Comparação Operacional e Econômica: Plantio de Soja em Grandes Áreas com vs. sem Adubação Fosfatada em Linha - comparacao operacional e economica plantio de soja em grandes areas com vs sem adubacao fosfatada em

Comparação Operacional e Econômica: Plantio de Soja em Grandes Áreas com vs. sem Adubação Fosfatada em Linha

Contextualização e Objetivo 

Grandes produtores de soja no Mato Grosso enfrentam o desafio de semear áreas extensas (10, 30 e 50 mil hectares) dentro de janelas curtas (30 a 60 dias). Tradicionalmente, parte do fertilizante fosfatado (como MAP – fosfato monoamônico) é aplicado no sulco durante a semeadura. No entanto, eliminar a adubação fosfatada em linha (optando por distribuição antecipada a lanço ou uso de fertilidade residual do solo) pode acelerar a operação. Este relatório analisa impactos operacionais, econômicos e logísticos de dois cenários: plantio de soja com MAP no sulco (semente + adubo) versus plantio somente com semente (adubação fosfatada fora da semeadura). Avaliam-se diferenças em desempenho de máquinas, necessidade de equipamentos, custos (CAPEX/OPEX) e implicações agronômicas, com dados atualizados até julho de 2025. 

Desempenho Operacional: Plantio com Adubo no Sulco vs. Somente Semente 

Aplicar MAP no sulco durante a semeadura torna a operação mais lenta e com menor autonomia, em comparação a semear somente a semente. Os fatores-chave incluem: tempo de reabastecimento, velocidade de plantio, autonomia de campo e produtividade diária por máquina: 

  • Reabastecimento e Autonomia: No plantio convencional com adubo em linha, a plantadeira deve carregar tanto sementes quanto fertilizante, esgotando um dos insumos mais rapidamente. Por exemplo, se uma dose de 100 kg/ha de MAP for aplicada, um reservatório de 3.000 kg de adubo atende apenas ~30 hectares antes de reabastecer, mesmo que o reservatório de sementes dure para ~100 ha. Isso obriga paradas frequentes para abastecimento de adubo, reduzindo a eficiência operacional[1][2]. Em contraste, sem adubo no sulco, a semeadora precisa parar apenas para reabastecer sementes (menos volumosas), permitindo cobrir mais área continuamente[1]. Estudos confirmam que eliminar o abastecimento de fertilizante aumenta a eficiência operacional da semeadura, semeando a mesma área em menor tempo[2]. Na prática, produtores citam ganhos significativos de autonomia: “abastecimento apenas com sementes, sem adubo durante a operação, permite semear áreas agrícolas em menor tempo[2]. 
  • Velocidade de Operação: O peso extra e a complexidade de distribuir fertilizante podem limitar a velocidade de avanço. Plantadeiras convencionais operam em torno de 6–8 km/h para garantir precisão. Já plantadeiras projetadas para trabalhar sem adubo (muitas de grande porte) podem incorporar tecnologias de alta velocidade de semeadura. Um exemplo é a John Deere DB74 em configuração apenas semente, capaz de operar a 10–12 km/h mantendo precisão, graças ao sistema de distribuição a vácuo (VacuMeter)[3]. Esse modelo atinge até 18 hectares por hora de capacidade operacional em condições ideais[3]. Em comparação, plantadeiras equivalentes aplicando adubo normalmente limitam-se a velocidades menores (tipicamente ~8 km/h), resultando em capacidade em torno de 12 ha/h (estimado). Assim, a ausência de adubo no sulco permite velocidades até ~40% maiores e maior rendimento horário[3][4]. 
  • Produtividade Horária e Diária: A tabela abaixo ilustra o rendimento de plantio de dois modelos reais – um nacional (Stara Absoluta 48) e outro importado (John Deere DB74) – comparando cenários com e sem fertilizante no sulco: 

Plantadeira
(largura & linhas)
Adubo no sulco?Capacidade médiaProdutividade diária (exemplo)
Stara Absoluta 48
(48 linhas × 45 cm ≈ 21,6 m)
Com semente somente (proj. c/ caixa central) ~16 ha/h[5] (a ~7–8 km/h)~160 ha/dia (10 h) ou 240 ha/dia (15 h)
Com semente + MAP (estimado)~12–13 ha/h (paradas p/ adubo)~120–130 ha/dia (10 h)
John Deere DB74
(45–48 linhas × ~50 cm ≈ 22 m)
Somente semente (sem caixa de adubo)até 18 ha/h a 10–12 km/h[3]~180 ha/dia (10 h)[6]; ~>300 ha/dia com >15 h
(Não opera com adubo¹)(n/a – sem opção de adubo)(necessário adubação antecipada)[7]

¹A John Deere DB74 não possui reservatório de fertilizante e requer adubação antecipada a lanço/cobertura[7].

