Dos 17 elementos essenciais retirados pelas plantas da natureza, mais da metade deles, incluindo o boro, são obtidos a partir do solo. Por isso, o estudo da dinâmica dos nutrientes no solo é tão importante quando pensamos na nutrição das plantas. Entenda, a seguir, sobre como funciona a dinâmica do boro no solo e como esse conhecimento pode auxiliar o agricultor no manejo desse micronutriente na sua lavoura!
Onde se encontra o boro na natureza?
Quase a totalidade do boro obtido pelas plantas na natureza durante o seu ciclo de vida é obtida a partir do solo, um dos ecossistemas mais biodiversos e dinâmicos do planeta.
Nesse ambiente dinâmico e cheio de vida, os diferentes “reservatórios de boro” do solo estão constantemente estabelecendo e rompendo interações com os demais componentes do solo. E isso faz com que cada um deles tenha diferentes níveis de disponibilidade para as plantas.
Os “reservatórios de boro” considerados como indisponíveis pelas plantas contemplam, em sua grande parte, os minerais silicatados primários dos quais o boro participa como componente estrutural.
Essa fração do boro retido nos minerais silicatados primários pode chegar a representar mais de 70% do boro total encontrado no solo e só consegue ser liberada após longos processos de intemperismo de formação dos solos.
É o que observaram F. F. Ferreyra e F. R. Silva, no artigo Frações de boro e índices de disponibilidade em solos do estado do Ceará.
Além da fração mineral do solo, o boro também pode ser encontrado adsorvido na superfície das partículas do solo.
O boro adsorvido na superfície das partículas do solo é considerado o “reservatório” do solo mais disponível para as plantas, uma vez que nessa condição os nutrientes se encontram apenas associados temporariamente a outros componentes do solo.
De forma geral, a quantidade de boro que um solo pode adsorver depende:
- Da concentração da solução em equilíbrio;
- Do tempo de contato do boro com as partículas do solo;
- Da textura, pH, do teor de matéria orgânica e da composição mineralógica do solo.
E esse processo de adsorção pode haver uma maior ou menor força dependendo do componente ao qual o boro está associado.
Os argilominerais e os hidróxidos de alumínio e ferro, por exemplo, apresentam um alto poder de adsorção do boro e podem dificultar o acesso das plantas a esse micronutriente essencial. Tal condição é comum em solos não corrigidos e de textura mais fina.
No artigo Aplicação de boro no solo e respostas do cafeeiro, por exemplo, Antônio E. Correa e outros pesquisadores observaram que o total de boro adsorvido em um Latossolo Roxo distrófico com 75% de argila mais que dobrou, quando comparado a um Latossolo Vermelho-Escuro distrófico com 11% de argila.
Entretanto, a condição inversa pode ocorrer, caso os solos apresentem uma textura mais grosseira e baixos teores de argilominerais, matéria orgânica e outros compostos adsorventes.
Como o boro normalmente é encontrado no solo na sua forma aniônica ou sem carga específica, esse micronutriente se torna muito móvel no solo e pode ser facilmente carregado para as camadas mais profundas do solo pelo processo de lixiviação em áreas irrigadas ou que recebem grandes regimes de chuva durante o ano.
No capítulo Factors affecting boron uptake by plants do livro Boron and its role in crop production, o autor Umesh C. Gupta destacou que as perdas de boro no solo por lixiviação podem alcançar 85% do boro aplicado em solos arenosos sob irrigação.
Dessa forma, é sempre importante considerar a dinâmica de boro no solo antes de pensar em fazer o manejo desse micronutriente no campo.
Como usar o boro na agricultura?
Como vimos anteriormente, a disponibilidade do boro no solo depende das interações que esse nutriente estabelece com os componentes do solo que, por sua vez, podem facilitar ou não o acesso das plantas a esse nutriente.
Por isso, é preciso que o agricultor tenha em mente algumas estratégias que podem modificar essas interações a fim de melhorar a disponibilidade desse micronutriente para as diferentes culturas agrícolas.
Uma das interações que podem ser modificadas é a aquela estabelecida entre o boro e seus compostos adsorventes, especialmente aqueles reconhecidos por ter alto poder adsorvente, como os hidróxidos de alumínio e ferro.
Para isso, o agricultor deve sempre incluir em seu manejo o uso racional de corretivos de solo para neutralizar esses compostos e reduzir a retenção indesejada do boro no solo.
Contudo, é importante ressaltar que alguns compostos adsorventes de boro, como a matéria orgânica, são desejados no solo.
A matéria orgânica, além de ser uma importante fonte natural de boro para as plantas, é capaz de melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo e ainda favorecer a retenção de outros nutrientes com alta mobilidade no solo, como o potássio.
A matéria orgânica é um fator determinante quando pensamos na qualidade do solo.
Já nos casos em que a condição é inversa, ou seja, quando o solo tem uma baixa capacidade de reter temporariamente o boro no solo, o agricultor deve considerar estratégias que minimizem as perdas desse nutriente por lixiviação.
Algumas dessas estratégias incluem incrementar o teor de matéria orgânica do solo, assim como escolher fertilizantes de liberação progressiva e com longo efeito residual.
Dessa forma, podemos perceber que o manejo eficiente do boro no solo envolve o uso de diferentes estratégias para melhorar a disponibilidade desse nutriente para as plantas.
A dinâmica do boro no solo deve ser considerada para fazer o manejo adequado
Em resumo, a dinâmica do boro no solo pode interferir em diversos aspectos que influenciam a disponibilidade desse micronutriente para as plantas.
Por isso, ela deve sempre ser considerada no momento da escolha das melhores estratégias para fazer o manejo eficiente do boro no solo. Estratégias essas que incluem:
- O uso racional de corretivos de solo;
- O incremento dos teores de matéria orgânica do solo;
- A escolha de fontes de boro adequadas para as plantas.
Assim, ao usar essas estratégias, o agricultor estará favorecendo a maior disponibilidade de boro para as plantas que, por sua vez, poderá se refletir na melhor produção e qualidade das lavouras!
