Desde 1970, as geadas vêm se tornando cada vez mais recorrentes, segundo dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG). Entretanto, os diferentes ciclos de severidade desse fenômeno fizeram com que muitos agricultores passassem a plantar suas lavouras em locais de risco, aumentando o impacto das geadas em diferentes culturas.
Para falar sobre o assunto, a Verde convidou Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Dr. Pedro Maranha Peche, durante o “Encontro com Gigantes – Geada: como mitigar os danos nas culturas de ciclo longo?”.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 12 de agosto de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rodrigo Mac Leod, na íntegra pelo link:
Os impactos da geada no sistema agrícola
A geada, segundo a definição apresentada Dr. Pedro Maranha, é um fenômeno atmosférico que provoca a morte das plantas ou de suas partes, devido à ocorrência de baixas temperaturas que acarretam o congelamento dos tecidos vegetais.
A formação de gelo sobre as plantas pode ou não ocorrer durante as geadas. O aspecto visual da presença ou não de gelo sobre as plantas classifica as geadas em branca ou negra.
Como os próprios nomes sugerem, na geada branca ocorre a formação de gelo sobre as plantas, devido as condições de alta umidade na atmosfera, enquanto na geada negra não.
O Dr. Pedro Maranha explicou que o dano da geada branca é bem menos severo do que a geada negra, porque o gelo funciona como um isolante térmico e mantém a temperatura dos tecidos da planta estável, próxima dos 0ºC.
As plantas perenes, no geral, apresentam uma tolerância média de até -2ºC, denominada temperatura letal. (Fonte: LANZETTA, P. – Embrapa Clima Temperado)
Os efeitos das geadas afetam muito os tecidos verdes das plantas, causando danos que vão desde a ruptura das membranas plasmáticas dos tecidos à perda do potencial de turgescência. Isso se reflete em sintomas visuais diferentes em cada parte da planta, como:
- Folha: flacidez e coloração verde escura, passando a ficar seca com o tempo;
- Caule: vasos condutores necrosados (escuros);
- Frutos: danos generalizados interna e externamente.
O Dr. Pedro Maranha explicou que, naturalmente, as culturas de frutas de clima temperado conseguem passar pelo período das geadas sem maiores danos, caso elas se encontrem no estado de dormência sem brotações.
Nos demais casos, é preciso adotar medidas preventivas para mitigar os danos nas culturas de ciclo longo. Então, quais são essas medidas?
Medidas para a mitigar os danos das geadas
A mitigação dos danos das geadas envolve o conhecimento tanto do fenômeno em si, quanto das diferentes interações dos componentes do agroecossistema.
O Dr. Pedro Maranha explicou que a melhor forma de evitar geada é não plantando em área que tem geada, e nesse quesito a altitude do terreno terá uma forte influência:
“Para a geada, temos duas condições topoclimáticas que precisam ser evitadas, que são os terrenos muito planos em altitudes elevadas e terrenos côncavos (as baixadas) sem água. Preferencialmente, o terreno escolhido para plantio deve ser virado para face norte no meio da encosta, evitando a face sul e sudoeste que recebe mais vento e menos sol.”
Ou seja, redução dos danos das geadas começa desde a fase de planejamento da área da propriedade. Nessa fase, também é importante avaliar a implantação de outras estratégias com resultados de médio e longo prazo, como a arborização e os cultivos consorciados.
O Dr. Pedro Maranha destacou que o cultivo em consórcio bem feito não prejudica a produtividade da planta parceira e ainda diversifica a renda do agricultor nos anos iniciais de crescimento da cultura perene.
Já quando se fala em estratégias de curto prazo, o Dr. Pedro Maranha explicou que existem várias formas de trabalhar o manejo para minimizar os efeitos da geada, como:
- Manter solo nu nas entrelinhas;
- Eliminar barreiras que possam impedir a saída do ar frio do terreno;
- Criar barreiras temporárias com plantas de crescimento rápido;
- Cobertura de mudas/plantas;
- Formação de neblina artificial;
- Aquecimento.
Entretanto, ele destacou que nem todas podem ser viáveis para o agricultor e é preciso avaliar cada caso para encontrar o conjunto mais efetiva de estratégias considerando o custo x benefício de cada operação.
Além disso, existe uma estratégia que abrange tanto o curto quanto o longo prazo: a nutrição da planta. O Dr. Pedro Maranha apresentou a função de alguns nutrientes que auxiliam na redução dos danos:
“Enquanto o cálcio e o boro são fundamentais para manter a membrana das células firmes e elásticas, o potássio, de forma geral, é como um lubrificante da planta. O potássio auxilia na movimentação de compostos e fotoassimilados, o que proporciona uma alta concentração de açúcares na planta e que reduz ainda mais a temperatura letal.”
Mas, o que fazer se os danos da geada já tiverem acontecido?
A recuperação das lavouras afetadas pela geada
As principais práticas que estão envolvidas na recuperação das culturas afetadas pela geada compreendem a execução de podas e o ajuste das adubações.
O Dr. Pedro Maranha recomenda que o agricultor espere até a primavera para ajustar a altura das podas às brotações, a fim de não se perder material de reserva da planta.
Além disso, para cada tipo de dano na planta deve ser realizado um tipo diferente de poda e, nesse processo, é importante saber equilibrar a reforma da parte vegetativa da planta com a produtividade. O Dr. Pedro Maranha explica que isso pode ser feito por meio da adubação:
“De acordo com a poda que será executada, eu ajusto a adubação, pois a adubação de produção é muito diferente da adubação de crescimento. Então adeque sua adubação à condição que a cultura ficou após a geada.”
Para entender mais sobre a mitigação dos danos das geadas nas culturas de ciclo longo, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
Não perca os próximos eventos. Confira toda a programação do Encontro com Gigantes e faça sua inscrição pelo link: Encontro com Gigantes.