O que é Ácido Bórico

O que é o fertilizante ácido bórico?

O ácido bórico, também conhecido como ácido ortobórico,  é utilizado na agricultura como um fertilizante rico em boro. Esse nutriente tem um papel fundamental para formação de novos tecidos e durante a fase reprodutiva na planta, na qual exigência nutricional se intensifica. Entenda o papel do boro nas plantas, os efeitos e limitações do uso agrícola do ácido bórico.

O boro na agricultura

O boro é um micronutriente, ou seja, é um elemento essencial para planta requerido em menores quantidades. Junto a ele nesse grupo estão inclusos elementos como o cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel e zinco. Ele é encontrado na natureza e disponibilizado para as plantas por meio de dois processos:

  • O intemperismo de minerais;
  • A mineralização da matéria orgânica.

O intemperismo é um processo de desgaste natural das rochas e seus minerais, que são alterados fisicamente e quimicamente por fatores como o clima e relevo. No caso do boro, a principal fonte mineral desse nutriente é a turmalina, que tem uma ocorrência muito comum em rochas metamórficas e ígneas.

A mineralização da matéria orgânica também é um processo de alteração, no qual as substâncias orgânicas são convertidas em inorgânicas por meio dos microrganismos. Assim como acontece com outros nutrientes, tais como nitrogênio e enxofre, existe uma correlação direta entre o teor de matéria orgânica no solo e a disponibilização de boro.

Dessa forma, o boro pode ser encontrado no solo em 3 principais formas:

  • Na solução do solo;
  • Adsorvido aos coloides do solo;
  • Na matéria orgânica.

Ele somente é absorvido pelas plantas se estiver na forma de ácido bórico (H3BO3) ou, em alguns casos, como o ânion borato (B(OH)4), tanto por via radicular como foliar. Apesar do processo de absorção de boro ainda ser objeto de discussão pelos pesquisadores, é apontado que o mecanismo de transpiração realizado pelas plantas seja o principal responsável pela absorção passiva do nutriente.

Para então entender se o boro disponível no solo está sendo absorvido e sendo suficiente para suprir as demandas nutricionais da planta, são feitas as análises do solo e foliar das plantas. Quando os sintomas deficiências já estão visíveis, normalmente a produtividade já foi comprometida.

Ressalta-se que existe uma variedade de sintomas de acordo com a espécie e idade da planta, sendo que um dos principais problemas da deficiência de boro é a perda de dominância apical, que leva a planta ter muitas ramificações. Além disso, também é possível verificar:

  • Folhas: comum necrose de folhas jovens e gemas terminais;
  • Frutos e tubérculos: necroses ou anormalidades relacionadas a degradação dos tecidos internos, abortamento dos botões florais e queda de frutos:

Os sintomas se devem a mobilidade do boro na planta, que é baixa para a maioria das espécies. O nutriente então é absorvido, transportado e depositados nas extremidades das plantas, como folhas, frutos e brotos. Elas são as primeiras a sentirem os efeitos da deficiência ou que sofrem com a toxidez, no caso dos tecidos mais velhos.

Além disso, esses sintomas também estão associados ao papel que o boro tem na planta como: manter a  integridade estrutural da parede celular, metabolizador e transportador de carboidratos e sua relação com algumas etapas do processo de fecundação.

Para repor o boro no solo, um dos recursos mais utilizados é o uso do fertilizante ácido bórico. O que é e quais são os efeitos e limitações desse insumo agrícola?

O uso do ácido bórico como fertilizante

O ácido bórico é um fertilizante solúvel encontrado na forma de cristais incolores ou como um pó branco. Foi produzido pela primeira vez pelo filósofo Wilhelm Homber, no século XVII, a partir da reação do bórax (Na2B4O7·10H2O) com um ácido mineral.

De acordo com a empresa GlobalFert, só em 2019 o Brasil importou 28,2 mil toneladas de ácido bórico. Dessa quantidade total, quase 90% tinha origem de apenas 3 países: Argentina (54,4%), Chile (25,5%) e Turquia (8,4%).