Tabela 1: Desempenho estimado de plantio com e sem adubo no sulco. Valores horários da Stara Absoluta 48 baseados em dados do fabricante (modelo 48-45: ~16 ha/h)[5]. Para a DB74, considera-se velocidade alta (ExactEmerge) atingindo ~18 ha/h sem adubo[3]. Com adubo, estima-se redução de ~20–25% no rendimento por conta de paradas e menor velocidade.

 Conforme a tabela, a presença do fertilizante no sulco reduz significativamente a produtividade. Por exemplo, a Absoluta 48, que pode chegar a ~16 ha/h em média apenas com semente[5], teria sua eficiência reduzida para ~12–13 ha/h com adubo (devido às frequentes paradas e menor agilidade). Essa diferença se amplifica no horizonte diário: uma única máquina pode plantar em torno de +33% hectares a mais por dia sem precisar distribuir adubo no sulco (e maiores ganhos são possíveis se explorada maior velocidade). Essas estimativas estão alinhadas com referências de capacidade de campo: plantadeiras de 23–48 linhas tipicamente cobrem até 18 ha/h, resultando em ~180 ha por dia em 10 horas de trabalho[6]. Em resumo, ao não aplicar MAP na semeadura, cada máquina ganha autonomia e rendimento, cobrindo mais hectares por hora e por dia. 

Dimensionamento de Máquinas para 10, 30 e 50 mil ha (Janelas de 30 e 60 dias) 

A consequência prática das diferenças operacionais aparece no número de conjuntos trator + plantadeira necessários para semear grandes áreas no tempo disponível. A tabela a seguir resume a quantidade de equipamentos requeridos para áreas de 10.000, 30.000 e 50.000 hectares, comparando dois cenários de janela de plantio (30 dias vs. 60 dias) e dois cenários de adubação (com vs. sem MAP no sulco). Os cálculos consideram a produtividade diária típica discutida acima (~120 ha/dia por conjunto com adubo, ~180 ha/dia sem adubo, equivalentes a ~10 h de operação): 

Área total 30 dias c/ adubo30 dias s/ adubo60 dias c/ adubo60 dias s/ adubo
10.000 ha3 conjuntos
(≈3×120= 10.800 ha)
2 conjuntos (≈2x180= 10.800 ha)2 conjuntos (≈2×120 = 14.400 ha)1 conjunto (≈1×180 = 10.800 ha)
30.000 ha9 conjuntos (≈9×120= 32.400 ha)6 conjuntos (≈6×180= 32.400 ha)5 conjuntos (≈5×120 = 36.000 ha)3 conjuntos (≈3×180 = 32.400 ha)
50.000 ha14 conjuntos (≈14×120 = 50.400 ha)10 conjuntos (≈10×180 = 54.000 ha)7 conjuntos (≈7×120 = 50.400 ha)5 conjuntos (≈5×180 = 54.000 ha)

Tabela 2: Estimativa de conjuntos trator+plantadeira necessários para semear a área dentro da janela especificada, em cenários com e sem adubação no sulco. Calculado assumindo ~120 ha/dia por conjunto no sistema tradicional (semente+MAP) e ~180 ha/dia sem MAP (ganho de ~50% conforme desempenho de campo)[3][6]. Valores inteiros representam arredondamento para cima (não se consideram frações de máquinas). 

