantes no campo.
Isso porque é preciso considerar não somente os nutrientes presentes na solução do solo, mas como também daqueles presentes na fase sólida do solo que conseguem passar para a solução, conhecidos como enxofre lábil.
Para isso, é recomendado que o agricultor sempre busque aprofundar seus conhecimentos acerca das metodologias de extração usadas nas análises de enxofre do solo, a fim de encontrar aquela que mais se adeque a sua realidade e a finalidade proposta.