O ácido bórico, junto ao decaborato de potássio e pentaborato de sódio, é um dos fertilizantes mais concentrados, possuindo cerca de 17% de boro. Pode ser aplicado tanto no solo, quanto via foliar, sendo as formas mais estáveis do ácido bórico, como o Boráx (tetraborato de sódio decahidratado), o mais recomendado para aplicação no solo.

Garantias mínimas de teores de boro em alguns adubos exigidos pelo Ministérios da Agricultura, incluindo o Ácido Bórico.

Garantias mínimas de teores de boro em alguns adubos exigidos pelo Ministérios da Agricultura, incluindo o Ácido Bórico.
(Fonte: BELTRÃO et al, 2010)

O boro exige um monitoramento recorrente e aplicação anual, em razão de sua fácil lixiviação, especialmente em solos arenosos e em regiões com chuvas intensas ou irrigação em excesso.

A aplicação no solo deve ser preferencialmente feita na fundação ou em cobertura, enquanto a foliar no estágio reprodutivo da planta, nas fases de abotoamento, canivete, pré-florada e pós-florada. O doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier (França) e professor na ESALQ/USP, Dr. Valter Casarin discorreu sobre alguns dos princípios antes de usar a adubação foliar:

No estudo Nutrição e Adubação com Boro em Eucalyptus, o mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Ronaldo Luiz Vaz de Arruda Silveira, e outros pesquisadores relatam que a aplicação de boro reduziu a seca de ponteiros e proporcionou maior desenvolvimento das plantas.

Com a aplicação de 2 kg.ha-1, houve um incremento na produtividade de 26%, enquanto que a dose de 8 kg/ha incrementou apenas 1% e reduziu o número de folhas, portanto o manejo deve-se atentar ao manejo adequado da dose de boro.

Para outras culturas, como o café no estudo Resposta do Cafeeiro a Doses de Boro Via Solo na Região das Matas de Minas Gerais, as dosagens podem chegar a quase 4 kg.ha-1com a análise de solo do local indicando 0,34 mg. dm-3 de boro e 3,1% de matéria orgânica (MO). O experimento foi conduzido na cidade de Inhapim (MG), em uma lavoura cultivar Acauã com 3 anos de idade, espaçamento 2,60 x 0,60 m e irrigada por aspersão.

Ao final desse mesmo estudo, André Zabini, um dos autores, ainda ressalta a importância de avaliar todos os fatores envolvidos, como: as condições da lavoura, considerando o teor de B no solo, o teor de matéria orgânica, a textura do solo e o potencial produtivo da lavoura.

Porém, somente a aplicação da dosagem adequado ácido bórico ou qualquer outra fonte do nutriente, considerando esses diferentes fatores envolvidos, não garante o suprimento da demanda nutricional.

Isso porque o boro tem a sua disponibilidade no solo afetada por outros fatores, como o pH. Tanto em solos muito alcalinos ou muito ácidos, o boro apresenta uma menor a disponibilidade, tendo sua máxima eficiência na faixa de pH entre 6 e 7 (solos levemente ácidos).

Com isso, práticas agrícolas complementares à utilização do fertilizante para correção do pH, como a calagem, são essenciais para garantir uma boa eficiência do nutriente.

Alternativas ao uso do ácido bórico

Considerando que o ácido bórico é um fertilizante facilmente afetado pelo processo de lixiviação e com potencial para causar efeitos de fitoxicidade com a super dosagem, para compensar as perdas por livixiação, é interessante avaliar outras possíveis fontes de boro, como a ulexita.

A ulexita é um mineral que possui uma liberação gradual do boro, por possuir uma menor solubilidade. Isso garante um insumo menos propício a sofrer mais intensamente os efeitos da lixiviação e ainda manter o boro durante todo o ciclo da lavoura.

Além disso, a menor solubilidade e a liberação gradual trazem outra vantagem quando ela é usada como adubo na manutenção dos níveis de boro do solo: a diminuição dos riscos de toxidez pela superdosagem.

O agricultor deve estar sempre atento a origem do boro presente dos fertilizantes, para garantir escolhas mais assertivas, visando uma melhor eficiência do manejo do boro na lavoura.

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