Análise dos resultados: Sem adubo no sulco, há redução expressiva na quantidade de máquinas necessárias. Por exemplo, para 50 mil ha em 30 dias, estima-se precisar de aprox. 10 conjuntos sem adubo vs. 14 conjuntos com adubo, uma diminuição de ~4 máquinas (redução de ~29%). Para 30 mil ha/30 dias, a diferença é ~6 vs. 9 conjuntos (menos 3 máquinas, ~33% de redução). Mesmo em janelas amplas (60 dias), o benefício persiste: para 50 mil ha/60 dias, ~5 conjuntos bastam sem adubo, ante ~7 conjuntos com adubo. Ressalta-se que esses números visam cobrir a área justamente no prazo; na prática, produtores podem adicionar folga para contingências (clima, quebras), mas de todo modo a estratégia de não adubar no sulco permite cobrir a mesma área com substancialmente menos equipamentos. 

Redução de Maquinário e Ganhos de Eficiência 

Os cálculos acima mostram que grandes grupos agrícolas podem operar com um número significativamente menor de plantadeiras e tratores adotando o plantio sem adubo no sulco. Essa otimização traz diversos ganhos: 

  • Menos Conjuntos Necessários: Em todos os cenários avaliados, a eliminação da adubação em linha reduz a frota de plantio em aproximadamente 1/3. Cada plantadeira consegue semear mais hectares por dia, reduzindo a necessidade de máquinas adicionais para cobrir a área no período ideal. Por exemplo, em 30 mil ha/30 dias, projeções indicam 6 máquinas sem adubo vs. 9 com adubo – isto é, 3 máquinas a menos (redução de 33%). Em 50 mil ha/30 dias, espera-se economizar 4 conjuntos (de 14 para 10). Mesmo em áreas menores (10 mil ha), a diferença pode ser de 1 conjunto a menos (quando a janela é apertada em 30 dias). Essa diminuição na quantidade de máquinas simplifica a logística de campo (menos operadores, menos reabastecimentos simultâneos, menor tráfego de apoio) e libera capital para outros investimentos. 
  • Aproveitamento da Janela Ideal: Com menos máquinas, pode-se concluir o plantio antes do limite da janela, ou seja, ganhar folga de tempo dentro da janela ideal. Alternativamente, produtores poderiam optar por usar o mesmo número de máquinas de antes para cobrir a área em menos dias, abrindo vantagem competitiva (por exemplo, iniciando a segunda safra mais cedo). Em resumo, sem adubo no sulco é possível plantar mais rápido, minimizando riscos de atraso. Vale lembrar que atrasos no plantio da soja em MT podem ter efeitos em cascata – estudos relatam que um atraso de ~4 semanas no plantio da soja compromete o calendário do milho safrinha, reduzindo produtividade pela descoordenação das safras[8]. Portanto, semear toda a área dentro da janela óptima é crítico para evitar perdas, e a estratégia sem adubo ajuda a garantir isso. 

Impacto no Investimento em Máquinas (CAPEX) 

Reduzir o número de tratores e plantadeiras necessários acarreta economia direta em investimentos de capital (CAPEX). Máquinas de grande porte representam um imobilizado elevado. Com base em preços atualizados de meados de 2025: 

  • Tratores de alta potência (>300 cv): Custam na faixa de R$1,3–1,6 milhão cada, dependendo da marca e modelo. Por exemplo, um John Deere 8400R (400 cv) modelo 2022 foi anunciado usado por R$1,45 milhão[9], sugerindo preço próximo ou acima de R$1,5 mi para unidades novas de potência similar em 2025. 
  • Plantadeiras de grande porte (45–48 linhas): Também possuem alto valor unitário, em torno de R$0,8–1,2 milhão. Uma plantadeira John Deere DB74 (48 linhas) seminova de 2018 foi listada por cerca de R$1,10 milhão[10], enquanto unidades um pouco mais antigas (2014–2015) aparecem por ~R$650 mil[11]. Modelos nacionais modernos (Stara, Jumil, etc. de 40+ linhas) também se aproximam da casa do milhão de reais, dependendo dos opcionais. 

Considerando um conjunto trator + plantadeira de alta capacidade valendo aproximadamente R$2,0–2,5 milhões, as reduções de quantidade mencionadas implicam economias substanciais. Por exemplo: 

  • Em uma operação de 50.000 ha/30 dias, economizar 4 conjuntos representa evitar ~R$8–10 milhões em gastos de capital (que seriam necessários se mantido o plantio com adubo). 
  • Numa área de 30.000 ha/30 dias, a redução de 3 conjuntos equivale a poupar cerca de R$6–7,5 milhões em equipamentos. 
  • Mesmo em 10.000 ha/30 dias, eliminar 1 conjunto poupa ~R$2–2,5 milhões. 

Esses valores ilustram o impacto significativo no CAPEX: grandes produtores que migram para o sistema sem adubo no sulco podem reduzir o parque de máquinas e realocar esse capital para outras finalidades (como aquisição de terras, melhorias em armazenagem, etc.), ou simplesmente melhorar a rentabilidade pelo menor custo de amortização de máquinas. Além da compra em si, há efeitos positivos na depreciação e no custo financeiro (juros) associado a financiar menos máquinas. 

Impacto nos Custos Operacionais (OPEX) 

Além do investimento inicial, os custos operacionais de plantio (OPEX) também diminuem sensivelmente ao se operar com menos máquinas e maior eficiência. Os principais componentes avaliados são: combustível, manutenção e mão de obra. 

  • Combustível (Diesel): O diesel é um insumo relevante nas grandes fazendas. Em julho de 2025, o diesel S10 em Mato Grosso tem preço médio em torno de R$6,17 por litro[12]. Tratores de 300–400 cv consumem aproximadamente 30–50 L/h em regime de semeadura direta (dependendo da carga e do terreno). No cenário com adubo, mais máquinas e paradas frequentes (algumas com motor ligado durante abastecimentos) elevam o consumo total de combustível por hectare. Já sem adubo, menos tratores cobrindo a área de forma mais contínua implica menor consumo horário total. Uma estimativa simples: para 50 mil ha em 30 dias com adubo, projetamos ~14 tratores × ~10 h/dia × 30 dias = 4.200 horas-máquina, versus ~10 tratores × 10 h × 30 dias = 3.000 horas sem adubo – ou seja, 1.200 horas de trator a menos. Se cada trator consome ~40 L/h, isso equivale a ~48 mil litros de diesel economizados, cerca de R$300 mil em combustível que deixam de ser gastos em uma única safra. Em termos relativos, o custo de diesel por hectare tende a cair. Por exemplo, se no sistema tradicional fossem gastos ~4 L/ha no processo de semeadura, esse número poderia cair para ~3 L/ha ou menos sem adubar no sulco – uma economia de ~1 L/ha (≈R$6/ha). Em áreas de dezenas de milhares de hectares, o montante é expressivo. 
  • Manutenção e Desgaste: Cada hora de operação de um trator e uma plantadeira resulta em desgaste de peças, revisões, trocas de óleo, etc. Plantar sem MAP reduz tanto o tempo total de utilização da frota (menos horas rodadas, como visto) quanto o esforço mecânico em alguns componentes. A ausência de conjuntos sulcadores de adubo, por exemplo, diminui a carga e o atrito adicional no implemento, reduzindo desgaste de discos/facões de adubo e potenciais quebras nessa seção. Igualmente, menos máquinas significa menos pneus, motores e rolamentos sujeitos a uso – impactando positivamente o custo de manutenção (peças e serviços) ao longo da safra. Embora varie por operação, um trator+plantadeira grande tipicamente tem custo operacional (depreciação + manutenção + combustível) na ordem de R$500–800/hora. Assim, as ~1.200 horas poupadas no exemplo acima poderiam representar R$600 mil a R$1 milhão a menos em custos operacionais totais (incluindo o combustível já destacado). Mesmo considerando apenas manutenção e reparos (excluindo combustível), há economia significativa: menos filtros, menos trocas de óleo, menos peças quebradas ou gastas. Esses gastos evitados contribuem para reduzir o OPEX por hectare no sistema sem adubo. 
  • Mão de Obra: A operação de cada conjunto requer pelo menos um operador de máquinas. Em fazendas desse porte, geralmente os operadores são empregados fixos ou safristas especializados. No Mato Grosso, o salário médio de um operador agrícola fica em torno de R$2.900–3.000 mensais para uma jornada típica[13] (podendo chegar a ~R$4–5 mil com horas extras em períodos de pico). Com menos máquinas, reduz-se a necessidade de pessoal para conduzi-las. Por exemplo, eliminar 4 conjuntos de plantio pode significar 4 operadores a menos durante a semeadura. Se esses operadores trabalhavam dedicados por ~2 meses, seria algo em torno de R$6 mil economizados por operador no período (sem contar encargos) – cerca de R$24 mil no total no exemplo. Em caso de manutenção de equipe fixa anual menor, a economia anual por operador pode chegar a ~R$35–50 mil (salário + encargos). Além do custo direto, há ganhos de gestão: menos operadores para treinar, alojar e supervisionar, simplificando a logística de pessoal. Vale notar que muitas vezes os operadores dispensados em uma atividade podem ser realocados para outras (ex.: pulverizações, colheita) – mas ao menos no período de plantio, a mão de obra pode ser otimizada ou o quadro reduzido. 

Em conjunto, esses fatores indicam um menor custo operacional por hectare no plantio sem adubação fosfatada em linha. Cada hectare é semeado com menos consumo de diesel e desgaste de máquina, além de demandar menos horas-homem. Isso aumenta a eficiência econômica da operação, contribuindo para reduzir o custo de produção da soja. 

Considerações Agronômicas e Logísticas 

Além dos números de máquinas e custos, a decisão de adubar (ou não) no sulco traz vantagens e desvantagens agronômicas e logísticas que devem ser ponderadas: 

  • Disponibilidade Imediata de Nutrientes: A favor da adubação em linha, argumenta-se que o fósforo (P) colocado no sulco, próximo à semente, beneficia as plântulas inicialmente, sobretudo em solos de baixa fertilidade. Em solos pobres em P, a aplicação localizada pode melhorar a nutrição jovem da soja. Por outro lado, muitos solos do Cerrado já passaram por correções e construções de fertilidade ao longo de safras. Em áreas de fertilidade construída ou com níveis adequados de P residual, a resposta da soja à adubação fosfatada no sulco tende a ser pequena. Pesquisas da Embrapa e universidades têm mostrado que, quando o solo já possui fertilidade média/alta, não há diferença significativa de produtividade entre adubar a lanço (antes ou após semear) versus adubar no sulco durante a semeadura, desde que a dose total de nutrientes seja adequada[14][15]. Ou seja, a soja produz praticamente o mesmo se o fósforo for distribuído no solo de outra forma, especialmente em sistema plantio direto consolidado. Exemplo: um estudo com feijão-comum em plantio direto encontrou produtividade de grãos semelhante comparando fertilização a lanço (antes da semeadura) vs. no sulco[14]. Outra pesquisa com milho mostrou que a adubação antecipada a lanço manteve o rendimento de grãos equivalente ao do fertilizante no sulco, com benefício de eficiência operacional[15][1]. Isso sugere que, do ponto de vista agronômico, é viável suprimir o MAP no sulco sem prejuízo de produtividade, desde que se assegure a nutrição por outras vias (solo já corrigido ou aplicação a lanço/cobertura no momento adequado). 
  • Condições de Solo e Nutrientes Imóveis: Deve-se considerar o tipo de solo e nutriente. O fósforo é pouco móvel no solo; se aplicado superficialmente a lanço em sistema sem revolvimento, ele tende a ficar nas camadas superficiais ao longo do tempo. Em sistemas de longo prazo, isso não é necessariamente um problema, pois as raízes explorarão a superfície (a palhada e a biologia ajudam a reciclar P). Contudo, em solos muito arenosos ou situações de baixa CTC, há recomendações de manejar a adubação com cuidado. Especialistas sugerem que em solos arenosos, pode ser prudente realizar a adubação imediatamente antes ou durante a semeadura, e complementar com cobertura depois de 30-40 dias[16]. Nesses casos (areia, alta lixiviação), a adubação no sulco ou incorporada pode ser vantajosa para evitar perdas. Já em solos argilosos típicos do MT, a aplicação a lanço de fósforo (especialmente se feita com alguma antecedência e seguida do plantio direto com boa cobertura) tem se mostrado eficiente e com distribuição homogênea. 
  • Operações Separadas vs. Simultâneas: Logisticamente, retirar o adubo da plantadeira significa que a adubação fosfatada deve ser feita em operação separada. Muitos grandes produtores optam por realizar a adubação a lanço logo antes do plantio ou até mesmo durante a semeadura, em paralelo, usando distribuidores em outros tratores ou caminhões. A técnica de adubação antecipada a lanço tem se tornado comum exatamente para ganhar tempo: ela “economiza tempo e dinheiro, tornando o processo de semeadura mais ágil”, nas palavras de especialistas, pois permite aplicar fertilizante em faixas de até 36 m de largura antes da semeadura[17][18]. Em estados como Mato Grosso, essa abordagem é recomendada para otimizar a janela de plantio[17]. Assim, a distribuição de MAP a lanço (com equipamento apropriado) dias ou semanas antes de plantar deixa o solo “munido” de nutrientes e libera as plantadeiras para focarem apenas em depositar sementes[18]. Vantagem logística: a aplicação a lanço é rápida – um distribuidor em autopropelido ou truck pode cobrir centenas de hectares por dia devido à faixa larga (20–36 m) e alta velocidade. Portanto, mesmo que seja uma operação a mais, ela não compromete o calendário e exige pouca mão de obra adicional. Além disso, elimina-se o transporte contínuo de big bags ou granel de fertilizante até cada plantadeira durante o plantio, o que simplifica a logística diária na lavoura (menos caminhões basculantes e guinchos trabalhando ao lado das semeadoras). 
  • Complexidade e Falhas: Uma plantadeira carregando e dosando fertilizante é um implemento mais complexo – há linhas de adubo, dosadores adicionais, tubulações – o que aumenta pontos de falha potencial (entupimentos, quebras de eixo dosador, corrosão por adubo, etc.). Retirar esse componente simplifica o maquinário, reduzindo possíveis paradas por manutenção corretiva no momento crítico do plantio. A logística de abastecimento também fica mais fácil: apenas sementes (e inoculantes, etc.) precisam ser abastecidas nas máquinas, o que é mais rápido do que manusear toneladas de adubo a granel no campo. Operadores podem se concentrar no monitoramento de distribuição de sementes e qualidade de plantio, sem se preocupar com duas dosagens simultâneas na máquina. Em contrapartida, deve-se planejar bem a logística de adubação externa – garantir que os distribuidores a lanço apliquem o MAP uniformemente e na dose correta na área inteira antes ou durante a semeadura. Isso requer coordenação, mas é rotineiro nas fazendas modernas. 
  • Janela de Plantio e Segunda Safra: A maior vantagem estratégica de não adubar no sulco é o ganho de velocidade, permitindo semear dentro da melhor janela climática. No Centro-Oeste, a data de plantio da soja afeta diretamente o potencial de produtividade e também o ciclo da segunda safra (milho ou algodão). Atrasos no plantio da soja – seja por chuvas irregulares ou por lentidão operacional – podem levar parte da lavoura a ser semeada fora da “janela de ouro”, resultando em queda de produtividade. Estimativas indicam que cada dia de atraso (após a janela ótima) pode reduzir a produtividade potencial, além de expor a soja a condições subótimas no enchimento de grãos[19]. Mais crítico ainda, em muitas áreas de MT, plantar soja tarde implica colher tarde, empurrando o milho safrinha para fora do período ideal. Um plantio de milho em março, por exemplo, pega menos chuvas e maior risco de seca e geada, reduzindo drasticamente a produtividade do milho. Conforme noticiado, o plantio de soja atrasado ~20 dias em MT levou a colheita concentrada em fevereiro e atraso do milho, com alta probabilidade de quebra na safrinha caso as chuvas não se estendam além do normal[8][20]. Portanto, qualquer tecnologia que permita aproveitar melhor a janela de plantio da soja diminui riscos agrícolas e financeiros consideráveis. Ao eliminar o adubo no sulco, grandes grupos conseguem plantar toda a área mais cedo dentro da temporada chuvosa, evitando perdas potenciais de produtividade tanto na soja quanto no milho de segunda safra. 
  • Impacto na Produtividade por Data de Semeio: Diversos trabalhos regionais documentam a relação entre época de plantio e produtividade. De modo geral, plantios realizados no início da janela recomendada resultam em maiores produtividades, dado que as fases críticas da cultura coincidem com condições climáticas mais favoráveis (chuvas bem distribuídas, fotoperíodo adequado). Quando o plantio se estende além do ideal, há relatos de reduções no rendimento. Produtores e instituições no MT alertam que a soja semeada com atraso significativa pode sofrer com encurtamento do ciclo, floração sob stress hídrico e maior pressão de pragas e doenças no final do ciclo[21][22]. Embora o impacto exato por dia varie, o consenso é que plantar na época certa é um dos fatores mais importantes para atingir altas produtividades. Assim, uma operação de semeadura mais ágil – possível com a retirada do adubo – contribui indiretamente para maximizar o potencial produtivo da lavoura, ao garantir que quase 100% da área seja estabelecida dentro do período ótimo de plantio. 

Desvantagens e Cuidados: É importante frisar que a estratégia de não adubar na linha exige planejamento agronômico. Não se trata de deixar de aplicar o nutriente, mas sim de aplicá-lo de outra forma. O produtor deve assegurar que o fósforo (e outros nutrientes, como potássio, comumente aplicados junto) sejam supridos via adubação a lanço pré-semeadura, adubação de base incorporada antes do plantio (em preparo de solo, se for o caso) ou por meio da fertilidade natural do solo construída em safras anteriores. Além disso, em situações de solo muito ácido ou muito deficiente, a aplicação localizada no sulco pode ter efeito corretivo localizado (ex.: fósforo concentrado na raiz) – nesses casos extremos, abrir mão totalmente da adubação de plantio sem uma correção prévia adequada do solo poderia limitar o arranque inicial das plantas. Porém, para a maioria das grandes fazendas tecnificadas do Cerrado, esses problemas são minimizados por programas contínuos de calagem, gessagem e adubação de sistema. Outro ponto: ao não usar adubo na semeadora, deve-se monitorar possíveis estratificações de nutrientes ao longo do tempo no sistema plantio direto (já mencionado no caso do P – tendência de concentração superficial). Algumas fazendas eventualmente realizam um revolvimento leve periódico ou cultivo de cobertura com raízes agressivas para ajudar a redistribuir nutrientes no perfil. 

Conclusão 

A comparação entre os dois sistemas deixa claro que a supressão da adubação fosfatada em linha durante o plantio da soja traz importantes benefícios operacionais, econômicos e logísticos para grandes propriedades no Mato Grosso, sem prejudicar o desempenho agronômico da lavoura quando bem manejado. No aspecto operacional, semear apenas a semente aumenta a autonomia das plantadeiras, permite maior velocidade e reduz paradas – cada máquina cobre mais hectares por dia[3][6]. Como consequência, para semear a mesma área na mesma janela, são necessárias menos máquinas, o que simplifica a operação e libera recursos. Do ponto de vista econômico, a redução de 20–30% no número de conjuntos trator-plantadeira se traduz em milhões de reais poupados em CAPEX (investimento em equipamentos) e também em redução de OPEX (menos diesel, manutenção e pessoal por hectare)[9][10][12]. Tudo isso contribui para baixar o custo de produção e aumentar a eficiência do negócio. Em termos agronômicos, contanto que o manejo de fertilidade do solo seja adequado, não há penalização de produtividade – ao contrário, a estratégia auxilia em colocar a lavoura no campo na época certa, o que é fundamental para atingir altas produtividades e viabilizar uma safrinha dentro do calendário ideal[8][14]. 

Por outro lado, implementar o plantio sem adubo no sulco requer boa coordenação logística de adubação antecipada e monitoramento da fertilidade a longo prazo. Em situações específicas (solos arenosos, baixos teores de P disponível), pode ser necessário combinar abordagens ou fazer a mudança gradualmente por talhões piloto. Também é recomendável avaliar a capacidade dos equipamentos de distribuição a lanço disponíveis na fazenda para garantir aplicação uniforme do MAP fora do plantio. 

Em suma, para grupos agrícolas que operam dezenas de milhares de hectares, os ganhos em eficiência e tempestividade proporcionados pelo plantio somente com sementes são consideráveis. Essa abordagem possibilita semear grandes áreas dentro da estreita janela climática do Centro-Oeste com menos máquinas e menor custo, aumentando a competitividade e reduzindo riscos. Conforme ressaltado por especialistas, “tempo é sinônimo de dinheiro” na agricultura[17] – e a otimização do plantio eliminando operações desnecessárias é um exemplo claro de inovação de processo que gera valor. As evidências até julho de 2025 indicam que, mantendo boas práticas agronômicas, a semeadura da soja sem adubação fosfatada no sulco é uma estratégia viável e vantajosa para grandes propriedades, alinhando ganhos operacionais a resultados produtivos sustentáveis. 

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